A morte do arquiteto e artista Luiz Felipe Bernardes dos Santos, de 36 anos, conhecido como Macalé, pode nunca ser solucionada.
Seu corpo foi encontrado na madrugada do dia 30 de maio, no vão do viaduto Sumaré, na zona oeste de São Paulo. No Boletim de Ocorrência, a Polícia Civil registrou sua morte como suicídio, tese refutada pela família e amigos.
Pessoas ligadas ao inquérito, que corre em sigilo no 23º Distrito Policial, em Perdizes, também na zona oeste da capital paulista, informaram ao Brasil de Fato que os investigadores consideram o caso “praticamente perdido”, por dois motivos.
O primeiro, a perda das imagens de câmeras de residências e comércios próximos ao local onde o corpo de Macalé foi encontrado.
As imagens de câmeras de segurança podem ficar armazenadas por até 30 dias, antes que o sistema as delete automaticamente. Com a demora da polícia em solicitar os arquivos, os registros já haviam sido apagados e não há imagens de Macalé chegando no viaduto. Portanto, não é possível saber se ele se atirou ou se foi jogado de cima da ponte.
Além disso, as câmeras da Companhia de Engenharia e Tráfego (CET), que monitoram a região do viaduto Sumaré, não estão funcionando.
Sem as imagens, os investigadores esperavam localizar o ciclista que ligou para a Polícia Militar para comunicar que um corpo havia caído da ponte, mas não conseguiram a identidade da possível testemunha.
O celular de Macalé foi periciado pela polícia, mas também não trouxe novos elementos para a investigação. O aparelho foi devolvido para a família. João Machado, amigo do arquiteto, criticou a investigação policial e disse que a tese do suicídio segue sem ser aceita entre as pessoas do círculo de amizade do arquiteto.
“Nós, enquanto amigos de Macalé e pessoas de seu convívio, sabíamos que ele não tinha traços psicológicos para se suicidar. Estamos desolados com essas informações, porque geram na gente muita frustração, com relação à demora das coisas. Se as câmeras foram solicitadas muito tarde, é porque houve uma demora”, comentou.
Ainda de acordo com Machado, houve tempo para que a polícia agisse para adquirir as imagens. “Desde o primeiro instante, essa morte foi colocada como suspeita e passível de não ser um suicídio. Essa investigação foi muito lenta e isso é muito preocupante. Estamos completamente desolados e sem saber o que falar e fazer. É uma enorme injustiça, imperícia e falta de segurança.”
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) informou ao Brasil de Fato que “os atos de polícia judiciária estão sendo todos adotados, nos exatos termos da legislação vigente.”
O caso
O corpo do arquiteto e artista Luiz Felipe Bernardes dos Santos, conhecido como Macalé, foi encontrado às 3h20 da madrugada do dia 30 de maio, um domingo, no vão do Viaduto Sumaré.
Para a Polícia Militar, trata-se de suicídio e é essa a causa da morte apontada no Boletim de Ocorrência. Porém, a tese é refutada por amigos e pela companheira do jovem.
Patrícia Brasil, sua companheira, afirmou ao Brasil de Fato, na época, que Macalé estava em um bom momento na vida e que não tinha motivos para se matar.
“Nossas últimas conversas no Whatsapp, todas mostram ele animado e feliz, me mostrando as imagens dos lugares que ele passou, me mandando fotos. Em nenhum momento ele pareceu triste, como se fosse fazer algo contra ele mesmo.”
O educador Sócrates Magno esteve com Macalé na noite que antecedeu a morte do arquiteto. “Falamos a semana inteira, eu fui convidado para um projeto de humor e queria que ele me ajudasse. No sábado estávamos juntos no bar, ele estava bem. Ele nunca teve pensamentos suicidas e não havia motivos para isso”, explica o amigo.
Noite no bar
Recolhendo informações com as pessoas que passaram as últimas horas com Macalé, é possível saber que no sábado (29), ele saiu para encontrar os amigos em um bar na região da Consolação, por volta de 19h30.
No mesmo horário, havia uma manifestação contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que interrompeu o trânsito na região da Consolação e da avenida Paulista e fez com que o arquiteto descesse do ônibus para caminhar até o estabelecimento, onde seus amigos já estavam.
Após 21h, o bar fechou, em respeito ao decreto que vigorava em São Paulo e que determinava o horário de funcionamento de estabelecimentos no período da pandemia. Sócrates foi embora para sua casa. Foi então, que Macalé seguiu para outro boteco, que aceitava clientes após o horário permitido.
Por lá, ficou até 1h35 da madrugada, quando seguiu em um carro, chamado via aplicativo, para sua casa, no bairro da Água Branca, na zona oeste de São Paulo. Os dados da corrida mostram que Macalé chegou em sua residência 1h53, de acordo com Alexandre Santos, primo do arquiteto.
Santos, que também é vizinho de Macalé, mora nos fundos da casa, e estava com o celular do arquiteto no dia de sua morte.
“No Uber acusa que ele veio para cá. Mas eu não consigo te ajudar em nada, porque moramos no fundo. O que supostamente aconteceu aqui dentro, a gente não sabe. Se ele realmente veio aqui, se foi ele que esteve aqui. Só recebemos o telefonema depois do ocorrido.”
Patrícia Brasil foi dormir após 1h11 da madrugada, horário de sua última troca de mensagens com Macalé, que a informou que já estava de partida do bar. Às 3h57, a Polícia Militar tentou contato com ela, para informar a morte do arquiteto, mas a ligação não foi atendida.
“Eu mandei uma mensagem para o Macalé logo cedo, para falar do livro que estou lendo, ele que me deu. Mas ele já estava morto. O primo do Macalé, Alexandre, foi quem me ligou por volta de 12h, dizendo que o Macalé não tinha voltado para casa. Aí, retornei para o número que me ligou de madrugada, já era 13h e o telefone era da polícia, me informaram da morte”, lembra Brasil.
Casa revirada
O que intriga a companheira e os amigos é o que ocorre após a chegada de Macalé em sua casa. De acordo com Alexandre Santos, o primo, e Brasil, a mochila que o arquiteto usava naquela noite e madrugada, estava no seu quarto, ao lado de sua máscara e uma garrafa de água.
Os objetos largados no quarto confirmam que Macalé teria passado na casa. Porém, suas roupas estavam reviradas e um notebook desapareceu, assim como o anel de formatura do arquiteto.
Macalé saiu com vida da casa? Se saiu com vida, para onde estava indo? Havia alguém com Macalé, após às 2h, quando ele teria saído novamente de casa? Essas perguntas podem ficar sem resposta.