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Agro na berlinda: políticos dos EUA articulam sanções ao Brasil contra desmatamento na Amazônia

Ações buscam restringir as importações de commodities brasileiros que causam "risco florestal"

Por Tatiana Berringer, Gabrielly Almeida, Gabriel Soprijo, Fernanda Antoniazzo, Flávia Mitake, Gabriela Leite, Thiago Fernandes , integrantres do OPEB

Após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) estampar jornais internacionais durante a reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas, propagando uma imagem negativa do Brasil na arena internacional, e a divulgação dos lucros offshore milionários do ministro da Economia, Paulo Guedes foi a Washington advogar pela agenda de privatizações no Brasil ante os maiores órgãos financeiros internacionais, FMI e Banco Mundial.

Enquanto isso, o Congresso estadunidense começa a discutir um projeto de lei que pode ter impacto sobre o avanço do desmatamento no Brasil, transformando tais medidas numa das principais divergências entre as atuais administrações dos dois países.

Nos EUA, Guedes defendeu medidas de cunho neoliberal e apoiou a privatização de setores estratégicos. O ministro declarou apoio para que o governo venda ações da Petrobras, quando o preço do combustível subir, na intenção de distribuir dinheiro aos mais pobres. Além disso, ressaltou que o Brasil quer ser uma “potência verde”, afirmou que deve anunciar uma linha de financiamento de R$ 2,5 bilhões com o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) – vinculado ao BRICS, com o intuito de financiar ações de sustentabilidade.

Outro ponto a ser destacado em sua fala foi a campanha de vacinação realizada pelo Brasil, que estaria possibilitando uma volta segura dos trabalhadores ao mercado. Pediu que os investidores estrangeiros “acreditem” no Brasil e ressaltou que as instituições funcionam. Ele disse estar otimista em relação às reformas tributárias e administrativas, que seriam responsáveis por um sucateamento de diversos setores estratégicos e importantes para o país.

Também se destaca sua declaração de que o Brasil estaria pronto para adentrar a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). De acordo com Guedes, o país já teria aderido a 100 dos 247 instrumentos legais. Em nota, ele reiterou que “o país tem trabalhado especialmente para a adesão aos instrumentos da OCDE voltados à melhoria do ambiente para serviços ambientais”.

Além disso, durante sua participação na reunião plenária do Comitê Monetário e Financeiro Internacional (IFMC), ressaltou a importância do apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI) aos países mais vulneráveis, falou sobre apoio de países com melhores condições às nações mais pobres e na necessidade de novas linhas de crédito. Guedes reiterou apoio a que as economias avançadas aumentem as contribuições ao Fundo para a Redução da Pobreza e para o Crescimento (PRGT) e para a manutenção do Fundo de Resiliência e Sustentabilidade.

A pauta ambiental, importante bandeira levantada pela administração do presidente norte-americano, Joe Biden, desde a sua campanha, tornou-se foco do Congresso estadunidense na última semana. Um projeto de lei intitulado Forest Act 2021 foi levado simultaneamente ao Senado e à Casa de Representantes, pelos democratas Brian Schatz e Earl Blumenauer, respectivamente.

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A proposta tem como alvo a importação de commodities agrícolas como óleo de palma, madeira, carne e outros produtos derivados do gado, cacau e soja. Seu objetivo é promover a redução do desmatamento nas regiões produtoras, exigindo que os produtos que chegam aos Estados Unidos sejam comprovadamente livres de desmatamento em toda a sua cadeia produtiva, o que demanda maior controle sobre a cadeia de suprimentos das indústrias estadunidenses e, especialmente, dos produtores locais. 

Esta é a primeira ação efetiva proposta pelo governo Biden em resposta às violações do meio ambiente no Brasil, que têm ocorrido de maneira sistemática desde o início do governo Bolsonaro. O Brasil é citado nominalmente no texto do projeto, que o aponta como origem de uma fatia expressiva de carnes e produtos bovinos consumidos nos Estados Unidos. No ano passado, essa fatia correspondeu à movimentação de mais de US$ 500 milhões, segundo o texto. 

A atividade pecuária, lembram os congressistas, é responsável pelo avanço do desmatamento da Amazônia e de outros biomas, e ocorre majoritariamente à sombra da lei. Uma medida como essa, de restrições aos produtos ligados ao desmatamento no Brasil, também vem sendo discutida no âmbito da União Europeia e deve ser levada a cabo em um futuro mais próximo. 

No início do mandato do presidente Joe Biden, ainda em fevereiro deste ano, diversos acadêmicos e ONGs ambientalistas brasileiras enviaram um dossiê ao líder norte-americano pedindo justamente que medidas como essas fossem tomadas. Os autores sugeriram que as relações bilaterais com o Brasil fossem dificultadas até que ações efetivas contra o desmatamento na Amazônia tomassem forma. A prioridade, segundo eles, deveria ser restringir as importações de commodities de risco florestal, que é justamente o que os democratas tentam emplacar no Congresso atualmente. 

Nesse mesmo esforço, quando foi realizada a Cúpula sobre o Clima, em abril deste ano, diversas ONGs, sindicatos e outras entidades se manifestaram em carta aberta ao presidente Joe Biden, solicitando que este não firmasse qualquer acordo de cunho climático com Bolsonaro. O mesmo foi feito por diversos artistas brasileiros e estadunidenses. 

Apesar de representar uma possibilidade importante de avanço do combate às mudanças climáticas e da proteção da biodiversidade e comunidades locais, para a administração Biden, essa medida é um movimento político bastante relevante e, para o Brasil, um alerta ao governo e aos pecuaristas. 

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