O atual diretor-geral da Agência Brasileira de Informações (Abin), Luiz Fernando Corrêa, deve prestar um depoimento à Polícia Federal (PF), nesta quinta-feira (17), no inquérito que apura um esquema de espionagem ilegal.
A corporação quer saber se a gestão atual tentou obstruir as investigações sobre o uso ilegal da Abin durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) para espionar autoridades, jornalistas e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Objetivo é saber se houve obstrução por parte da atual gestão à investigação sobre espionagem ilegal durante o governo Bolsonaro, e aval para monitoramento de autoridades paraguaias. Outro objetivo do depoimento é esclarecer se a agência tinha conhecimento prévio sobre a suposta espionagem de autoridades paraguaias. Dois agentes da Abin relataram à PF que o Brasil teria realizado um ataque hacker ao Paraguai para obter informações sobre as negociações envolvendo a Usina Hidrelétrica de Itaipu.
O ex-número dois da Abin, Alessandro Moretti, também foi intimado para depor. Ele foi demitido do cargo de diretor-adjunto em 30 de janeiro de 2024, depois que a PF passou a suspeitar de tentativas de obstruir as investigações contra a Abin paralela instalada no governo Jair Bolsonaro.
Em nota enviada à imprensa, Luiz Fernando Corrêa afirmou que “está à disposição das autoridades competentes para prestar quaisquer esclarecimentos, seja no âmbito administrativo, civil ou criminal, sobre os fatos relatados na imprensa e que remetem a decisões tomadas na gestão anterior da Agência”.
Abin paralela
De acordo com as investigações, o monitoramento pela Abin teria sido feito por meio do programa de espionagem israelense FirstMile, da empresa Cognyte, que identifica a localização de pessoas a partir da conexão de dados do celular.
As investigações apontam para um total de 33 mil acessos ilegais à rede de telefonia brasileira com o uso de um sistema de geolocalização da Abin adquirido com recursos públicos em dezembro de 2018.
Segundo a PF, os investigados podem responder pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial, ou com objetivos não autorizados em lei.
A investigação sobre o rastreamento de desafetos de Bolsonaro foi aberta em março deste ano por determinação do ministro da Justiça, Flávio Dino. O inquérito é conduzido pela Polícia Federal e está sob relatoria de Alexandre de Moraes, ministro do STF.