Movimento populares, sindicais e estudantis realizaram, na noite desta quinta-feira (10), o lançamento do Plebiscito Popular 2025, que será realizado em setembro. A proposta é que a população vote sobre o fim da escala 6×1, a redução da jornada de trabalho sem corte salarial e a taxação dos super-ricos, com a tributação sobre quem ganha mais de R$ 50 mil, garantindo que quem recebe até R$ 5 mil seja isento de Imposto de Renda (IR).
O evento, realizado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da Universidade de São Paulo (USP), no centro da capital paulista, começou com uma apresentação de jovens do Levante Popular da Juventude, que chamaram a atenção para as dificuldades impostas pela escala 6×1 sobre a vida dos trabalhadores.
“Se a minha mãe saísse no domingo, eu não a via quase o mês inteiro. Ela trabalhava à noite, eu saía do trabalho 22h20 e entrava 14h20″, contou Vi Nunes Alcântara, 25, integrante do Levante, que compartilhou parte da sua experiência de trabalhar em um shopping com folga apenas um domingo por mês.
Experiências como a de Alcântara ressaltam a relevância dos temas para a saúde e a dignidade da população. “Precisamos lutar por instrumentos de política econômica que possam elevar o grau de justiça na sociedade para que possamos ter paz dentro de cada país e entre os países”, afirmou o deputado estadual e ex-senador Eduardo Suplicy (PT-SP), em entrevista ao Brasil de Fato. Presente na convenção, ele avaliou a mobilização como um passo importante rumo à construção de uma sociedade mais justa e solidária. “Então, precisamos pensar em quais são aqueles instrumentos que signifiquem a melhor qualidade de vida para a população.”

A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Manuela Mirella, reforçou que estudantes também compõem a classe trabalhadora e que a juventude terá papel essencial na mobilização. “O nosso papel aqui no plebiscito é lutar para dar dignidade ao povo trabalhador, inclusive nós estudantes, que também fazemos parte dessa parcela de trabalhadoras e trabalhadoras”, afirmou. “Queremos rodar os quatro cantos do nosso país com formação, levando informação, combatendo fake news e os ataques da extrema direita.” Para ela, é importante que todos consigam entender as pautas discutidas.
Para Simone Nascimento, do Movimento Negro Unificado (MNU), o plebiscito tem potencial de adesão por tratar de temas centrais para a vida da classe trabalhadora. “Nós vamos avançar até a urna abrir e a podermos ouvir o que a população vai dizer, o que o povo que vai dizer. Tem sido um processo que está frutificando e eu tenho certeza que vamos avançar mais”, disse.
Ela destaca que o processo de construção da proposta está fortalecendo a unidade entre os movimentos populares. “Hoje é um momento simbólico importante, mas vamos sair daqui construindo com os estados para que esse processo siga em cada ponto do país.”
Em seu relato, Alcântara reforçou a importância de se debater o fim da escala 6×1 sem o aumento da jornada de trabalho. Ela conta que, quando a escala no shopping mudou para 5×2, a carga horária diária aumentou: passou a cumprir as mesmas 42 horas semanais em turnos de até 12 horas, com deslocamento a pé por falta de vale-transporte. “Esses dois dias de folga parecem ser muito, mas no final é só um dia a mais para descansar do cansaço de todo dia”, observou. Hoje, Alcântara atua como freelancer em um bar e atua na organização do Levante: “A luta me dá uma luz muito grande.”
Resposta ao avanço da extrema direita
Militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Igor Felipe destacou que o Plebiscito Popular 2025 é a principal iniciativa unificada das forças progressistas neste ano. “Estamos dando a largada num processo de organização, mobilização e batalha de ideias”, afirmou. Para ele, o momento exige engajamento ativo dos movimentos populares, diante de um cenário político adverso à classe trabalhadora. “Temos um Congresso dominado por parlamentares de direita, um sistema pressionado pelo capital e pela extrema direita.”
Segundo Felipe, o plebiscito se estrutura em três grandes fases: a construção organizativa em cada bairro, escola, universidade e local de trabalho; a coleta de votos da população sobre os três temas centrais; e, por fim, a entrega dos resultados em Brasília às lideranças dos Três Poderes. “Vamos falar: ‘Aqui está o resultado da soberania popular, da vontade de milhões de pessoas e nós queremos que o governo e o Congresso e o Poder Judiciário atuem para que esses projetos sejam aprovados'”, projeta.
Ele relembrou que o instrumento do plebiscito popular já foi utilizado em momentos estratégicos, como nas campanhas contra a adesão à Alca e pela reestatização da Vale. Agora, ele vê a volta desse tipo de mobilização como uma nova etapa da luta por soberania e justiça social. “Há muito tempo que nós não conseguimos uma unidade em torno de bandeiras concretas que dialogam com a vida da classe trabalhadora brasileira”, avalia.
O evento marca o início de uma campanha nacional de consulta popular que deve se espalhar por todo o Brasil nos próximos meses, com ações nas ruas, formações e diálogo direto com a população sobre as propostas em debate.