As bancas de jornais estão se reinventando há mais de uma década. Estão deixando gradativamente de vender aquilo que era o seu carro chefe – jornais e revistas – e passaram a comercializar uma série infindável de produtos. Foi o jeito de sobreviver e de continuar no negócio em razão dos novos tempos tecnológicos.
Jornal e revista vendem informação velha, de ontem ou da semana passada, mesmo com algumas análises diferenciadas, mas que não interessam mais tanto aos leitores. Eles querem informação imediata, análise rápida, amanhã ou depois não interessam mais. O mundo gira muito rápido e não há tempo a perder com o que aconteceu ontem.
O presidente da ANJ – Associação Nacional de Jornais, Marcelo Rech, disse, em live, há poucos dias, que a rapidez das transformações está acelerando os novos processos dos grupos de comunicação. “A diversificação de negócios é a grande alternativa, o interesse por informações de ontem está caindo de forma muito rápida.”
ZH ainda tem o jornal de maior circulação impressa no Rio Grande do Sul. São cerca de 30 mil exemplares diários. Quase 10 mil a menos da média diária de junho de 2023, que era de 39,9 mil. O Correio do Povo, que já teve 250 mil impressos nos primeiros anos do século, agora não passa de 20 mil. São informações colhidas nos parques gráficos dos dois grupos. O Jornal do Comércio, considerado por muitos como o jornal mais completo do estado, não chega a 10 mil. O Sul deixou de circular na forma impressa em abril de 2015. No Interior deixou de circular recentemente o centenário Diário Popular de Pelotas.
Todos os jornais de Porto Alegre estão com circulação digital bem maiores, com números variáveis, raramente ultrapassando 100 mil. ZH está com uma promoção na faixa de R$ 1,99 ao mês. Os outros também têm preços reduzidos, o que facilita o acesso a assinaturas. Disponibilizam informação atualizada permanentemente durante o dia, o que interessa bem mais a quem quer estar sabendo do que acontece instantaneamente. É certo que papel, tintas, distribuição, logística, custam caro e os jornais impressos caminham lentamente para a sua extinção. É uma possibilidade em discussão em muitos grupos de comunicação.
As bancas espalhadas pela cidade – no final de 2023 eram 176 – estão garantindo a sua continuidade vendendo cafés, refrigerantes, águas, salgados, doces e tantas outras coisas / Foto: Eugênio Bortolon
Já prevendo isso, as bancas espalhadas pela cidade – no final de 2023 eram 176 – estão garantindo a sua continuidade vendendo cafés, refrigerantes, águas, salgados, doces, balas, chicletes, cigarros, brinquedos, capas de celulares, pilhas, baterias e tantas outras coisas. Algumas, no Centro, até fornecem sanduíches e montam pequenos locais para as pessoas tomarem um café da manhã. Percorrendo algumas delas, só uma possuía jornais à venda, o popular Diário Gaúcho, com uma boa tiragem, idêntica à de ZH, em razão das promoções que faz com utensílios domésticos, ingressos de shows e outras iniciativas.
André, uruguaio, dono da banca de jornais da Nova York com 24 de Outubro, no bairro Auxiliadora, recebe só um exemplar de jornal por dia, o CP, porque é assinante. “Desisti porque não vendia mais nada e todo o processo era cansativo”, diz. O que ele mais vende é revistas de palavras cruzadas, figurinhas de álbuns e jornal para pets – que chega já empacotado e é negociado por quilo (1 kg por R$ 15,00). Algumas gráficas estão se especializando e vendendo exemplares de propaganda comercial ou política como jornais para pets. Estão faturando.
A banca que mais vendia jornais e revistas de todo o país, a da Praça da Alfândega, hoje se limita a alguns poucos exemplares / Foto: Eugênio Bortolon
No centro da Capital, a banca que mais vendia jornais e revistas de todo o país, a da Praça da Alfândega, hoje se limita a alguns poucos exemplares. Virou um bar, armazém ou uma pequena loja quebra galho para qualquer coisa. Está resistindo aos novos tempos. Outra, na Praça XV, tinha até bem pouco tempo jornais de Brasília, além dos tradicionais do Rio e São Paulo. Hoje não tem mais nada, a não ser alguns impressos locais. “A logística virou impraticável”, me diz um funcionário.
Lutando para vencer a concorrência – supermercados, padarias, lojas de conveniência e mercadinhos, responsáveis por abocanhar parte das vendas de periódicos e revistas – as bancas, apesar de perder o seu significado histórico, foram e continuam sendo um verdadeiro polo de informação, além de ser um comércio democrático. “Mesmo não vendendo mais jornais e revistas aqui sempre se formam grupos de pessoas para conversar, discutir política, futebol e bobagens do dia a dia e consumindo sempre alguma coisa, salgados, cafés, refrigerantes e cervejas. Vamos em frente”, garante André.