Na manhã desta terça-feira (15), milhares de trabalhadores rurais sem terra se encontram no Recife (PE) para realizar uma marcha que deve durar todo o dia, pressionando os governos de Pernambuco e federal e reivindicando políticas públicas para a população do campo. O deputado estadual João Paulo (PT), ex-prefeito da capital pernambucana, conversou com o Brasil de Fato sobre a mobilização, que ele considera importante para “todos os humanistas” e uma resposta ao avanço da extrema direita.
Na opinião de João Paulo, quem defende a vida deveria se somar ou demonstrar “grande solidariedade” à caminhada. “Isso se faz necessário. Todos os que têm preocupação com a vida e defendem a dignidade do povo devem se somar. Essa marcha é acima de tudo pelo direito à vida, pelos direitos humanos”, considera o petista.
O político também falou do avanço em Pernambuco do movimento “Invasão Zero”, encabeçado por latifundiários que defendem abertamente a violência armada contra o MST, indígenas e quilombolas que ocuparem terras improdutivas. “Eles estão mostrando sua verdadeira identidade, que é a violência e a manutenção dos privilégios, a exploração do povo no que é mais sagrado, que é o direito à vida, à alimentação e ao teto”, avalia João Paulo, que vê aumentar o número de colegas extremistas na Assembleia Legislativa de Pernambuco. “Temos que ter muito cuidado”, completa.
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O ex-prefeito, além de apoiar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também defende uma aproximação do PT com o governo Raquel Lyra (PSD). As duas gestões são alvos de críticas do MST na marcha desta terça-feira.
Mas João Paulo pondera que os governos, seja quais forem, são “amarrados” pelo sistema. “Vivemos sob o capitalismo, que mantém diversos espaços de poder para controlar o povo e explorá-lo. Mesmo um governo tem muitas limitações. Por isso a necessidade de resistir, se organizar, mobilizar e lutar, fazer a disputa seja lá qual for o governo”, explica o ex-prefeito. “Não há vitórias sem luta. Por isso essa marcha é uma demonstração fundamental de força, de que o povo não vai recuar dos seus direitos”, completa.
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No plano federal, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) é apontado pelo movimento como “lento” e “limitado tecnicamente”. Durante a manhã, a marcha do MST passará pela sede regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), nos Aflitos. Já o governo estadual é avaliado como inerte, sem iniciativas para o povo camponês. A caminhada tem como ponto final o Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo de Pernambuco, no centro do Recife.
A marcha
Na agenda do movimento, a atividade começa com um grande café da manhã na Praça da Chesf, nos Torrões, zona oeste do Recife. Está prevista para as 8 horas a saída dos trabalhadores rurais em caminhada por um trajeto de seis quilômetros até a sede regional do Incra, órgão vinculado ao MDA.
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Depois, o MST segue para um trecho mais curto, de dois quilômetros, até a Praça do Derby, centro do Recife. Lá os sem terra almoçam e aguardam a chegada de militantes de movimentos populares aliados, além da população simpatizante da luta dos sem-terra. Entre o início e o meio da tarde, o grupo marcha por mais quase três quilômetros até o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco.
No ato político em que foi anunciada a marcha, o dirigente nacional do MST Jaime Amorim criticou a gestão Raquel Lyra (PSD). “O que você vê acontecendo em Pernambuco é fruto de verba federal”, afirmou. No evento, a deputada estadual Rosa Amorim (PT) disse que a caminhada, “além da pressão política, será um momento para nos animar, nos energizar para as próximas lutas”.