As mobilizações recentes de professoras, áreas de ocupação da campanha Despejo Zero, e também o ataque contra mulheres, expresso na autorização ao despejo forçado da ocupação Rose Nunes – uma ocupação no centro da capital com o objetivo de manter um centro de atendimento a mulheres vítimas de violência -, tudo isso monta um quadro preocupante no estado do Paraná e revelador do perfil político do governador Ratinho Jr.
Pode-se dizer que a postura do governador, que condensa o programa neoliberal, a orientação neofascista (apoio a Bolsonaro, escolas cívico-militares, foi o governador dos que mais o sustentou durante a pandemia), e um discurso tecnocrático e pragmático, com aspirações a torna-se nome nacional no vácuo deixado pela inelegibilidade de Bolsonaro.
Como se o velho rato pai e rato filho, entusiastas do primeiro governo do PT, agora vestissem terno para dizer que não fazem parte do velho centro fisiológico e da direita tradicional. Ligado sobretudo aos setores do agronegócio, Ratinho Jr parece querer limpar o terreno de qualquer movimento social que questione seus métodos e medidas e apresentar o Paraná como um "case" neoliberal de sucesso.
A greve dos professores contra o projeto Parceiros da Escola, que prevê a privatização de até 200 escolas do estado, em pouco tempo conheceu a criminalização inédita, quando, no marco da conservadora Lei de Greve, além de prever multa e interdito proibitório ao sindicato, como de costume, foi além: a Procuradoria-Geral do Estado ainda pediu a detenção da presidenta da APP-Sindicato, Walkíria Mazeto.
No primeiro dia de ato, dois manifestantes não só foram detidos, como levados à Cadeia Pública de Curitiba, onde passaram noite, em nítida demonstração de intimidação. Afinal, detenções políticas ainda em 2023 apresentavam soltura no mesmo dia.
A perseguição reforça o lado coercitivo do Estado com tons de intimidação. Afinal, recentemente, na quinta-feira (27), dois militantes da Unidade Popular (UP), organização que dirige a Casa Rose Nunes, também foram detidos e novamente levados para a Cadeia Pública, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), onde passaram a noite.
Nas áreas de ocupação, no contexto do PL nacional 709/2023, que pune moradores de áreas de ocupação do campo e da cidade, teve desdobramento em projetos na Assembleia Legislativa. Agora, sabe-se que a Polícia Militar do Paraná, com a violência e racismo que só tem crescido, tem feito incursões em áreas de ocupação, com a desculpa de "catalogar" moradores, sem mandado judicial, dentro do que está previsto nos projetos de realização de controle de moradores e lideranças.
O histórico, obviamente, não é novo no Paraná.
O governador Álvaro Dias (atual Podemos) ficou marcado pela cavalaria lançada sobre a greve de professores de 1988. Jaime Lerner governou de 1994 a 2002, e, ao morrer, apesar de ter recebido loas das vozes liberais de que teria sido um inovador, porém combateu o MST no Paraná a ponto de ficar conhecido como o “Arquiteto da Violência”.
A repressão de Ratinho Jr aprendeu a lição com o antecessor Beto Richa, lançando mão da cooptação quando necessário. Aplicou o chamado tratoraço durante votação do projeto Parceiros na Escola na Assembleia Legislativa, em lugar da repressão do 29 de abril de 2015. Porém, Ratinho, quando necessário, tem usado de coerção e intimidação contra os setores que estão se mobilizando.
Nada disso se dá sem o vínculo estreito com a prefeitura antipopular em Curitiba de Greca e Eduardo Pimentel. O misto de neoliberalismo com cooptação e coerção popular foi revelado pela reportagem do Brasil de Fato Paraná nesta semana.
O PSD, partido de Ratinho e Greca, tem uma rede ampla de cooptação de associações de moradores que passa pelo controle do Ceasa, da Femoclam e das administrações regionais da prefeitura.
No marco da unidade das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, dos estudantes, do movimento indígena, sindical, da APP-Sindicato e da campanha Despejo Zero, é preciso uma reação coordenada. Uma campanha que também mostre ao mundo os desmandos do governador, que denuncie a privatização neoliberal com criminalização dos que resistem.
Se Lerner foi apelidado em documentário como "O Arquiteto da Violência", Ratinho Jr, homem mais medíocre, porém não menos perigoso, certamente que ser o "Gestor, ou o CEO, da Violência".
*Pedro Carrano é jornalista, escritor, integrante da campanha Despejo Zero e do movimento popular Frente de Organização dos Trabalhadores (FORT) e Consulta Popular
**As opiniões expressas nesse texto não representam necessariamente a posição do jornal Brasil de Fato Paraná