Um projeto de lei (PL) tem gerado polêmica na capital mineira. A proposta, do vereador Pablo Almeida (PL), quer mudar o nome da praça Ernesto Che Guevara, localizada no conjunto Taquaril, na região leste de Belo Horizonte, para Martin Luther King.
O PL está em trâmite na Comissão de Legislação e Justiça (CLJ) da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) e tem revoltado moradores da região, uma vez que a praça foi nomeada pelas famílias da comunidade, que nutrem forte identificação com o espaço.
“A mudança de nome não foi ventilada em momento nenhum por nenhuma liderança do conjunto Taquaril. A gente ficou sabendo de surpresa”, relata Edneia Aparecida, diretora do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) e presidenta do Centro Comunitário do Bairro Taquaril, em entrevista ao Brasil de Fato MG.
A proposta é vista como uma reação da extrema direita à Lei 11.516/2023, de autoria do vereador Pedro Patrus (PT), que prevê a mudança de nomes dos logradouros públicos que homenageiam envolvidos nos crimes da ditadura militar. Porém, diferente desses casos, a praça Che Guevara nasceu da luta da população por direito à moradia.
História da praça
A história do espaço se mistura com o início da construção do conjunto Taquaril, que nasceu da luta por moradia, na década de 80.
No começo, a praça era um pedaço de terra localizado entre as ruas Alair Pereira da Silva e Antão Gonçalves, onde ficavam os materiais de construção do conjunto. Ali, os moradores se reuniam em assembleias para definir as tarefas de cada um.
“Esse pedaço de terra era onde a gente, lá em 1986, fazia todas as nossas atividades. Ali, era o canteiro de obra que foi implementado pelo Estado para a gente pegar o material de construção, os equipamentos e as ferramentas. Era onde a gente realizava todas as assembleias com os moradores para definir o que íamos fazer”, conta Edneia Aparecida.
O Taquaril, um dos maiores aglomerados da capital mineira, passou por muitas dificuldades, desde o início de sua história. A presidenta do centro comunitário conta que, na época, foi organizado um movimento para que mais de 8 mil pessoas pudessem ir morar no bairro, porém, o terreno comportava apenas cerca 2,8 mil e apresentava irregularidades.
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Ela relembra que, quando a área começou a ser ocupada, o Estado abandonou o conjunto. “O Estado não acompanhou a construção, não mandou o material necessário e não implementou os serviços públicos para a qualidade de vida no Taquaril”, destaca Edneia Aparecida.
Por conta da falta de políticas públicas, o bairro sobreviveu com os esforços dos moradores e a praça Ernesto Che Guevara se tornou uma área de convivência e lazer para a comunidade.
O nome da praça foi escolhido em assembleia pela população.
“Aquele local, que foi transformado pela comunidade em uma área de convivência e que recebeu o nome de praça Che Guevara, fomos nós que criamos e nós que batizamos. Foi dali que nasceu a nossa luta”, enfatiza a liderança comunitária.
Apagamento da história
Com a possível mudança do nome da praça, moradores temem acontecer o apagamento de suas histórias e das histórias dos moradores que já se foram, que também fizeram parte da construção da comunidade.
“A mudança do nome, além de apagar uma parte da nossa história, ela nos diminui. Apaga a nossa história, a nossa memória e a nossa luta”, comenta a presidenta do Centro Comunitário do Taquaril.
Em contraposição à proposta, moradores do Taquaril sugerem a criação de outra praça com o nome de Martin Luther King e não a renomeação de uma praça que já existe e é tão importante para a comunidade.
“Nós ficaríamos extremamente honrados com a criação de outra praça com o nome de Martin Luther King, porque nós também conhecemos a história dele. Temos muito orgulho, inclusive, de sua história e da luta contra toda segregação racial que aconteceu nos Estados Unidos”, conclui Edneia.