O ano letivo inicia nas escolas municipais de Curitiba (20 de fevereiro) e nos colégios estaduais (6 de fevereiro).
Para famílias de trabalhadores, mães trabalhadoras e áreas de ocupação nas periferias de Curitiba, o impasse é sempre doloroso: como gastar com os itens de material escolar – cadernos, lápis, mochila, uniforme, e demais itens da lista, no meio de tantos outros gastos e do salário curto?
O que hoje não é fornecido como política pública na capital paranaense. Lideranças comunitárias recorrem então a doações e (importantes) campanhas de solidariedade.
Outras ainda estão na correria atrás da cobertura de um apoio para sua comunidade. É o caso de Ketlin Cavalheiro Da Silva, moradora e mãe na área Vila União, ocupada desde 2021. Ela é mãe de seis filhos, e apenas um deles, recém-nascido, não tem essa demanda.
“Eu tiro R$ 600 de benefício, tenho duas crianças que usam fralda, buscamos alguém que possa doar para nós. Ontem chorei de nervoso, a aula da minha menina começa no dia 16, eles pedem a lista de material, com 100 folhas, lápis de escrever, várias coisas”, comenta.
Diana Abreu é presidenta do Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (Sismmac) e defende que deveria haver destinação de um recurso para as famílias necessitadas.
“Penso que precisa garantir condição mínima, inclusive porque o tema do material expõe desigualdade da criança, como ponto de partida. Começar o ano sem material escolar coloca a criança em condição desumana”, aponta.
A direção do sindicato do magistério municipal vai se reunir no dia cinco de fevereiro, após recesso, e deve apontar apoio às campanhas populares por doações.
De acordo com Diana, hoje apenas algumas escolas reservam o dinheiro do fundo rotativo da educação para compra desses itens. Por outro lado, famílias das comunidades falam em constrangimento para acessar estes já poucos materiais reservados em algumas escolas.
Entidades sociais puxam campanha de arrecadação
Nos bairros de Curitiba e região, organizações sociais como Usina de Ideias, do bairro Parolin, e União de Moradores e Trabalhadores (UMT), com inserção sobretudo no Novo Mundo, no chamado Bolsão Formosa, fazem o corre da campanha de arrecadação e apadrinhamento de crianças junto à sociedade civil.
Andréia de Lima, liderança popular do Parolin, está organizando campanha a partir da Ong Usina de Ideias, tentando arrecadar material e destinando “às mães do Parolin, Fanny, Lindoia, Icaraí, entre outras áreas de Curitiba”, informa.
Neste tema, Andréia, hoje promotora legal popular, ex-candidata à deputada estadual, remete à própria história, quando recorda que, na infância, sem uma mochila, carregava material escolar dentro de um pacote de arroz. “Hoje posso fazer e ter parceiros, para transformar e oferecer material escolar novo. E estimular, doar e fazer o acompanhamento, que as crianças têm que ser aprovadas, e ter como meta passar de ano, para no final do ano ganharem os brinquedos que querem”, aponta, contando que faz o acompanhamento na escola municipal e já chegou a organizar uma viagem de fim de ano para a criançada.
Já a União de Moradores e Trabalhadores (UMT), em suas ações solidárias, têm atendido comunidades no Formosa, Sabará (CIC), Tatuquara, na cidade de Pinhais e Corbélia (CIC), entre outros locais.
A chamada da campanha informa que: “O objetivo da UMT é garantir que crianças tenham acesso adequado a materiais escolares essenciais para o seu desenvolvimento educacional”, afirma.
Frase
No fundo do debate, em que pese a atual cultura de não cobrar do poder público por estes itens e condições para o ensino, as lideranças apontam que essa pauta deve ser retomada.
“É preciso priorizar a educação, pela educação a gente salva vidas, que as crianças estejam na escola e não acessadas pelo tráfico, criar pensadores, criar pessoas pensantes que estamos aí nessa sociedade manipulada e com centenas de fake news. Falta investimento em educadores, e acho que seria obrigação o fornecimento de material escolar, como ocorre em São José dos Pinhais, Colombo, na região metropolitana, cidades com PIB menor que Curitiba, mas aqui não se investe em qualidade do ensino na periferia”, afirma Andréia de Lima.
Falta investimento em educadores, e acho que seria obrigação o fornecimento de material escolar, como ocorre em São José dos Pinhais, Colombo, na região metropolitana / Divulgação
Investimento Público
Algumas prefeituras no Paraná já destinam recursos para compra e entrega de material escolar. É o caso, por exemplo, de Fazenda Rio Grande, Araucária. E também de Ponta Grossa, que reserva 23 mil kits de materiais individuais para todos os alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. O valor investido nos materiais cedidos aos alunos é de R$ 894.185,00. No total, informa a prefeitura, o valor das aquisições para o início de um ano letivo com qualidade é de R$ 3.806.307,70.
Outro lado – Nota da prefeitura de Curitiba
Em nota ao Brasil de Fato Paraná, a assessoria da Secretaria Municipal de Educação reforça que busca uma educação com equidade, para que as crianças "tenham condições adequadas para desenvolver seu potencial educacional, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade. Esta iniciativa, encontra respaldo no repasse de recursos financeiros às Unidades da Rede Pública Municipal, para a manutenção do dia a dia da unidade e outras despesas relacionadas com as atividades educacionais, com itens de materiais didáticos e pedagógicos, que poderão ser comprados com os recursos (cadernos, lápis, caneta, borracha, cola, apontador, régua entre outros), desta forma, a equipe gestora de cada unidade educacional da RME poderá atender aquelas famílias que não dispõem de recursos para a compra dos materiais escolares para o ano letivo, evitando que os estudantes sofram prejuízos pedagógicos pela falta de material.
Do recurso repassado, em 5 parcelas anuais, para as unidades educacionais pelo Programa Fundo Rotativo, criado pela Lei Municipal nº 14755, de 25 de novembro de 2015 e regulamentado pelo Decreto nº 281, de abril de 2016, 70% do valor total é designado para a “cota consumo”, destinada a compra/aquisição dos materiais didáticos e pedagógicos para os estudantes/crianças matriculados nas unidades educacionais pertencentes à Rede Municipal de Ensino (RME).
Em 2023 foram destinados R$ 20.246.924,90 para 429 unidades da Rede Municipal de Ensino, sendo 70% dos recursos destinados para a Cota Consumo, no valor de R$ 14.172.846,80 e 30% para a Cota Serviço, no valor de R$ 6.074.077,47".
Como contribuir:
União de Moradores e Trabalhadores (UMT)
Doação em Dinheiro (PIX): CNPJ: 52.503.464/0001-14.
2. Doação de Materiais Escolares:
– Se preferir contribuir com materiais escolares, a UMT está pronta para buscar as doações. Itens como cadernos, lápis, borrachas, mochilas, tênis e uniformes escolares, em bom estado, usados em escolas da região serão extremamente bem-vindos!
Como participar para fazer a sua doação:
– Entre em contato com o Ivan WhatsApp (41) 99925-2576 ou Juliana WhatsApp (41) 99940 para combinar a melhor forma de realizar sua doação ou da busca dos materiais.
Parolin – Usina de ideias
Faça sua doação, colabore compartilhando também.
Local de arrecadação: Rua Professor Plácido e Silva 794, Parolin.