Na manhã do dia 1º de setembro, oito integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) provocaram tumulto e agrediram estudantes e uma funcionária na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Minutos antes de entrarem no Edifício D. Pedro I, mais precisamente dentro do Centro Acadêmico de História, munidos de câmeras e spray de pimenta, os militantes chegaram a gravar um vídeo exposto em suas redes sociais dizendo que iriam entrar para verificar “as vagabundagens que estão defendendo”.
A UFPR emitiu nota condenando a ação do grupo e informou que, através da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, fez boletim de ocorrência junto à Polícia Civil do Paraná.
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Agressões semelhantes ocorreram em 2016, quando estudantes de ensino médio ocuparam escolas estaduais contra a Reforma do Ensino Médio. Na época, em Curitiba, militantes do MBL entravam nas escolas e agrediam estudantes.
Para analisar a ação, o Brasil de Fato Paraná conversou com o professor e pesquisador de Comunicação Política e Opinião Pública do Departamento de Ciência Política da UFPR, Emerson Urizzi Cervi, que destacou ser esta uma tática pré eleitoral.
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Professor e pesquisador da UFPR, Emerson Urizzi Cervi / Divulgação
Brasil de Fato Paraná: Os militantes do MBL gravaram um vídeo dizendo que a ação era para mostrar as “vagabundagens” feitas dentro de uma universidade pública. Essa também era uma fala de ex-ministros e do ex-presidente Bolsonaro. O que está implícito nesta ação e discursos?
Emerson Cervi: Trata-se de uma atuação prevista em formas de atuação desse tipo de grupos da extrema direita internacional. Nos Estados Unidos há um grupo chamado Proud Boys com a mesma forma de atuação: entrar em prédios públicos, agredindo, ofendendo e gravando. Dois líderes desse grupo já foram condenados pela invasão do Capitólio e estão cumprindo pena.
No Brasil há grupos parecidos com esse, com a mesma motivação. A universidade pública, infelizmente, não consegue atender a todos os jovens em idade escolar. Há um processo seletivo e alguns daqueles que não conseguem ser aprovados transformam a frustração em raiva e acabam se voltando contra as atividades daqueles que estudam e trabalham em prédios públicos. Não foi o bolsonarismo que causou isso. O bolsonarismo apenas deu vazão para esses sentimentos que estão historicamente presentes em alguns segmentos da sociedade.
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O MBL fez ações semelhantes em 2016, durante as ocupações das escolas de ensino médio. Você acredita que seja também uma estratégia pré-eleitoral, já que naquela época saíram vários candidatos desses militantes do MBL?
Sim, há uma conexão temporal entre período pré-eleitoral municipal e essas ações de vândalos. O motivo é que a extrema direita busca caminhos alternativos à vida partidária para chegar aos postos eletivos como a Câmara de Vereadores.
Muito antigamente era via meios de comunicação (havia uma bancada de radialistas), depois passou a ser via lideranças religiosas (havia uma bancada de pastores) e agora é via influenciadores de extremismo na redes sociais online.
Em 2020 já foram eleitos alguns com esse perfil. Agora está na hora de buscar likes e compartilhamentos em redes sociais para que no ano que vem parte disso se transforme em votos. E é um caminho que tende a permanecer, pois, para eleger-se vereador de um município basta 1% de votos. Quer dizer, se em um município houver 99% de eleitores contrários a discurso de ódio, radicalismo e ações de vandalismo para gerar capital eleitoral, ainda assim, é possível eleger-se com esse tipo de estratégia. E, em Curitiba, infelizmente esse percentual está bem abaixo de 99%.
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Esse ódio à universidade pública, tão propagado na eleição que elegeu Bolsonaro e que faz parte da narrativa do MBL, ainda repercute na sociedade?
Há uma parcela da sociedade que sempre nutriu algum sentimento negativo em relação ao poder público. Para a universidade esse percentual ainda é maior, pois a concorrência é grande e para cada aprovado no vestibular, outros dez passaram pela experiência de reprovação todos os anos.
Claro que isso não justifica a violência e vandalismo. Apenas em uma minoria o sentimento de derrota é transformado em comportamento violento contra a universidade pública. O problema é que para esses casos não há informação suficiente para modificar o comportamento.
Ou nós entendemos que a origem do problema está no discurso extremista ou continuaremos "enxugando gelo" e periodicamente veremos cenas lamentáveis como as ocorridas na UFPR. O pior é que a violência de militantes extremistas sempre pode crescer e as agressões externas à universidade, alunos e funcionários se transformarem em coisas mais graves.
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