O milho é uma marca da alimentação dos brasileiros e brasileiras. Segundo um levantamento feito pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no biênio 2015-2016 foram produzidas 7,8 milhões de toneladas de milho no Brasil. No nordeste, o milho, junto com o feijão e outros alimentos, é a base da alimentação justamente, por suas várias formas de preparo. Uma delas é o cuscuz. A receita simples e a variedade de acompanhamentos torna o cuscuz uma comida quase que diária na alimentação dos nordestinos. Mas, como a grande maioria dos grãos produzidos, o cuscuz é feito com milho transgênico e cultivado com agrotóxicos.
Diante deste cenário, tem crescido a produção de alimentos agroecológicos in natura e também beneficiados, como o Cuscuz de Milho Criolo. A proposta é inserir no mercado um produto agroecológico, sem o uso de sementes transgênicas ou veneno, que seja beneficiado por agroindústrias ligadas à agricultura familiar.
Na Paraíba e em Sergipe, o cuscuz já vem sendo produzido há mais ou menos um ano. Em Pernambuco, na região do Sertão do Pajeú, o cuscuz é uma iniciativa do Movimento Camponês Popular (MCP), que começou a produção no primeiro semestre desse ano. Cerca de 50 famílias estão envolvidas na produção do milho para beneficiamento no estado, apenas nesse primeiro semestre. Mas, a expectativa é de crescimento. “A proposta nasceu de uma demanda da produção dos agricultores de beneficiar o milho e transformar ele no produto que agregue valor e que fosse um produto livre de transgênicos” afirma Sandreildo Santos, integrante do MCP, agricultor e responsável comercial pelo produto.
Da produção ao armazenamento, todos os cuidados são tomados para que o milho não seja contaminado pelos agrotóxicos das produções vizinhas e também durante o processamento. Os grupos de produtores se organizam nas comunidades rurais, onde o ponto de partida é resgate das sementes criolas. A partir daí é feito o acompanhamento entre as famílias, com formação técnica para o plantio de alimentos agroecológicos, a potencialização da produção e beneficiamento dos alimentos e produção das sementes para dar continuidade ao plantio. Todo o milho é produzido em Pernambuco, mas beneficiado na Bahia. A questão é que o maquinário disponível em Pernambuco beneficia milho transgênico, e caso o milho criolo seja processado nessas máquinas, há chances de contaminação. Por isso a necessidade de transportar o milho até o estado vizinho, garantindo as propriedades e a qualidade do alimento. Sandreildo projeta o fortalecimento da produção e do beneficiamento no estado “O cuscuz é beneficiado na Bahia porque lá existe uma agroindústria que beneficia, já que não temos a estrutura em Pernambuco e em Sergipe. Isso infelizmente deixa o produto com um valor mais elevado. Estamos trabalhando para conseguir os equipamentos em Pernambuco, o que vai diminuir o valor e manter a qualidade”.
Além de inserir um produto saudável e completamente livre de veneno, a produção do cuscuz organiza as famílias, gera renda a longo prazo, já que o milho in natura precisa ser vendido mais rápido do que um produto beneficiado, que dura meses de venda, e dá a oportunidade de manter a juventude no campo, já que nas agroindústrias a maioria dos trabalhadores são jovens.
O cuscuz já vem sendo vendido para escolas e hospitais, mas a venda individual para consumidores também vem sendo feita. O preço por quilo varia de acordo com a região. Onde o milho é produzido, a tendência é que o valor seja mais baixo. Aqui, o quilo do cuscuz fica pelo preço médio de R$ 3,50. Ainda que seja um pouco acima do valor comum, Sandreildo reforça o diferencial do produto “Ainda não é um preço muito barato, mas é um produto diferenciado, pela certeza de estar consumindo o produto completamente saudável”. Temporariamente, a venda é feita por encomenda, mas a proposta é distribuir em feiras agroecológicas e no Armazém do Campo, espaço do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que será inaugurado nos próximos meses no Recife. As encomendas são feitas por telefone, pelo número (87) 996021055.