Morreu na tarde desta terça-feira (15) o bispo emérito de Blumenau (SC), dom Angélico Sândalo Bernardino, aos 92 anos.
Reconhecido pela sua atuação contra a ditadura militar e em defesa dos direitos humanos, Dom Angélico era amigo do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT). Em 7 de abril de 2018, dom Angélico rezou uma missa ao lado de Lula, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, horas antes de ele se entregar à Polícia Federal.
“Das greves dos trabalhadores em São Paulo nas décadas de 70 e 80, passando por momentos históricos da luta pela redemocratização e pela justiça social no nosso país, estivemos sempre juntos do lado da verdade e do bem comum”, escreveu o presidente, em seu perfil no X, em nota de pesar.
No início de abril, Lula e a primeira dama, Janja, fizeram uma visita ao bispo em São Paulo.
“Dom Angélico celebrou meu casamento com Janja, casou meus filhos, batizou meus netos. Fiquei muito feliz de poder reencontrar meu amigo de longa data. Que Deus esteja contigo, Dom Angélico”, escreveu o presidente, na legenda das fotos do encontro publicadas em seu perfil no Instagram.
Dom Angélico nasceu em Saltinho (SP), e foi coordenador da pastoral operária de São Paulo em uma época de grandes greves e de assassinato de figuras importantes, como do operário metalúrgico Santos Dias e do jornalista Vladimir Herzog.
Em 2021, no Dia Internacional dos Direitos Humanos, o Brasil de Fato publicou uma entrevista com o jornalista e escritor Camilo Vannuchi, autor do livro digital Dom Angélico: o bispo que gritava junto com o povo, relembrando a importância da trajetória de dom Angélico na defesa dos direitos humanos.
“Talvez o marco mais forte seja em 1979, na morte do Santo Dias, morto a tiros pela polícia fazendo um piquete na frente de uma fábrica na zona sul de São Paulo. Ali tem um cortejo com o caixão que leva o corpo do Santo Dias da Igreja da Consolação até a Catedral da Sé. Naquele momento Dom Angélico faz a homilia, publica artigos e diz que o corpo de Santo Dias foi cravado de bala como o corpo de Jesus foi crucificado”, disse Vannuchi.
Em 2024, quando o coletivo Padres da Caminhada, formado por 461 diáconos, padres e bispos da Igreja Católica, emitiu uma nota pública contrária ao projeto de lei (PL) 1904/2024 que tramita no Congresso Nacional e ficou popularmente conhecido como PL dos Estupradores, as palavras de Dom Angélico estavam impressas no documento.
“Simplesmente punir a mulher sem discutir com profundidade uma situação tão complexa é uma leviandade. É uma precipitação legalista. É querer resolver pela lei um problema muito mais amplo e vasto”, defendeu o bispo.
Dom Angélico morreu em sua casa, na zona norte da capital paulista, onde passava por tratamento domiciliar. Desde o fim de 2024, ele enfrentava problemas de saúde e passou por procedimentos cirúrgicos no Hospital Santa Catarina.
Nesta quarta-feira (16), o cardeal dom Odilo Scherer rezará missa de corpo presente na Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Vila Zat, em Pirituba, às 15 horas.
Em seguida, o corpo segue para Blumenau (SC), onde será sepultado na catedral onde ele foi o primeiro bispo.