O encerramento dos Jogos Olímpicos de Tóquio aconteceu neste domingo (8), e os representantes nordestinos deixaram os pódios muito mais dourados. Por muitos anos, competimos com um discurso que perpetua uma eterna miséria social e econômica da nossa região, mas esses atletas afirmaram e reafirmaram qual era a verdadeira posição do Nordeste no cenário brasileiro e mundial: com medalha dourada num pódio olímpico. Se já somos ouro nas urnas contra o fascismo, do outro lado do mundo continuamos realizando conquistas históricas.
A delegação brasileira chegou a Tóquio com 304 atletas, dentre esses, 47 eram nordestinos, sendo 29 mulheres e 18 homens. Todos os nove estados da região foram representados com pelo menos um atleta e, das 7 medalhas de ouro que o Brasil conquistou, 4 foram de esportistas nordestinos. Se fosse um país, o Nordeste teria mais medalhas que Espanha, Argentina e Portugal.
O potiguar Ítalo Ferreira conquistou o primeiro ouro do Brasil em Tóquio, mas também a primeira medalha da história do Surfe brasileiro; do interior do Maranhão, a jovem Rayssa Leal, de 13 anos, abraçou uma medalha de prata no skate street. A Bahia reafirmou sua origem dourada e Ana Marcela Cunha subiu no lugar mais alto do pódio com uma vitória arrepiante em uma prova de maratona aquática, que teve dez quilômetros com duração de duas horas.
A baiana Ana Marcela Cunha venceu os 10 km da maratona aquática e conquistou mais uma medalha de ouro para o Brasil na Olimpíada de Tóquio / Oli SCARFF / AFP
Os pugilistas soteropolitanos Hebert Conceição e Beatriz Ferreira também conquistaram medalhas de ouro e prata, respectivamente, lutando de forma incansável daquele jeito que o nordestino sabe bem como é. E pra fechar, dentro da baía de Tóquio surgiu uma canoa em velocidade com o destemido baiano Isaquias Queiroz, que remou até seu ouro sem olhar para trás. Destacamos ainda a medalha coletiva do futebol masculino, com as presenças dos paraibanos Santos e Matheus Cunha, do pernambucano Nino e do baiano Daniel Alves.
Isaquias Queiroz conquista ouro na canoagem / Foto Divulgação.
Se já somos ouro nas urnas contra o fascismo, do outro lado do mundo continuamos realizando conquistas históricas.
Do choro de Ítalo à luta dançante de Beatriz Ferreira, o Nordeste permaneceu vivo. Ali, do outro lado do mundo, no maior evento esportivo do planeta, solidificávamos nossa história. O migrante sofrido, ‘candango’, ‘paraíba’ agora domina espaços, ganha respeito, conquista posições, pódios, medalhas e afirma que somos mais, que é possível.
Beatriz Ferreira comemora classificação para a final nos jogos olímpicos / @miriamjeske.photo/COB
Os nordestinos sozinhos superaram países importantes no cenário esportivo e no quadro de medalhas, levaram o nome da região ao lugar mais alto do pódio, esmurraram o preconceito, remaram contra todo e qualquer rótulo, surfaram quebrando as ondas do fascismo e até radicalizaram manobrando a indiferença de alguns ufanistas brasileiros. Tudo isso resistindo até debaixo d’água com braçadas fortes de vida rumo ao sucesso. “Eu mereço pra car@lh#! Eu sou medalhista olímpico, eu cheguei até aqui, porr@. Viva Brasil, viva Nordeste, viva Bahia!”, bradou retumbante o pugilista Hebert Conceição. Sim, merecemos! Mostramos que numa ‘paraibada’ olímpica o Nordeste foi gigante, resistente, persistente e, acima de tudo, dourado.
Hebert Conceição conquista a medalha de ouro no boxe peso-médio / Foto: Rodolfo Vilela/rededoesporte.gov.br
*Polyanna Gomes é jornalista e escrevinhadora das coisas lá do sertão, mas também é uma apaixonada pelo movimento de vida que o esporte proporciona.