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Extrema direita fracassa ao tentar usar CPIs como palanque, avalia Stedile

Instrumento de investigação legislativa vira 'circo', na avaliação de João Pedro Stedile, liderança do MST

Na estreia da nova temporada do podcast Três por Quatro, o Brasil de Fato debate o papel das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) para a democracia brasileira. O terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou marcado por diversas comissões, entre elas, a CPMI do 8 de Janeiro e as CPIs do MST, das ONGs, das Americanas e das Apostas Esportivas.  

O comentarista João Pedro Stedile, liderança do Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), avalia que "as Comissões Parlamentares de Inquérito, em geral, são importantes, mas, como diz o nome, é para fazer um inquérito, uma investigação, é para pesquisar", diferentemente do que foi, por exemplo, a CPI do MST. "A princípio, achávamos que eles iam investigar os problemas do campo. Porém, à medida que foi funcionando, a gente viu que, na verdade, era apenas um circo", avalia.

Para a convidada Marina Slhessarenko Barreto, cientista política e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), "a extrema direita perdeu no ano passado, mas está tentando emplacar suas pautas no Congresso Nacional. Fazer exatamente esse circo, como João Pedro falou, é uma estratégia que engaja muito a base”. 

Ao Três por Quatro, a pesquisadora esclareceu o papel desse instrumento das Casas legislativas para o processo democrático do país. Segundo Barreto, desde a redemocratização em 1988, o país vive um cenário em que “a Constituição Federal concedeu poderes para as CPIs efetivamente atuarem como um Poder Judiciário com poder investigativo".

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Barreto explica que as CPIs permitem a democratização de uma discussão pública. A lei que regulamenta a prática foi homologada em 1952, e prevê que o relatório final de cada colegiado seja encaminhado para órgãos federais como o Ministério Público e a Advocacia Geral da União: “O fato é que os órgãos teoricamente deveriam relatar os desdobramentos da CPI, porque é de grande interesse público saber que fim levou [a comissão]".

A pesquisadora cita o Programa de Proteção à Vítima, que surgiu depois da CPI do Narcotráfico, com a ressalva de que "o problema é que o dispositivo da lei de 1952 não é aplicado".

No ponto de vista de Barreto, "estamos num cenário de forças que estão absolutamente polarizadas para  tumultuar. O que a gente vê na CPI do 8 de janeiro, na CPI do MST, é justamente uma extrema direita querendo travar o debate público e engajar a sua base." 

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Para Stedile, "a direita percebe que perdeu correlação de forças no Executivo. Ela tenta usar o Legislativo para acuar o governo, inibir e criminalizar a luta social."

Em comparação com as CPIs realizadas durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, a pesquisadora afirma que "a correlação de forças era totalmente diferente”. Segundo Barreto, “a gente estava lidando com uma Controladoria Geral da República leniente à Bolsonaro, que se recusava a investigá-lo".

Ainda assim, a CPI da Pandemia ganhou grande repercussão no Congresso Nacional, terminando com 78 indiciamentos de pessoas físicas e 2 de pessoas jurídicas. 

"É muito temerário achar que uma CPI pode fazer tudo", comenta. "As pessoas não entendem, acham que ‘acaba em pizza’ porque não prendeu pessoas”. 

O podcast Três por Quatro é apresentado por Nara Lacerda e Igor Carvalho. Nesta nova fase, além dos comentários de Stedile a equipe também conta com a presença do ex-presidente do PT, José Genoíno.

Novos episódios do Três por Quatro vão ao ar toda sexta-feira pela manhã, discutindo os principais acontecimentos e a conjuntura política do país. 

 

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