Na tarde desta segunda-feira (14), foi lançada a campanha Torturadores da ditadura nas escolas nunca mais, pedindo a mudança dos nomes das escolas públicas que homenageiam ditadores, torturadores, colaboradores da ditadura militar e outros violadores dos Direitos Humanos. No estado, a campanha é encabeçada pelo Sindicato dos Trabalhadores na Educação (Sintepe) e já foi lançada nacionalmente pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE).
A presidenta do Sintepe, professora Ivete Caetano, lembrou de uma Lei Estadual nº 16.629, de autoria do mandato coletivo das Juntas (Psol), encabeçado por Jô Cavalcanti, hoje vereadora do Recife. “O governo deveria mudar os nomes de ditadores, torturadores e violadores dos Direitos Humanos, mas nem a gestão anterior e nem a atual fizeram as mudanças”, diz Caetano. “Mas quando o governo está parado, a gente vai para cima para fazer eles se movimentarem”, completa a professora.
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Ivete também chamou os estudantes de Pernambuco a se somarem na missão de acabar com as homenagens a ditadores. “Sempre foram os jovens que conduziram as grandes transformações, grandes mudanças, responsáveis pelas revoluções”, convocou a dirigente sindical. No auditório estavam presentes, entre outros, estudantes da Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Presidente Humberto Castello Branco, do bairro de Tejipió, zona oeste do Recife.
A lei mencionada não propõe alterações nos equipamentos já existentes, mas veda a realização de novas homenagens a ditadores e outras lideranças do regime ditatorial militar, bem como a figuras associadas a atos racistas e nazistas.

A secretária de formação do sindicato, professora Márcia Silva, complementa que “se queremos uma educação cidadã, precisamos reivindicar que não tenhamos nomes de homens que deixaram centenas de famílias sem seus entes queridos”. Márcia também chama atenção para o grande número de políticos colaboradores da ditadura entre os homenageados.
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A vice-presidenta do Sintepe, Cíntia Sales, especialista em história da ditadura, lembrou que há escolas estaduais e municipais em homenagem ao ex-presidente e ditador Emílio Garrastazu Médici espalhadas pelo interior do estado, além de escolas com o nome do ex-senador e ex-ministro Jarbas Passarinho, um dos autores intelectuais do Ato Institucional nº 5 (AI-5), que marcou o início da fase mais dura da repressão ditatorial.
“Como um espaço crítico de discussão, plural, homenageia uma pessoa que agiu contra tudo isso?”, questiona a historiadora. “Mas não vemos escolas em homenagem a Gregório Bezerra, Rubens Paiva, Vladimir Herzog, Soledad Barret, pessoas que foram mortas lutando pela nossa democracia”, completa Sales.
Também presente na mesa, o professor e advogado Manoel Moraes, citou Paulo Freire. “Ele diz que a escola republicana nos liberta. Ela nos permite acessar um universo de literatura e história que leva a nós, professores e alunos, a nos vermos como humanidade”, diz o defensor de Direitos Humanos. “Imagine usar um espaço desse para homenagear alguém que perseguiu, torturou e matou professores e estudantes, fechou escolas, destruiu sonhos”, completa. Moraes é membro da nova Comissão da Anistia, criada pelo governo Lula em 2023.
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