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A chave de ouro de Greca

Em final de gestão, Greca mostra os dentes e o caráter autoritário e elitista de sua gestão

De certo modo, o prefeito Rafael Greca vai encerrar sua terceira gestão da maneira como havia voltado ao poder, em 2017, mostrando os dentes e o caráter coercitivo do Estado.

Na época, para conseguir aprovação de um pacote neoliberal de ajustes contra os servidores públicos, o chamado pacotaço, o local de votação foi transferido da Câmara de Vereadores para a Ópera de Arame – além de os protestos de servidores e professores, mulheres mais velhas em sua maioria, terem sido recebidos com lacrimogêneo, balas de borracha e cavalaria.

Já o final de sua gestão carrega um traço nitidamente elitista e de classe, que parece inclusive se acentuar nesta reta final – tornando-se inclusive mais reativo diante das críticas. Recentemente, houve duas ações de despejo forçado contra famílias no bairro Campo Comprido e no Novo Mundo. A prefeitura e Cohab sequer deram as caras para contribuir e mediar a situação das 200 famílias da ocupação Resistência Forte e das oito famílias despejadas da comunidade Olga de Araújo Espíndola, onde estavam instaladas há vinte anos.

A guarda municipal segue, sob gestão de Greca e do vice, Eduardo Pimentel, pré-candidato à prefeitura, autoritária e com direcionamento de reprimir os setores populares. Foi assim durante a pandemia. Foi assim contra moradores em situação de rua, número que aumentou nos últimos anos. E vimos estarrecidos agora a repercussão da ação violenta para dispersar jovens periféricos que… andavam de bike! no bairro Guabirotuba.

Sem contar as trapalhadas e truques ilusionistas da semana com a polêmica que repercutiu nas redes sobre o buraco aberto apenas para divulgação de uma suposta obra que não existia. Mais do que as lacrações da rede, preocupa mais o caráter elitista da gestão saudar recuperação ambiental no rio Cascatinha, em Santa Felicidade, mas ignorar que as obras de macrodrenagem e o canal extravasor dos rios Guaíra e Pinheirinho seguem impactando fortemente a população de Lindoia, Guaíra, Fanny e sobretudo Parolin – este último estigmatizado, desprezado e silenciado pela gestão.

Como recorda livro de Anísio G. Homem, pouca gente lembra que, nos anos 1990, a Lei de Responsabilidade Fiscal é uma amarra neoliberal que amarra e submete as gestões. E hoje os ajustes fiscais geram um discurso e uma narrativa seletiva do que pode e não pode ser investido. Na gestão Greca, definitivamente, moradia, melhorias contra enchentes, asfalto de qualidade para a periferia, vagas nos cmeis do Tatuquara, não são prioridades políticas.

A Curitiba negra e operária, alocada no cinturão em torno dos eixos estruturais da cidade modelo, criminalizada pelo Estado, inclusive com o discurso de preservação ambiental, não é prioridade de Greca e nem de Pimentel – embora este último tente turbinar a sua ausência de referência popular via contatos no Ceasa e em associações de moradores debaixo da asa da prefs.

As organizações populares e de esquerda, infelizmente, estão atoladas em um debate personalista sobre alternativas à cidade, e pouco ou quase nada se vê a militância debatendo projetos, programa, medidas e alternativas reais às condições de vida do povo trabalhador.

Do lado de cá, como se vê, motivos e acúmulos sobre os problemas da cidade não faltam. Há um programa popular maduro para ser sistematizado e propagandeado.

Do lado de lá, nenhuma novidade. A chave de ouro do soneto de Greca e Pimentel são os mesmos versinhos repetidos há quarenta anos na capital excludente.

*Jornalista, militante do movimento popular e escritor

**As opiniões expressas nesse texto não representam necessariamente a posição do jornal Brasil de Fato Paraná

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