1º de janeiro. Dia de saudar a gloriosa Revolução Cubana que libertou o povo da ditadura sanguinária de Fulgencio Batista e da opressão e exploração imperialista. É dia de saudar o feito exemplar que pôs fim à submissão do país aos interesses estrangeiros, inaugurando uma nova era de soberania, igualdade e justiça social, com avanços históricos em saúde, educação e dignidade para o povo cubano.
É dia de relembrar e exaltar Fidel Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos, que lideraram a guerrilha e articularam o movimento internacionalmente, tornando-se símbolos da resistência. É dia de exaltar e relembrar Vilma Espín, Celia Sánchez e Haydée Santamaría que atuaram em posições estratégicas na guerrilha, na logística e na propaganda.
1º de janeiro é dia de lembrar o papel crucial das mulheres na Revolução Cubana, participando intensamente na guerrilha da Sierra Maestra e contribuindo em áreas como saúde, educação e assistência social. A criação do Pelotão Mariana Grajales, formado exclusivamente por mulheres, representou uma ruptura significativa com as barreiras de gênero, demonstrando que as mulheres podiam desempenhar funções tradicionalmente atribuídas aos homens, como o combate armado, e reafirmando sua capacidade de liderança em um contexto revolucionário.
Após a vitória, enfrentaram desafios ao equilibrar os papeis de mães, trabalhadoras e revolucionárias, mas a criação da Federação de Mulheres Cubanas (FMC), liderada por Vilma Espín, foi essencial para promover a igualdade de gênero e ampliar a participação feminina na construção do socialismo.
1º de janeiro, dia do triunfo da Revolução Cubana, é como a aurora de uma nova era, iluminando o caminho da liberdade e da igualdade. Este dia se ergue como um farol de esperança, cujos raios continuam a guiar as futuras gerações na luta contra as opressões, a miséria, a fome, a exploração, como uma chama que nunca se apaga, sempre acesa no coração daqueles e daquelas que buscam a igualdade substantiva e a emancipação humana.
Os pedros pedreiros
Por aqui, seguimos no “drama da humana manada”, enquanto a imprensa progressista declara uma guerra de números contra a imprensa burguesa e os detratores do governo Lula. É uma guerra mediada pela métrica do capital na qual alguns exaltam a confecção do bolo a ser servido no banquete daqueles que só sobrevivem às custas do suor de quem trabalha. Do outro lado, uma camarilha que drena os cofres públicos, tergiversam os resultados econômicos, ainda que alentadores, até que pareçam um problema. É o anti jornalismo que considerou a opção entre Lula e Bolsonaro uma escolha muito difícil. No entanto, enquanto o bolo cresce, as migalhas que “caem das mesas dos donos do papel” não são suficientes para saciar a fome de quem realmente produz a riqueza.
Esse teatro de disputas narrativas, onde números e gráficos tentam dar conta de uma realidade visceralmente desigual, apenas reforça a apatia coletiva, desviando o foco das verdadeiras contradições estruturais que sustentam o sistema.
Enquanto isso, a “humana manada” segue entre a resignação e a revolta, carregando o peso de uma ordem que promete progresso, mas entrega precariedade, e que fala em justiça, mas perpetua a exploração.
O Brasil enfrenta uma crise social e econômica que reflete profundas desigualdades, com sérias consequências para o conjunto da população pobre e trabalhadora. Em 2024, o número de pessoas em situação de rua atingiu 291,4 mil. Temos uma Islândia (322 mil hab.) de moradores de rua no Brasil.
Enquanto 11 milhões de habitações permanecem desocupadas em todo o território nacional, evidenciando a falência das políticas de moradia, emprego e renda, 6 milhões de pessoas não têm onde morar. Essa discrepância é um reflexo direto da ineficiência de uma ordem que favorece a propriedade privada em detrimento da vida.
Simultaneamente, o endividamento das famílias de baixa renda cresceu, atingindo 80,8%, com 37,7% delas em inadimplência. O uso do cartão de crédito como principal forma de financiamento, com 83,5% das famílias recorrendo a esse recurso, acaba por agravar ainda mais a situação econômica dessas pessoas. A alta nos preços da cesta básica, observada em 12 capitais no ano passado, compromete ainda mais o poder de compra, aprofundando a crise entre os mais pobres.
O mercado de trabalho também reflete essa precarização social. O número de trabalhadores informais aumentou 0,3%, chegando a 39,446 milhões de pessoas em julho de 2024, um dos maiores patamares históricos. A taxa de informalidade se manteve em 38,7%, evidenciando o avanço da precarização que grassa também a área educacional.
A educação pública das redes estaduais enfrenta uma grave crise, com o número de professores temporários superando os efetivos. Em 2023, as redes estaduais tinham 356 mil docentes temporários, contra 321 mil efetivos, representando um aumento de 55% nessa forma de contratação em comparação com 2013, e uma queda de 36% nos efetivos.
Em 15 estados, há mais docentes temporários do que concursados, refletindo a precarização do trabalho docente. São centenas de milhares de professores e professoras que a cada final de ano amargam a certeza do desemprego e a incerteza do ano que se inicia.
A violência no campo também se agrava. Em 2024, 11 pessoas foram assassinadas em conflitos agrários, com a Amazônia Legal liderando os casos de violência, como apontado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). O número de ocorrências de violência no campo em 2023 alcançou um recorde de 2.203, com 1.724 delas relacionadas a invasões, expulsões, despejos e outros tipos de agressões, especialmente contra comunidades indígenas e tradicionais. A lentidão na demarcação das terras indígenas e a omissão do poder público agravam ainda mais a vulnerabilidade dessas populações.
Em 2023, pelo menos 208 indígenas foram assassinados no Brasil, conforme relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O aumento de 15% em relação a 2022 revela a intensificação de ataques contra povos originários, agravada pela lentidão na demarcação de terras e pela omissão do Estado. Na mesma direção, os conflitos agrários em 2023 alcançaram recordes históricos, com 2.203 ocorrências, incluindo invasões, despejos e agressões contra comunidades tradicionais.
Nas cidades, as chacinas reiteram o genocídio negro e periférico. Entre 2016 e 2021, 305 chacinas foram registradas, deixando 1.184 mortos, sendo 878 em ações policiais. Em Salvador, apenas em setembro de 2024, foram registradas quatro chacinas, com 118 mortos, reflexo do aumento dos tiroteios e da ausência de políticas públicas efetivas para a segurança. Esses dados evidenciam a falência de um modelo econômico e social que não atende às necessidades do povo.
Renovar nossas esperanças e fortalecer nossos laços de solidariedade
Pelos corpos negros alvejados pelo Estado, pelos indígenas assassinados em suas terras ancestrais, pelos trabalhadores e trabalhadoras sem direitos, sem terra e sem teto, pelas famílias endividadas, a memória do dia 1º de janeiro clama pela renovação da luta por dignidade, justiça e liberdade.
Nosso tempo histórico expõe, visceralmente, a falência de um modelo econômico e social que não atende às necessidades do povo. A crise habitacional, a precarização do trabalho, o endividamento crescente, a violência no campo e a completa ausência de instrumentos concretos de emancipação coletiva para enfrentar essas desigualdades estruturais exigem uma reflexão profunda sobre como essa crise é, ao mesmo tempo, reflexo de um sindicalismo que se submeteu aos ditames do capital.
Da crise do capitalismo surge um modelo de sindicato incapaz de fazer frente aos desafios das classes trabalhadoras não apenas na luta por melhores condições de vida e trabalho, mas fundamentalmente em apontar uma perspectiva de mudança substancial na realidade brasileira.
O 1º de janeiro deve ser mais que um dia de celebração: é um chamado à luta em memória das inúmeras revoltas e revoluções que animaram povos da América Latina e outras partes do mundo a se levantarem contra toda forma de opressão e exploração. Haiti (1084), Guatemala (1944), Chiapas (1994), Rojava (2014), congregam-se à Revolução Cubana, como um farol a inspirar aqueles e aquelas que resistem à exploração, ao racismo, à violência e à opressão.
Que a chama da igualdade e da emancipação humana nunca se apague, mesmo em tempos tão sombrios, para que os próximos primeiros de janeiro não sejam um eterno mais do mesmo!
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*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.