A fotógrafax, ARTivistax feminiStax, escritorax, poeta e colunista do Brasil de Fato RS mariam pessah (com letras minúsculas mesmo, como ela assina) lança seu sétimo livro nesta sexta-feira (11), às 18h45, no Maria, Maria Espaço Cultural, no Centro Histórico de Porto Alegre (RS). O evento inicia com um bate-papo com ax autorax e a editora da Libretos Clô Barcellos. Logo após, acontecem os autógrafos.
Em A saliva que umedece, poemariam – um tratado sobre línguas (Libretos Editora), mariam questiona e derruba, ao longo de 128 páginas, 21 capítulos (escritos em versos) e um pós-escrito, os preceitos “dados por uma sociedade heteronormativa”, de forma clara, evidente e propositiva.

Em uma tênue narrativa, a obra surge em forma expressiva não usual. Enquanto pergunta, provoca, desenvolve conceitos e, logo ali a seguir, os destrói, como faria uma autêntica anarquista. Apresenta e evolui um misto de reflexões, comentários e devaneios, em uma proposta visual característica em seus trabalhos.
mariam pessah afirma que busca, ao escrever, a independência. “Estar em trânsito, não ser enquadrada em um escaninho, que somente viria a limitar minhas possibilidades tanto na maneira de ser, viver ou escrever.”
O ponto de vista da escritorax é o de uma pessoa lésbica, “feminiSTa, mas não feminina”, que começa a abrir os olhos para a não binariedade em um mundo que “se entende dentro de binómios. Isto ou aquilo”. Para ax autorax, a não binariedade vai além do tema sexo/gênero.

O trabalho com as palavras no espaço da página, em diferentes espaçamento e tamanhos, proporciona uma orientação para a leitura, dando direção de áudio e colocação no espaço. Se está perto, longe, sussurrando ou gritando. Trata-se de uma leitura em três dimensões, como em um palco. A direção de arte na “partitura” em que se torna o livro é de mariam pessah.
A editora Clô Barcellos salienta a rica experiência de trabalhar com essa linguagem singular. “Durante o processo, fomos absorvendo estas ideias e outras, como o uso de diferentes idiomas, complementando a proposta de identidade libertária. Assim, tivemos de derrubar algumas barreiras imaginárias aqui dentro da editora, no trabalho de construção do livro e na revisão, e aprender que os limites são mesmo imaginários. Criados para cercear e dominar. A língua. O corpo. Os lugares”, ressalta.
A origem do título é uma variação do verso A saliva que umedece a língua, em As Guerrilheiras, de Monique Wittig. A partir desta frase, mariam “foi brincando e norteando os poemas”. Da linguagem não binárie “para além da letra E”, evita os marcadores de um gênero não definido. A proposta é mais do que uma regra não binárie: ela/elu/elax/elae. A obra de mariam acolhe a experimentação de diferentes formas de grafar, “habitar e desabitar as palavras e ir provando (e dançando) em qual dos pronomes e grafias a eu lírica vai se sentindo confortável”, explica a autorax.
Conforme observa Cris Judar, escritore, jornalista e doutorande em Literatura/USP, no texto de orelha, “na prática artística da desobediência-civil, de gênero, entre as outras tantas praticadas neste livro – que parte do olhar mais íntimo, até chegar à externalização via palavra escrita, mariam pessah compartilha conosco suas jornadas de entendimento e de dilapidação do cotidiano e da vida”, assina.
A linguagem expansiva de A saliva que umedece exibe a essência dinâmica, múltipla, mutável da vivência não binárie ao explorar os limites da palavra e da militância em sua poética em trânsito, na qual conteúdo e forma mostram-se profundamente interligados. O livro se insere como prova cabal de que a escrita pode ser espaço para que a língua, solta e livre de inibições, deslize e exceda a si mesma, às coisas e às realidades que representa. O resultado é uma obra de referência que aponta para o impensado, o impossível, o improvável, o não-usual, o invisível.
mariam pessah
Nasce em Buenos Aires (AR), em 1968, e chega em 2001 a Porto Alegre (RS). Fotógrafax, ARTivistax feminiStax, escritorax e poeta. É ativista lésbika feminiSta desde 1990. Tem seis livros publicados entre poesia, romance e ensaios. Além de participações em coletâneas e revistas de Abya Yala/ Nossa América. Desde 2017 organiza na capital do RS o Sarau das minas. Escreve em brasileirês e mantém uma coluna na revista Brasil de Fato RS.
Serviço
Lançamento do livro A saliva que umedece, poemariam – um tratado sobre línguas (Libretos Editora)
Data: sexta-feira (11)
Hora: 18h45
Local: Maria, Maria Espaço Cultural (Rua Fernando Machado, 464 – Centro Histórico)
Preço da obra: R$ 55
