A Venezuela realizará no próximo 25 de maio eleições para escolher novos governadores e deputados. A corrida eleitoral vai acontecer menos de 1 ano depois do pleito presidencial contestado pela oposição de extrema direita, liderada por María Corina Machado que, além de questionar os resultados, promoveu atos violentos e este ano adota estratégia diferente.
Mesmo recebendo o segundo maior número de votos das últimas eleições com o ex-embaixador Edmundo González Urrutia, a oposicionista Plataforma Unitária está promovendo a abstenção e desestimulando os venezuelanos a não votarem. Eles dizem que houve fraude na corrida presidencial de 2024 e participar destas eleições seria legitimar a vitória de Nicolás Maduro.
Mas, outra parte da oposição crês ser necessário disputar o pleito com o maior número possível de candidatos e disputar espaços de poder. Partidos tradicionais como a Ação Democrática (AD) e o Copei vão buscar eleger deputados e governadores para manter a influência sobre a política venezuelana.
Para o sociólogo e professor da Universidade Central da Venezuela (UCV) Atílio Romero, a oposição de extrema direita tem só uma estratégia e não parece preparada para disputar cargos de governadores e deputados.
“Essa oposição decidiu chamar a abstenção. Claramente os seus líderes fundamentais chamaram a abstenção no sentido de que Edmundo González ganhou as eleições e se acontecer outra eleição sem o reconhecimento dessa vitória seria a legitimação do “regime”. Portanto, se não há um reconhecimento dessa vitória de Edmundo González, não tem sentido ter outra eleição. Essa argumentação tem sido sustentada por esse setor e isso traz uma consequência de que, para essa fase eleitoral, há um grupo expressivo que não vai participar”, afirmou ao Brasil de Fato.
Neste contexto de divisão, o Partido Socialista Unido de Venezuela, do presidente Nicolás Maduro, tem o desafio de mobilizar sua base de apoio e conquistar eleitores indecisos, ampliando capilaridade e presença nos bairros.
O deputado Julio Chávez é integrante da direção nacional do PSUV. De acordo com ele, o partido tem discutido internamente uma forma de manter a base coesa para ganhar o máximo de governadores e deputados possível. Outro ponto importante é a presença cada vez maior nas Unidades de Batalha Hugo Chávez (UCBHs), que são organizações políticas formuladas para mobilizar e defender o processo político chamado de Revolução Bolivariana pelos chavistas.
“Temos discutido na direção nacional a necessidade de aprofundar o nosso partido nas organizações de base. Em um congresso que realizamos recentemente aprovamos a meta de ir mais profundo enquanto os organismos de base estarão localizados, não nos centros eleitorais, como se conhece na Venezuela as UBCHs, mas nas comunidades e nas ruas em profundidade e isso corresponde com essa visão de ir aperfeiçoando, de ir melhorando e ser mais eficiente na organização do nosso partido. Também estamos trabalhando a formação político-ideológica”, disse ao Brasil de Fato.
O governo, no entanto, tem dois desafios para conquistar uma vitória eleitoral expressiva. O primeiro é a lembrança do questionamento eleitoral oposicionista, que preocupa uma ala do PSUV. Outro é a pressão cada vez maior dos Estados Unidos sobre a economia venezuelana. Desde que assumiu a Casa Branca, Donald Trump derrubou uma série de licenças ao mercado petroleiro venezuelano e anunciou a saída da estadunidense Chevron do país. A empresa é a principal exportadora de petróleo da Venezuela.
Somado a isso, a Justiça venezuelana prendeu 6 prefeitos em março, acusados de tráfico de drogas no estado de Zulia, próximo à fronteira com a Colômbia. A operação chamada de “Relâmpago de Catatumbo” apreendeu 5,4 toneladas de cocaína, 27 mil litros de combustível, resina, passaportes colombianos e gerou uma crise interna no PSUV, já que 3 deles integravam o partido.
Os dirigentes da sigla temem o desgaste da imagem do PSUV após a polêmica eleitoral. O plano agora é evitar que haja qualquer tipo de turbulência até o pleito e mostrar que a direção se preocupa e não vai tolerar crimes.
Toda essa preocupação fez com que o governo mudasse a estratégia para essas eleições. O PSUV deixou de fazer primárias e os dirigentes escolheram cada um dos candidatos a dedo. Uma mudança clara foi o perfil dos governadores. Muitos deles são nomes experientes como Freddy Bernal em Táchira, ou militares. Alguns dos mais jovens deixaram o papel de protagonismo nesse momento e deram lugar a quadros históricos do partido.
Segundo Romero, esse racha será problema para os grupos da direita, já que não há uma organização em torno de algum partido político que tenha esse poder de articulação. Ele levanta também um ponto fundamental para esse pleito: a presença de Essequibo como um estado que participará do pleito.