No dia 10 de janeiro (quarta) indivíduos armados atacaram uma aldeia avá-guarani na cidade de Guaíra, na região oeste do Paraná, deixando feridas quatro pessoas, dentre elas a liderança Vicenta Martines, que se encontra internada no Hospital Bom Jesus em Toledo, e o sacerdote da aldeia.
O ataque é um desdobramento de conflito que se arrasta por décadas e teve mais um capítulo aberto recentemente, quando o movimento indígena, em razão da paralisia das autoridades sobre a demarcação, realizaram retomada de terra em espaços contíguos às aldeias Y’hovy e Yvyju Avary, de forma a garantir uma melhor distribuição das famílias no território.
De acordo com o relato de lideranças guarani, o ataque ocorreu no início da noite, quando a aldeia se preparava para uma celebração religiosa. Um grupo de homens armados teriam se atocaiado perto do local da reza e começado a disparar contra as pessoas no início do evento.
Após os disparos, integrantes da comunidade saíram em busca dos autores, e um deles foi capturado, tendo sido mantido preso na aldeia até a chegada da polícia, mesmo em meio aos ânimos exaltados dos locais, pelo fato de que nada estava sendo feito com relação aos feridos na aldeia.
Nota do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) do Paraná critica a demora policial em prestar assistência no local. “É igualmente preocupante observar a falta de ação efetiva por parte da Polícia Federal, que se deslocou tardiamente para a área e sem prestar a devida assistência aos indígenas feridos. Exigimos uma resposta imediata e eficaz das autoridades competentes para garantir a segurança das comunidades Avá-Guarani”, afirma a nota estadual do partido.
Relatos das lideranças também informam que, especificamente, no dia do ataque, a polícia teria retirado a ronda e o cordão de segurança que isolava a área da ocupação desde os primeiros conflitos, e que tal fato teria sido aproveitado pelos agressores.
O portal G1 divulgou que o secretário de Segurança Pública do Paraná, Hudson Leôncio, esteve em Guaíra no dia 11 (quinta), onde se reuniu com representantes da prefeitura e das polícias Civil e Militar, segundo ele, "entender a realidade da região", com o intuito, nas palavras do secretário, preservar as vidas tanto dos produtores rurais quanto dos índios que estão nessa situação", afirmou.
Ministério dos Povos Indígenas emite nota
Na tarde de hoje (11), o Ministério dos Povos Indígenas emitiu uma nota condenando os ataques, e informando que foi autorizado o uso da Força Nacional de Segurança Pública para pacificação da região. O pedido havia sido feito no dia 27 de dezembro de 2023, e foi autorizado hoje pelo Ministério da Justiça.
Confira a nota na íntegra:
“Famílias indígenas do povo Avá-Guarani foram alvo de novo ataque na noite de quarta-feira (10), no município de Guaíra, oeste do Paraná. Conforme as denúncias, a ação foi organizada por fazendeiros. Três indígenas foram alvejados e estão hospitalizados.
No dia 21 de dezembro de 2023, os Avá-Guarani da Terra Indígena Tekoha Guasu Guavira, que está em processo de regularização fundiária, realizaram duas ações de retomada nas aldeias Y’hovy e Yvyju Avary. Em seguida, passaram a sofrer graves situações de ameaças e agressões por parte de grupos de não indígenas.
Nos dias 23 e 24 de dezembro, respectivamente, as aldeias Y’hovy e Yvyju Avary foram atacadas com emprego de milícia rural privada. Tão logo foi acionado, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) realizou interlocuções com as lideranças indígenas, por meio da Comissão Guarani Yvyrupá (CGY), e gestões junto à Polícia Federal (PF), que compareceu ao local. No ataque mais recente, o mesmo protocolo foi seguido pelo MPI, garantindo novamente a presença da PF para fazer cessar a violência.
Considerando a escalada do conflito na região, marcada por recorrente violações de direitos dos Avá-Guarani, no dia 27 de dezembro, o MPI solicitou ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) a atuação da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) na área, medida que acaba de ser autorizada para garantir a segurança dos indígenas”.
Cerca de dois mil índios habitam a região de Guaíra e Terra Roxa / Júlio Carignano