Na esquina da miséria com a tragédia se reúnem meia dúzia de jovens.
O funk na caixinha fala das bebidas mais caras nos lugares mais bonitos com as mulheres mais sedutoras. Um vai e vem que inveja os comerciantes da região.O mais novo, descalço e mancando vai até o carro que para. Tira a bucha da boca, pega o dinheiro. Uma moto, vai o gordinho ainda de luto pelo seu irmão mais novo que morreu afogado no rio, vende três pra fumar uma. E assim segue o revezamento até que se perdem na ordem:
– sai fora seu burro, não sabe contar não?
– burro é você cara, nem vem, toda hora quer passar a mão na minha cara, você viu que eu entreguei pro carro vermelho aquela hora, agora é minha vez!
– bem eu que sou burro né seu índio, não sabe nem falá e ainda tá querendo pagá de pá.
– firmeza, pode continuar assim… nem era mais pra você tá trabalho aqui cara, só dá prejuízo.
– se eu quiser eu saio daqui, falta só um ano pra mim terminar os estudos, não vou ficar aqui pra sempre.
– então vai lá o espertão, se você fosse tão estudado assim não tava pegando luz do poste dos outro.
– o poste é seu agora?
Vai arrumar esses dente aí que pelo menos eu tenho todos.
Sujou, sujou! Grita o manquinho com a caixa na mão. Um gol branco passa, policiais à paisana saem rapidamente, os dois, pegos de surpresa engolem o flagrante, a multidão dispersa.
– Mão na cabeça seus lixo.
De repente um dos jovens cai, havia engolido algumas buchas que provavelmente se abriram em seu estômago. Horas depois a rua cheia de polícia, IML e curiosos. A lojinha fechou. O rapaz que tinha o sonho de voltar a estudar morreu na contramão atrapalhando o tráfico.