A marcha começou cedo, eram 6h. Após três horas de caminhada por estradas de chão batido, chegaram na BR-290 com bandeiras vermelhas e cantos de luta. São cerca de 400 acampados e assentados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que vão marchar em fileiras quase 100 km entre São Jerônimo e Porto Alegre (RS).
Com o lema “Para o Brasil Alimentar, Reforma Agrária Popular”, a mobilização estadual busca pressionar os governos estadual e federal por avanços concretos na política de reforma agrária no Rio Grande do Sul.

A marcha tem como pauta central a desapropriação de áreas improdutivas, como a antiga Usina de Beneficiamento de Postes e Horto Florestal Renner da CEEE-D, em Triunfo, além do aumento no orçamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para aquisição de terras e criação de novos assentamentos ainda em 2025.
A dirigente estadual do MST e acampada Carla Camila Marques reforça o chamado à mobilização popular. “Estamos indo rumo a Porto Alegre para cobrar do governo uma medida que ele nos prometeu, que é a terra, e também para as famílias atingidas pela enchente. Convocamos toda a militância a se somar à marcha no dia 24. Vai ser muito lindo. Juntem-se conosco. Vamos reivindicar nossa pauta por assentamento, educação e saúde.”

O MST já foi recebido por representantes do governo estadual no início do mês, quando ocupou a área em Triunfo, no dia 10, e tem nova reunião marcada com o secretário-chefe da Casa Civil, Artur Lemos, no próximo dia 30, quando espera ouvir respostas concretas para suas demandas.
Na reunião, a secretária de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), Danielle Calazans, informou que a área foi avaliada para se tornar um assentamento, mas não era possível porque existe um laudo técnico da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) atestando contaminação no solo e água subterrânea, mas que irá solicitar um novo laudo. A secretária também se comprometeu em buscar novas possibilidades de áreas no estado e a chamar uma nova reunião até final do mês.
Em nota ao Brasil de Fato RS, o Incra/RS reforça o compromisso com sua missão de realizar a reforma agrária e assentar famílias sem terra. Além de áreas ofertadas e avaliadas, que aguardam disponibilidade orçamentária, tem feito a gestão para incorporação de áreas não onerosas. “Recentemente (7/3), o governo federal desapropriou um imóvel rural de 125 hectares em Cruz Alta, onde já vivem 12 famílias, para incorporação ao Programa Nacional de Reforma Agrária. O Incra/RS aguarda imissão na posse para criação do assentamento.”
Também afirma que está trabalhando no desenvolvimento e recuperação de áreas da reforma agrária gaúchas afetadas pelas enchentes do ano passado. “O Incra/RS está operacionalizando R$ 351 milhões liberados pelo governo federal. As ações incluem crédito produtivo para as famílias, recuperação de estradas, reforma e construção de casas, regularização de barragens, entre outros.”

A marcha é uma tradição histórica do MST no Rio Grande do Sul e já teve edições marcantes, como em 2014 e 2017, quando o movimento combinou a pressão direta com ações de formação política e diálogo com a sociedade. Este ano, além da luta por terra, o movimento também exige políticas públicas para as famílias camponesas atingidas pelas enchentes que devastaram diversas regiões do estado.
“Com seus pés no barro e o horizonte voltado para a justiça social, o MST reafirma sua luta por um modelo de produção agrícola sustentável, voltado à soberania alimentar e ao bem viver no campo”, reforça Marques.
