Neste ano, moradores da ocupação Nova Esperança aderiram a um projeto que revaloriza práticas de cozinha e horta comunitária.
Localizada em Campo Magro, na grande Curitiba, a ocupação está margeando seu quarto aniversário, no dia 22 de junho. É conhecida pela grande presença de migrantes, principalmente haitianos.
Trata-se de uma ocupação em antigo terreno abandonado pela Fundação de Ação Social (FAS) de Curitiba, com rasgos e características rururbana, em plena área ambiental, que os moradores têm a missão de preservar.
Neste contexto, surgiu o Projeto Horta e Cozinha Comunitária, com o intento de produzir comida, trabalho e renda. A primeira oficina aconteceu no dia 18 de fevereiro de 2024. Desde então, os encontros acontecem aos sábados e domingos.
Em meio a um noticiário policial desfavorável, os trabalhos na horta em um terreno subaproveitado, e a mão na massa na padaria comunitária produzem, acima de tudo, sorrisos nessas famílias comuneiras.
A ideia do projeto, encampado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), pelo Movimento Popular por Moradia (MPM), Centro de Formação Urbano e Rural Irmã Araújo (Cefuria) e com participação no projeto do Brasil de Fato Paraná na cobertura das oficinas, aponta que o objetivo é alcançar uma estratégia de geração de renda para as famílias.
Ao todo, são mais de mil famílias na comunidade, em vias de um processo de regularização fundiária. O que não quer dizer que isso não venha a custo de resistências e entraves de poder público.
Como ressalta o objetivo do projeto: “Promover um processo de qualificação ao mundo do trabalho alinhado à emergente necessidade de garantir segurança alimentar, inclusão produtiva e autonomia socioeconômica à população atendida".
Projeto conta também com assessoria de militantes e corpo de professores e técnicos / Pedro Carrano
Encontros possíveis
No dia 26 de maio desde ano, ocorria a sétima oficina de horta comunitária, do total de oito momentos. O objetivo mais palpável era a construção do viveiro de mudas para suprir a horta a e comunidade de maneira geral.
Mesmo na manhã úmida de domingo e com o tempo cerrado, havia uma série de moradores dispostos a preparar os hortos para plantio e colheita de hortaliças – para algumas pessoas, dizem, já está sendo a oportunidade de venda na vizinhança.
“É um passo importante para a continuidade da horta, para produzir mudas a partir de sementes. Estamos ampliando os espaços da horta, fazendo a manutenção dos canteiros, e hoje temos presença dos professores que vão contribuir na formação de um empreendimento para geração de renda na comunidade", comenta Lucas Paulatti, integrante do Cefuria e um dos coordenadores do projeto.
Passado o processo das oficinas sobre as hortas, esse time do projeto ingressa na parte de geração de renda e produção.
Mas, ainda falando sobre a sétima oficina, é fato que a construção de um viveiro garante fornecimento ao projeto, e também aos moradores locais:
“Quem precisar de mudas, vamos fornecer, para que a gente aproveite aqui dentro da horta e das casa”, afirma Fogaça, morador da ocupação há três anos. “Nem esperava o projeto de horta comunitária antes de vir para cá”, completa.
José Luciano Soranço, morador do setor H, afirma que está aprendendo como lidar com a horta. Sua rotina em realidade é de um trabalhador em comércio no centro de Curitiba. O trajeto longo de regresso para Campo Magro não o impediu de dormir pouco e, mesmo assim, participar da plantação:
“Há uma variedade grande de verduras e cada dia uma atividade diferente”, narra. Soranço recorda que morava no interior, então não é o primeiro contato dele com a terra. “É muito bom mexer com a terra, aqui era mato e hoje está tão bonito para todos nós né, completa.
Arminda também de alguma forma pôde exercitar um lado que estava um pouco esquecido, de trabalhar na roça, algo que já havia feito na juventude no interior do Paraná. "Sei mexer com tudo, tirar leite, fazer plantio, roçar e carpir, mexia com café, feijão, sei arar com cavalo também, já somos acostumados, aqui seria bom para todos nós”, afirma.
Já Dolores revela-se uma "apaixonada por terra". E "tenho tudo plantado em meu quintal pequeno, esse projeto vai incentivar a comunidade", diz.
Parece pouco. Mas, falando ainda sobre o perfil da comunidade, de acordo com o projeto, evidencia-se que cerca de 60% da população local está inscrita no Cadastro Único de mapeamento das famílias de baixa renda no Brasil, ainda assim, o estudo técnico (FARIA, 2021) destaca que a área ocupada apresenta indicativos de consolidação comunitária.
Perfil da comunidade Nova Esperança
Nacionalidade:
70% brasileira
26% haitiana
4% não informaram;
Escolaridade:
38% ensino médio completo
13% ensino médio incompleto
Moradora da ocupação Nova Esperança participa de oficina de horta comunitária / Pedro Carrano