Durante os dias de realização do South Summit Brazil 2025 em Porto Alegre (RS), integrantes da ONG Ser Ação Ativismo Ambiental organizaram uma manifestação nas imediações do Cais Mauá para denunciar o que consideram as contradições do evento. O grupo protestou contra o uso de recursos públicos em um evento de caráter privado, com ingressos que chegavam a mais de R$ 5 mil, e a ausência de um debate efetivo sobre a crise ambiental e social enfrentada pelo estado.
Para Emerson Prates, técnico em meio ambiente e coordenador da ONG, o problema não está no empreendedorismo em si, mas no modelo de desenvolvimento promovido pelo evento.

“A palavra inovação é bonita, mas não dialoga com a realidade do Rio Grande do Sul, que viveu recentemente enchentes devastadoras. Não existe inovação sem pensar nas mudanças climáticas. E esse debate não foi feito com a sociedade civil. Nenhuma entidade ambientalista foi convidada”, afirma Prates.
Em vídeo publicado nas redes sociais, os manifestantes explicam que chegaram até o local da manifestação remando pelo Guaíba. Segundo eles, o objetivo era dialogar com os participantes do evento – ou melhor, ser parte desse público.
“Remamos até lá porque queríamos dialogar com os participantes – aliás, queríamos ser os participantes desse debate que se propõe a falar sobre o futuro social e ambiental. Afinal, estamos falando de um evento financiado com verba pública e que tinha como dois dos temas de destaque ‘Sustentabilidade e Mudança Social’. Como debater o sustentável em um evento restritivo? O que sobra para o debate de inclusão, diversidade, ética, bem-estar, educação e governo? Por isso a nossa pergunta é: o que está sendo chamado de inovação?”, questionam.
Rassier também critica a exclusão de segmentos sociais do debate promovido pelo South Summit. Segundo ele, catadoras e catadores de materiais recicláveis – que prestam um serviço ambiental essencial – não puderam sequer se manifestar, pois precisam manter a produtividade para garantir a renda mensal. A prefeitura, segundo os ativistas, alega não ter verba para pagar pelo serviço ambiental urbano, ao mesmo tempo em que mantém os pagamentos em dia às empresas responsáveis pela coleta privatizada.
“Que inovação é essa? Para realmente inovar, precisamos olhar com seriedade os problemas e contar com uma população engajada. Não existe futuro ambiental possível sem justiça social agora – e nisso não há concessões.”
Os manifestantes também resgatam o histórico de Porto Alegre como espaço de construção coletiva, como durante o Fórum Social Mundial, e apontam que eventos como o South Summit fazem parte de um projeto político mais amplo.
“Esse evento faz parte de um combo para reafirmar Porto Alegre como capital do empreendedorismo. Mas também já fomos a capital que pensava na vida. Hoje, o que vemos é um projeto neoliberal que flexibiliza leis ambientais e prioriza o lucro em detrimento da vida”, afirma Prates.
Apesar de a organização do South Summit afirmar que o evento tem entre seus eixos “ações de reconstrução” e “sustentabilidade”, os manifestantes questionam a quem cabe essa reconstrução e se ela de fato busca soluções coletivas ou apenas oportunidades de negócios privados, com contratos milionários e pouca transparência.
Para a ONG, a mobilização reforça a crescente tensão entre grandes eventos corporativos e os movimentos sociais que denunciam a exclusão da população nas decisões sobre o futuro da cidade e do meio ambiente. “A manifestação também reacende o debate sobre a função social do orçamento público e a urgência de soluções justas e sustentáveis frente à emergência climática”, finaliza.
