A união dos povos para combater políticas imperialistas foi tema de discussão durante a criação da Internacional Antifascista – Capítulo Brasil, nesta sexta-feira (7), na Embaixada da República Bolivariana da Venezuela no Brasil, em Brasília. O evento deu sequência à organização mundial, da luta contra o nazifascismo, o sionismo e a xenofobia.
“É preciso que nos unamos, nos organizemos efetivamente para combater todas essas concepções do fascismo, nazismo, sionismo, xenofobia e o ódio que se difunde, além das mentiras que circulam. Nossa unidade é o instrumento para enfrentá-los. E aqui no Brasil não é diferente. O que ocorreu ao longo de quatro anos, em que 700 mil pessoas morreram devido à pandemia, foi resultado de um governo cujo presidente difundia e disseminava o vírus”, diz Pedro Batista, jornalista, escritor e membro do Comitê Anti-imperialista General Abreu.
Criada em 11 de setembro de 2024, em Caracas, Venezuela, com a presença de mais de mil representantes de 125 países, a Internacional Antifascista busca ter papel fundamental no atual momento histórico na luta em defesa da soberania e autodeterminação dos povos e da dignidade humana. A data de criação marcou os 51 anos do martírio do presidente chileno, Salvador Allende.
Pedro conta que o congresso foi aberto e instalado pela vice-presidente, Delcy Rodríguez, e encerrado pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. “Foram dois dias de muita atividade, os quais tiveram como clareza que o capitalismo, nessa atual fase imperialista, vive a sua exaustão e se utiliza das forças mais violentas e agressivas contra os povos”, explica o jornalista e escritor.
Presente no evento, o economista e membro da direção nacional da Central de Movimentos Populares do Distrito Federal (CMP-DF), Afonso Magalhães, destaca a necessidade de os movimentos saírem da fase de resistência e partirem para a ofensiva política. “É claro que o desafio é formar uma Internacional Antifascista de massa. Esse é o grande desafio, uma vez que cada país tem suas especificidades".
“Apresenta-se como uma grande possibilidade de construção desse movimento internacional e de avanço nas conquistas da classe trabalhadora. Não se trata de uma questão de etapas, como ‘primeiro lutamos contra o fascismo, depois falamos de socialismo’. De fato, existem etapas históricas, mas elas se concretizam de forma combinada”, também ressalta Magalhães.
Criação da Internacional Antifascista aconteceu nesta sexta (7), na embaixada da Venezuela em Brasília / Foto: Rafaela Ferreira/Brasil de Fato DF
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A criação da Internacional Antifascista como uma iniciativa acertada na Venezuela também foi um ponto abordado no evento desta sexta (7). Para Luiza Calvette, cientista política e membro do Centro Brasileiro de Solidariedade Aos Povos e Luta Pela Paz, a criação da Internacional é um movimento que une as lutas ao redor do mundo e consegue “mostrar quem é o real inimigo”.
“O que precisamos fazer é garantir que o povo brasileiro, os movimentos sociais e a esquerda progressista — não a esquerda revolucionária — compreendam qual é a luta do mundo hoje, qual é a luta do nosso continente latino-americano. No Brasil, precisamos nos posicionar como um povo que derrotou o fascismo nas urnas e seguirá derrotando. Não vamos perder de novo para essa turma, vamos enterrá-los cada vez mais fundo na história. Talvez pudéssemos começar com um grande encontro antifascista”, propôs a cientista política.
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Thiago Ávila, internacionalista e do movimento brasileiro de solidariedade com Cuba, aponta a necessidade de pensar a Internacional Antifascista como um instrumento fundamental para o tempo atual. Ele destaca que está sendo presenciado um momento histórico em que o sistema capitalista, nessa etapa imperialista e destrutiva, tem o fascismo como válvula de escape para as suas crises. “Portanto, a gente ser antifascista nesse momento histórico, sobretudo, é a gente ser anti-imperialista”, diz.
“É fundamental pensarmos em um instrumento que dê vazão à nossa vontade e à necessidade de organização coletiva. Sempre que refletimos sobre o Brasil, é essencial considerar o papel estratégico que temos. Essa internacional fascista também exerce um papel estratégico ao nos ajudar a organizar este momento político. Acredito que precisamos ter a mesma capacidade de enraizamento".
Criação de comissões
Durante o evento, que teve como objetivo ser uma reunião de trabalho, com finalidade de criar uma unidade, foram criadas cinco comissões de trabalhos, sendo elas de Comunicação, Cultura, Formação, Secretaria Executiva e Articulação e Mobilização.
Paulo Miranda, da TV Comunitária de Brasília, chama atenção para a luta no campo da comunicação, principalmente no enfrentamento às big techs. “A luta não é fácil. Nós estamos dispostos a trabalhar nesse canto contra as big techs. Na Venezuela, há uma formação muito forte e grande sobre esse conglomerado da indústria bélica, sistema financeiro e mídia. Então, a Venezuela é nossa grande escola e estamos aí para fazer esses embates”, destaca também.
Chico Nogueira, cantor do grupo musical Duo Accordi, falou a respeito da colonização que acontece com a música e cultura. "Se a gente não se levantar e não construir uma alternativa que venha da nossa cultura, das culturas dos nossos povos e daquilo que Lula denunciou há alguns anos — a realidade de que viramos as costas para a América do Sul e voltamos de frente para a Europa e os Estados Unidos —, teremos uma chance imensa de perder a batalha. A batalha é cultural”, destaca Nogueira.
Apoio popular na Venezuela
Milhares de venezuelanos saíram às ruas de Caracas em apoio à posse do presidente Nicolás Maduro, no dia 10 de janeiro. As avenidas do centro de Caracas ficaram tingidas de vermelho, azul e amarelo, com bandeiras venezuelanas em toda parte. A tensão que caracterizou os últimos dias, devido à incerteza sobre as ações da oposição de direita, foram rapidamente dissipadas.
Para Pedro Batista, a Venezuela, hoje, tem um nível de organização civil-militar que não é visto no Brasil. “A juventude, as mulheres, os trabalhadores do campo da cidade, os povos indígenas, todos estão organizados no sentido de defender as suas conquistas. A Venezuela era um lugar como foi Cuba antes da Revolução de 59, uma meia dúzia de magnatas usavam os recursos petrolíferos para ir passear em Miami e fazer compra no final de semana. Pegavam seus jatinhos e iam. Hoje, não. O povo venezuelano tem saúde, tem educação, tem sistema de moradia”, analisa.
After the official ceremony in the National Assembly, Nicolás Maduro swore in with the people of Venezuela outside the Miraflores Palace / Zoe Alexandra
O escritor também fala que “existem duas Venezuelas". "A real, que é a que conhecemos, onde o povo está organizado e mobilizado. A Venezuela, hoje, tem 100% de autossuficiência alimentar. A outra é a fake, que mostra que o povo venezuelano come cachorro e que não apoiam o Maduro. E no Brasil não é diferente, O governo Lula também enfrenta isso".
Batista também chama atenção para a questão econômica do país. Mesmo com as sanções que impedem o país caribenho de vender seu principal produto no mercado internacional, a Venezuela se tornou em 2024 o 3º país que mais vende petróleo para os Estados Unidos.
Os números são da Agência de Informação Energética (EIA). Ao todo, a Venezuela chegou em outubro de 2024 a uma média de 295 mil barris de petróleo vendidos por dia aos EUA. O país só fica atrás do Canadá (4 milhões por dia) e México (383 mil). Os dados representam uma alta de 77% na venda de petróleo venezuelano para os estadunidenses em relação a março de 2024.
“Os ataques econômicos trouxeram graves prejuízos. Entretanto, é, desde 1999, da Assembleia Nacional Constituinte, que se iniciou a construção de um novo estado e que hoje se aprofunda com a efetiva participação e a democracia através das comunas", afirma o escritor e jornalista.
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