O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) está em meio à sua jornada de lutas, que tem em abril um mês central. No Abril Vermelho deste ano, além das ocupações em todo o estado, o movimento está organizando um grande ato nas ruas da capital pernambucana. O plano do MST é, na próxima terça-feira (15), colocar ao menos 5 mil sem terras para marchar em direção ao Palácio do Campo das Princesas, para pressionar a governadora Raquel Lyra (PSD) por políticas para a reforma agrária no estado.
Na agenda do movimento, a atividade começa com um grande café da manhã na Praça da Chesf, nos Torrões, zona oeste do Recife. Em seguida, os trabalhadores rurais marcham por quase seis quilômetros até a sede regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), do governo federal. O movimento tem feito críticas públicas à lentidão e dificuldades técnicas do órgão para avançar na distribuição de terras.
Do Incra, o MST segue para um trecho mais curto, de dois quilômetros até a Praça do Derby, no bairro de mesmo nome, no centro do Recife. Lá os sem terra aguardam a chegada de militantes de outros movimentos populares aliados, além da população que simpatiza com a luta do MST. E, entre o início e o meio da tarde, finalmente o grupo marcha por mais quase três quilômetros até o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco.
No ato de lançamento da marcha, na noite desta terça-feira (8), o dirigente nacional do movimento Jaime Amorim avaliou que o governo estadual vive uma inércia no que diz respeito às políticas para a população do campo. “A governadora ainda não lançou sequer o edital para comprar dos pequenos agricultores a alimentação escolar. O que você vê acontecendo em Pernambuco é fruto de verba federal”, criticou.
Leia: Após um ano e meio de pressão dos movimentos, Incra recria superintendência regional em Petrolina
Trabalhadores rurais vivem dias de terror na zona da mata sul de Pernambuco
Ele explica que o objetivo do movimento, com essa caminhada, é provocar o debate e responder a questões como por que e para que é importante a reforma agrária e por que é importante a existência do Movimento Sem Terra (MST). Jaime também demonstra preocupação com o avanço da extrema direita em Pernambuco. “A tendência é a violência no campo e a perseguição aos movimentos sociais aumentarem”, alertou. Em 2024, Jaime classificou como “irresponsável” o tratamento dado pelo governo Lula às pautas relativas à reforma agrária.
O encontro aconteceu no sindicato dos Bancários e contou com a participação de quatro deputados estaduais, uma vereadora e dezenas de sindicalistas, dirigentes políticos e militantes simpáticos às causas defendidas pelo movimento.
Estavam presentes o deputado estadual e presidente do PT em Pernambuco, Doriel Barros; o deputado estadual e ex-prefeito do Recife, João Paulo (PT); e deputada estadual e filha do MST, Rosa Amorim (PT); a deputada estadual Dani Portela (Psol); a vereadora de Olinda Eugênia Lima (PT), além de dirigentes de sindicatos, organizações da sociedade civil.
A deputada sem terra Rosa Amorim endossou a preocupação de Jaime Amorim quanto ao avanço das forças reacionárias, citando a adesão de políticos e latifundiários pernambucanos ao movimento Invasão Zero, que defende abertamente o assassinato de pessoas que “invadirem propriedades”. “O compromisso do MST é produzir alimento saudável para tirar o povo brasileiro e pernambucano da miséria”, afirmou a parlamentar.
Para ela, a luta contra a criminalização das organizações populares é pauta central no atual momento político. “Eles não têm dó de chegarem armados e atirando contra nossos valorosos companheiros de luta”, bradou a deputada petista, que horas antes vira o MST e ela própria serem atacados por colegas da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). “Além da pressão política que faremos, esse ato será um momento para nos animar, nos energizar para as próximas lutas”, disse.
Leia também: MST ocupa terras de usina de cana condenada por assassinato de trabalhador grevista, em Goiana (PE)
Famílias do MST ocupam latifúndios em Petrolina (PE), na Paraíba e Rio Grande do Norte
João Paulo (PT) discursou sobre a importância de os movimentos populares e partidos políticos darem centralidade às pautas que fazem avançar a luta de classes e com capacidade de alterar profundamente a realidade do povo brasileiro. “Tenho 50 anos de militância, e o MST é um exemplo de organização que forma novos quadros e se mantém fiel às suas bandeiras revolucionárias”, elogiou o ex-prefeito.
O Brasil de Fato entrou em contato com a Secretaria de Desenvolvimento Agrário, Agricultura, Pecuária e Pesca de Pernambuco, liderada por Cícero Moraes, mas até o momento não tivemos retorno. Tão logo sejamos respondidos, adicionaremos à matéria. Também fizemos contato com a Superintendência Regional do Incra em Pernambuco e seguimos aguardando a resposta.
Abril Vermelho
Entre a noite do dia 4 de abril e a manhã do dia 9, o MST já realizou 13 ocupações em Pernambuco. Foram ocupadas terras da Usina Santa Teresa (em Goiana) e da Usina Nossa Senhora do Carmo (em Pombos), ambas na Zona da Mata; já no Agreste, o movimento ocupou terras da Fazenda Brasil (em Gravatá), Fazenda Barra do Ribeira (em Águas Belas), Fazenda Mandioca (em Altinho) e terras do governo do estado (em Limoeiro).
Leia: Entenda por que quando o MST faz uma ocupação não é o mesmo que invasão
No Sertão pernambucano foram ocupadas a Fazenda Primavera (em Floresta), Fazenda Boi Caju 2 (em Tacaratu), Fazenda Galdino (em Riacho das Almas) e antigas terras da empresa CopaFruit (em Petrolina). Juntas, estas ocupações reúnem mais de 3,6 mil famílias de trabalhadores rurais sem terra. Em Pernambuco, o MST tem em sua base cerca de 16 mil famílias acampadas aguardando a regularização das terras.