Sérgio Moro chegou ao cargo de ministro da Justiça, com a promessa de atuar de forma independente no combate a corrupção. A carta branca prometida nunca fora entregue. Ao tentar engavetar os processos do “Laranjal”, no caso Queiroz, o Superministro mostrou ao chefe ser um servo leal. Moro tinha também a esperança em ser indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde, convenhamos, poderia ser mais eficiente na aliança entre o governo Bolsonaro e os corruptos.
Adorado por cerca de 60% da população, Sérgio Moro criou mais referência política na direita do que seu chefe. O que não só incomodou o presidente, mas também seus robôs programados para odiar tudo que for de encontro aos interesses da família Bolsonaro.
A insatisfação entre o ministro e o presidente não começou de agora. Muito antes, a relação já dava sinais de desgaste. Lembremos o episódio de quando Bolsonaro decidiu mudar as regras do COAF, ameaçando até a mudança de pasta. Tal decisão gerou discussões entre os dois, incendiadas pelos filhos do presidente.
Aos poucos, a Polícia Federal estava chegando próximo de encontrar os verdadeiros responsáveis pela rede miliciana de fake news que assombra o país. Isto, claro, não estava agradando o Planalto. Afinal, todos os indícios confirmam a estreita participação do zero dois, Carlos Bolsonaro, e seu principal financiador Luciano Hang no esquema.
Ao perceber a movimentação desleal de Bolsonaro para interferir nas investigações e mudar o comando da PF, Moro havia manifestado que pediria demissão do cargo caso isso acontecesse. A demissão foi concretizada na entrevista coletiva concedida nesta sexta-feira (24). Sendo mais que uma coletiva de demissão, o ex-ministro jogou a público sua insatisfação com as posturas do atual governo no combate a corrupção. Deixou claro que o problema não é quem entra e, sim, o motivo que entra. Lembrou ainda que a PF tinha total autonomia nos governos do PT.
Sergio Moro passará de herói para o mais novo comunista? O que se sabe é que o governo Bolsonaro definha a passos largos. Com a saída de dois de seus principais aliados, Mandetta e Moro, com alguns dias de diferença, o governo demonstra a sua fragilidade.
Sendo uma instituição que sempre zelou por sua autonomia e eficácia, a PF ainda não se pronunciou em relação ao fato. O ex-ministro, porém, deu a entender que há muito a ser esclarecido e que a instituição não irá engolir tão facilmente a intervenção do presidente.
Hilder Andrade é jornalista.