Em breve conversa nesta segunda-feira (18) com o Brasil de Fato Paraná, o economista e especialista em transporte coletivo Lafaiete Santos Neves denunciou os empresários do transporte, que, desde os anos 1950, definem as políticas da prefeitura da capital do Paraná. Para o economista, o atual prefeito de Curitiba, Rafael Greca (DEM), está refém dos empresários do ramo do transporte.
Lafaiete assina a ação que investiga o repasse de cerca de R$ 200 milhões da Prefeitura de Curitiba para ajudar as empresas de transporte público municipal durante a crise econômica provocada pela pandemia de covid-19. Na última quinta-feira (14), o Ministério Público do Paraná pediu esclarecimentos à Prefeitura sobre esse repasse, previsto por medida enviada à Câmara Municipal pelo próprio prefeito e aprovada pelos vereadores no início de maio. Enquanto isso, Greca está proibido de realizar o repasse.
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Brasil de Fato Paraná: Temos, neste momento, menos ônibus, aglomerações nas ruas. O prefeito Rafael Greca coloca para as pessoas que não tem recursos, mas faz repasse de milhões aos empresários. Como entender esse quadro?
Lafaiete Santos Neves: O prefeito é refém dos empresários de ônibus. E já faz muito tempo. Vou destacar dois prefeitos. Um [prefeito] rompeu [com as empresas], que foi o Requião (1986-1989); e o outro tentou romper com esse sistema, que foi o prefeito Gustavo Fruet (2012-2016). Em 1954, Ney Braga foi prefeito de Curitiba e doou as linhas de ônibus para os empresários. A família Goulin é a mais conhecida. Na época de Lerner (de 1974 a 1979, durante a ditadura), não teve licitação. O Ministério Público obrigou a fazer a licitação em 2009. O Beto Richa era o prefeito e enviou um projeto cheio de fraudes. Requião havia assumido em 1985 e atacou os empresários, com aquele panfleto dizendo “Mãos ao alto, que a tarifa é um assalto” e ganhou a eleição porque mostrou que Lerner estava atrelado aos empresários do transporte desde 1974, quando implantou o Ligeirinho. Requião, por sua vez, criou uma frota pública e tinha como controlar a tarifa. Na volta de Lerner à prefeitura (1988), ele desfez tudo o que Requião havia feito.
Fruet também foi muito pressionado pelos empresários, não?
O slogan dele era “vou abrir a caixa-preta do transporte”. Nomeou uma comissão, entre os quais eu fui nomeado. Preparamos um relatório, ficamos quatro meses na Urbs, mostramos que a licitação foi irresponsável (…). A concessão é pública, mas ninguém sabe quanto eles pagam no diesel, porque não mostram a nota, pneus e todos os insumos.