O Playball, empresa conhecida por ter o maior complexo de quadras de futebol society de São Paulo (SP), mantém uma fábrica irregular de grama sintética em um galpão que está inserido em uma área tombado como patrimônio da cidade de São Paulo pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), órgão vinculado a Prefeitura da capital paulista.
A fábrica, flagrada com exclusividade pelo Brasil de Fato, fica dentro de um galpão na avenida Teresa Cristina, no bairro do Ipiranga, zona sul de São Paulo. A área é tombada desde junho de 2007 pelo Conpresp e, conforme os artigos 37 e 137 da Lei Municipal nº 16.402/2016, para instalar a indústria, o Playball deveria ter uma licença ambiental fornecida pelo Departamento de Controle da Qualidade Ambiental (DECONT), subordinado a Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA).
Consultada, a pasta confirmou que o imóvel não possui a documentação necessária para produzir grama sintética. “A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente informa que o local não tem licença ambiental para funcionamento da indústria de plástico citada. Uma equipe técnica será enviada ao endereço para fiscalizar as atividades no local e tomar as medidas cabíveis”, informou a pasta.
A fabricação da grama pode ser feita com polietileno ou polipropileno na confecção das fibras plásticas, que são misturados com grânulos de borracha, muitas vezes reciclada de pneus usados. Os materiais são considerados altamente poluentes. Por isso, a empresa deveria ter outra licença ambiental emitida pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), que no entanto também não foi adquirida, de acordo com levantamento feito pelo Brasil de Fato no site do órgão.



A função social do imóvel da avenida Teresa Cristina é registrada na Secretaria da Fazenda como “Armazéns gerais e depósitos”, mas não foram encontradas licenças para essa atividade. Ainda que as tivesse, o Playball estaria autorizado para estocar qualquer tipo de produto, mas não fabricá-lo.
O imóvel possui uma dívida ativa de R$ 3,1 milhões de Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) com a Prefeitura de São Paulo.
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Questionados pela reportagem, vizinhos do galpão que preferiram não se identificar afirmaram que é “impossível não saber da fábrica”, pois “há muito barulho das máquinas durante a noite”. Ainda de acordo com os moradores, há movimento de caçambas na madrugada e isso teria sido comunicado à Subprefeitura do Ipiranga.
Consultada pela reportagem, a Subprefeitura do Ipiranga não respondeu se recebeu as denúncias e se há registro de fiscalização ou multas aplicadas no imóvel do Playball. O espaço segue aberto.
O Brasil de Fato esteve dentro do imóvel no dia 2 de abril e flagrou as máquinas funcionando, por trás de um muro formado por tapumes, mas com buracos que permitem visualizar a fábrica (ver vídeo e fotos). Durante 20 minutos dentro do galpão do Playball, foi possível notar trabalhadores se movimentando entre rolos de grama e equipamentos que produziam a grama sintética.
Na imagem abaixo, é possível ver os tapumes que cercam as quadras de futebol e os rolos de grama empilhados na parte de cima.

Nabil Bonduki (PT), vereador e urbanista, defendeu que o imóvel seja lacrado pelo governo municipal. “Evidentemente está irregular, não por ser uma fábrica num imóvel tombado, mas por não ter as licenças para produzir grama e ter uma fábrica nesse lugar. A Prefeitura deveria interditar essa fábrica. É evidente a irregularidade.”
“A Prefeitura não tem argumento para não interditar, já deveria ter interditado essa foto. Evidentemente, o fato está identificado e registrado, não cabe outra atitude, tem que interditar”, finalizou o vereador.
Em seu site, o Playball informa que produz “pelos menos 30.000 m² ao mês entre grama esportiva e decorativa, sendo que a meta são 200.000 m² por mês”. No entanto, a empresa não informa o endereço da fábrica.
Outro lado
O Brasil de Fato tentou contato com o Playball durante quatro dias, mas não obteve retorno em nenhum dos telefones ou e-mail de contato disponibilizados pela empresa. No site, a reportagem enviou uma mensagem, pedindo um retorno dos responsáveis pelo espaço, mas não houve resposta.
Por telefone, o Brasil de Fato falou com duas funcionárias do grupo, que responderam por WhatsApp, mas não houve nenhum posicionamento oficial da marca. O espaço segue aberto para a manifestação do Playball. Caso ocorra, o texto será atualizado.
Quem é
“Playball” é o nome fantasia da Playball Indústria Plástica e Tapeçaria Ltda, que tem sua sede registrada na avenida Teresa Cristina. A empresa pertence a Marcus Abrão Pedro, que é o proprietário também da Sport Center Lanchonete e Empreendimentos Esportivos Ltda, que fica no mesmo endereço. É o CNPJ para qual os clientes pagam o aluguel das quadras.
Além das duas empresas, Marcus Abrão também é dono da RJ Empreendimentos Ltda, com sede na rua Padre Chico, em Perdizes, zona oeste de São Paulo; e a Playball Construções Ltda, cujo endereço comercial está na avenida Nicolas Boer, na Barra Funda, também zona oeste da capital paulista.
Em seu site, o Playball afirma que é o maior complexo de quadras de futebol de São Paulo. São 21 campos de grama sintéticas distribuídos em duas unidades, no Ipiranga e na Barra Funda, zona oeste de São Paulo.