“Aqui, saúde é acolhimento e resistência” é a frase que define a Tenda da Saúde e Medicina Tradicional do Acampamento Terra Livre (ATL). O espaço ofereceu tratamento, acolhimento e dignidade aos povos indígenas presentes na 21ª edição do ATL, que se encerra nesta sexta-feira (11), em Brasília.
A Tenda da Saúde é uma das estruturas de cuidado integral, que fortalecem a autonomia dos povos indígenas dentro do ATL, integrando cuidados ancestrais e contemporâneos. Nos quatro dias de encontro, a tenda ofereceu às pessoas que passaram pelo local, atendimento de clínica geral, medicinas indígenas e práticas integrativas.
A médica indígena Zetinisa Macuxi Wapichana, de Roraima, especializada em Medicina de Família e Comunidade, coordenou a equipe de saúde do espaço voluntariamente. Ela explica que a tenda recebeu mais de 100 inscrições de voluntários da área da saúde para a tenda.
“Nossa equipe é composta por vários profissionais. A gente faz um chamamento específico para o período da ATL, com uma inscrição e, depois, uma filtragem, uma seleção. A ideia é entender quem tem o perfil para estar nesse ambiente, que é intercultural, multiprofissional e de cuidado”, explicou.
A maior procura, segundo Zetinisa, foi por medicinas indígenas e práticas integrativas. “Temos as mulheres detentoras de saberes ancestrais, que produzem medicamentos à base de plantas do território, do seu bioma — manipulam essas plantas e produzem infusões, chás, fumadas, cremes, xaropes.”
Os pajés também estão presentes quando necessário, com seus benzimentos e rituais. “Se o pajé estiver aqui e avaliar que o caso precisa de benzimento, isso é realizado.”
Ela deixa claro que a Tenda da Saúde não é uma unidade formal ou uma instituição médica: “Somos um apoio ao ATL, orientando em relação aos cuidados que podemos oferecer neste local”.

Todos que estão envolvidos no evento podem ser atendidos, indígenas e não indígenas. “O atendimento é voltado para todos que estão no acampamento: indígenas das delegações, mas também os apoiadores que estão colaborando com a realização do evento, seja na logística, na segurança ou em outras frentes”, afirmou a coordenadora.
Quem passou pela tenda?
Durante o evento, o espaço atendeu uma média de 140 e 150 pessoas por dia. Zetinisa Wapichana acredita ao final do evento o atendimento pode ultrapassar os números do ano passado. “Em 2024, ao final do evento, atendemos mais de mil pessoas. Este ano, acredito que ultrapassaremos esse número”, comenta a médica.
O cacique Magno Guajajara, da Terra Indígena Cana Brava (MA), foi um dos atendidos e destaca que a Tenda da Saúde facilita a vida de quem chega de longe. “Viemos de outro estado, com clima totalmente diferente. E, é claro, isso pode causar reações. Ter uma tenda da saúde dentro do ATL facilita muito. É especial ver indígenas trabalhando na saúde. Temos também a medicina indígena, esse conhecimento passado de geração em geração.”
Para Isabel Tucano (AM), a existência do espaço representa alívio e respeito: “Quando a gente vem para o acampamento, já sai da aldeia com dor, ansiedade, buscando soluções. Muitas vezes a saúde nos estados é precária e o atendimento é discriminatório. Aqui a gente é atendido por indígenas ou por voluntários que respeitam a nossa presença. Só o fato de você ser bem recebido já é uma forma de tratamento.”
Ela também compartilhou que conheceu o reiki em edições anteriores da ATL. “Foi um alívio imenso para o cansaço depois de um mês inteiro de viagem. Indico para todo mundo.”
“É fundamental ter um espaço onde o indígena possa ser acolhido, orientado e escutado. Acho que essa é a grande relevância desse espaço dentro do ATL”, reforça a coordenadora da tenda da saúde.