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Central Única dos Trabalhadores ...

Relação entre cesta básica e salário é uma conta que não fecha

Nascida em julho de 1984, a Central Única dos Trabalhadores do Distrito Federal é fruto de um processo nacional de mobilização pela redemocratizaçã...
Você tem fome de quê?

Qual item de supermercado você deixou de comprar neste mês porque não coube no orçamento?

Se você é trabalhador ou trabalhadora, o preço dos alimentos é um dos problemas da sua vida financeira.

Para a maioria de nós, a relação entre cesta básica e salário do mês é uma conta que não fecha.

De um lado temos as estratégias de produção do agronegócio, voltadas ao mercado internacional. A atuação desse setor dificulta que as políticas públicas que garantam a segurança alimentar possam se consolidar. Além disso, ainda temos a enorme desigualdade social, gerada, sobretudo, com a concentração de renda nas mãos de muito poucos. Estes são fatores que refletem nos preços estampados nas gôndolas dos supermercados e vão contra os rumos da política socioeconômica adotada pelo governo federal; o outro lado dessa disputa entre o lucro e a segurança alimentar.

Para o povo do Distrito Federal, a situação vem se agravando.

Estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que, em agosto deste ano, das 17 capitais pesquisadas, apenas uma apresentou aumento no valor da cesta básica: Brasília. Em todas as outras, o valor conjunto dos alimentos essenciais diminuiu.

No ranking das capitais do Brasil com a cesta básica mais cara, Brasília subiu mais uma posição em comparação com o mês de julho deste ano, e está em sexto lugar. Aqui, quem comprou (ou quis comprar) os 13 itens básicos para se alimentar durante um mês, teve (ou teria) que desembolsar R$ 689,98.

A variação do preço da cesta básica de julho para a gosto foi de 0,35%. Mas antes de afirmar que este é um percentual pequeno, é importante analisar a conjuntura colocada para as trabalhadoras e os trabalhadores do Distrito Federal.

Uma das principais características socioeconômicas do DF é a disparidade de renda. Em regiões administrativas como o Lago Sul, por exemplo, a renda mensal é uma das maiores do Brasil. Em comparação, no Sol Nascente, a maior favela do país, a renda de uma família no mês é menor que um salário mínimo.

É fato que aqui no DF há um número maior de servidores púbicos do que no resto do Brasil: 22% dos trabalhadores no emprego formal estão no funcionalismo, segundo a Companhia de Planejamento do DF (Codeplan). Mas a grande maioria ainda está no subemprego, na informalidade, atuando como autônomos em carrinhos de cachorro quente, em pequenas tendas ao lado de paradas de ônibus, vendendo bolo e marmita na rua.

A Pesquisa de Emprego e Desemprego no DF (PED-DF) ainda mostra que, em maio deste ano, eram 277 mil pessoas desempregadas, um número que tem em sua maioria, jovens e negros.

:: Pesquisa do Dieese: preço da cesta básica caí em todo país, mas continua alta no DF ::

Diante dos dados, é possível vislumbrar quão prejudicial é qualquer variação para cima no preço da cesta básica. De acordo com o Dieese, os R$ 689,98 pagos em 13 itens alimentares básicos representam mais de 56% do total de um salário mínimo, ou seja, mais da metade do que recebem no mês milhares de trabalhadores e trabalhadoras do DF. E o mais assustador: pela pesquisa, os produtos adquiridos são suficientes para alimentar apenas um adulto durante 30 dias.

A pesquisa do Dieese ainda mostra que, para comprar uma cesta básica (estamos falando de arroz, feijão, batata, tomate), o trabalhador e a trabalhadora do DF precisam trabalhar 115 horas: mais da metade de um mês de trabalho para quem tem jornada de 8 horas diárias.

É incontestável que a valorização do salário mínimo, com ganho real, como foi neste ano, é uma das chaves para garantir que o povo possa colocar comida no prato. Entretanto, há outras ações imprescindíveis para que se chegue a esse resultado.

Uma delas é a discussão sobre os estoques reguladores de alimentos, que são mecanismos de estabilização do preço dos itens da cesta básica, pois garantem o abastecimento de alimentos em situação de escassez ou de aumento de preços.

Também é urgente questionar e combater o atual modelo do agronegócio: altamente voltado para a exportação, o que diminui a oferta doméstica e eleva o preço dos alimentos no mercado interno; monopolizado; com alto custo de produção; monocultor. Tudo isso reflete na elevação do preço de alimentos básicos.

É preciso criar cadeias globais produtivas, criar tecnologias de produção de alimentos e, sobretudo, valorizar a agricultura familiar, que gera emprego, renda e dinamiza as economias locais.

Indigna ter a certeza através de prova numérica que o direito à alimentação vem sendo negado ao povo do DF e do Brasil, no país que é uma das maiores produções alimentares do mundo. O sentimento, entretanto, torna-se combustível para fazer a luta por emprego, renda, alimentação digna e saudável, lazer, saúde, educação, habitação.

A gente quer viver e não apenas sobreviver!

“A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte.”

Vamos à luta!

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*Rodrigo Rodrigues é professor de História da rede pública de ensino do DF e presidente da CUT-DF.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

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