As dissidências que hoje marcam a relação entre as cúpulas do PT e do PSB em alguns estados do país não foram suficientes para desacreditar a militância pessebista em relação às eleições para presidente da República.
Durante a convenção nacional do PSB, realizada nesta sexta (29), em Brasília (DF), onde foi oficializado o nome de Geraldo Alckmin como vice de Lula, a base da sigla anfitriã defendeu a parceria entre os dois partidos e disse sonhar com uma eventual vitória em primeiro turno.
A expectativa vem no rastro das últimas pesquisas de opinião. No levantamento mais recente do Datafolha, publicado na última quinta-feira (28), Lula aparece com 52% dos votos válidos, o que seria suficiente evitar um segundo turno. Considerando a margem de erro, são cerca de 20 pontos de diferença entre o petista e o presidente Jair Bolsonaro (PL), que tem 32% dos votos válidos.
"Eu acredito que a gente arrasta no primeiro turno, sim, com certeza. Estamos positivos pra isso", disse Thalissa Flexa Monte Verde, que ingressou no partido recentemente e veio de Belém (PA) para participar pela primeira vez da convenção nacional.
A expectativa contrasta com o que projetam alguns caciques da esquerda, como o ex-governador do Maranhão Flávio Dino (PSB). Em conversa com alguns jornalistas no local do evento, Dino confessou não contar com vitória em primeiro turno. Apesar disso, militantes mais entusiasmados dizem botar fé numa liquidação da disputa logo de início, em 2 de outubro.
"Tenho muita esperança no coração. Não existe eleição ganha pra ninguém, mas também ninguém quer se desgastar mais com este governo que está aí, por isso eu acredito em uma vitória o primeiro turno", disse Lilian Pollyana Dias Ferreira, pré-candidata a deputada estadual em Pernambuco.
Essa foi a expectativa manifestada por uma série de militantes ouvidos pelo Brasil de Fato nos bastidores do evento, que reuniu mais de 400 filiados na capital federal, entre integrantes da base do partido e interlocutores de projeção nacional. Além de Dino, compareceram à convenção o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, e o deputado federal Marcelo Freixo, candidato ao governo do Rio de Janeiro.
Questionado pela imprensa a respeito da corrida no estado, o ex-psolista evitou comentar o assunto, que é atualmente um dos principais imbróglios enfrentados pela aliança PT-PSB. As duas siglas ainda vivem impasses em torno de quem será o candidato conjunto a senador e também enfrentam fissuras em outras bases, como Rio Grande do Sul e Pernambuco.
"Acredito que o Molon (PSB) seja um melhor candidato que o Ceciliano (PT), porém, a gente compreende que existe essa questão de acordos nacionais e estaduais. É realmente uma questão delicada, mas acho que a gente vai resolver porque é importante que a esquerda esteja unida no estado”, acredita a professora Mariana de Oliveira, 34, pré-candidata a deputada estadual no Rio de Janeiro.
Mariana de Oliveira Bossan, 34, filiou-se ao PSB ainda adolescente, aos 16 anos, depois se afastou e retornou recentemente: "É preciso participar deste momento de luta nacional" / Cristiane Sampaio
Questionada se acredita que essas divergências em palanques locais possam atrapalhar de alguma forma a chapa nacional, a militante Shirlei Moura, de São Paulo, descarta a possibilidade: "Penso que o povo brasileiro já entendeu que é preciso tirar Bolsonaro do poder, por isso as questões estaduais não vão influenciar o [jogo] federal".
Integrante do movimento negro e lésbica, Shirlei atua politicamente no segmento do PSB que reúne o público LGBTQIA+. Ela migrou do PT para o partido vizinho e diz celebrar a confluência de forças entre Lula e Alckmin no atual contexto histórico do país.
"No momento, foi necessária essa união pra ser contra este governo. Foi necessário pra unir o país e a esquerda e a centro-esquerda. Eu acolhi com bons olhos porque, como Alckmin, gosto de política do 'senta e conversa', moderada. Admiro Lula, a garra. Com Alckmin, política moderada. Penso que seja uma dobradinha perfeita", opina.
Frente ampla
Materializada na formação da chapa PT-PSB, a perspectiva de composição de uma frente ampla para derrotar Bolsonaro é endossada também por outros movimentos que ocorrem em diferentes segmentos pelo país.
É o que se observa, por exemplo, no manifesto em defesa do sistema democrático encabeçado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), que vem reunindo uma grande coleção de apoiadores, incluindo empresários e banqueiros. A lista de signatários já soma mais de 400 mil nomes.
O experiente Odmar Péricles Nascimento, que milita no PSB há 36 anos e veio a Brasília para participar da sua 12ª convenção nacional, comemora a emergência da iniciativa. Ele vê uma comunicação entre a atitude dos empresários e o coro do campo progressista pela composição de um amplo arco anti-Bolsonaro para tentar conter os arroubos antidemocráticos do presidente, que segue acenando em prol de um possível golpe.
"Esse manifesto vem colocar uma cereja no nosso bolo. É muito bom saber que também no andar de cima há uma manifestação a favor [da democracia], e isso coloca uma pá de cal nessa conversa de ataque às urnas e golpe. Isso é só na cabeça do Bolsonaro. Ele não consegue juntar mais ninguém com essas ideias dele, por isso acho importante os empresários também estarem se manifestando."
"População precisa reconquistar a fé na política", diz Odmar Péricles Nascimento / Cristiane Sampaio
Péricles acredita que a atual maré anti-Bolsonaro pode ajudar a população a, quem sabe, "reconquistar a fé na política". "É preciso recuperar essa confiança, que se perdeu com esse acidente que a história nos deu. Bolsonaro é um acidente. Eu acho que a chance é agora."