No mês passado os jornais noticiaram mais uma vez os números do machismo. No Rio de Janeiro, mais de quatro mil mulheres foram vítimas de violência sexual em 2017. E mais da metade delas, para ser mais precisa, 68%, foram vítimas dentro de casa, segundo o Dossiê Mulher do Instituto de Segurança Pública. Sabe o que isso significa? Que ser mulher no Brasil não é seguro nem quando você está trancada a sete chaves no conforto do lar. A qualquer momento podemos ser violadas, violentadas, apartadas de todo e qualquer direito.
Essa realidade é consequência de uma estrutura de poder que domina os nossos corpos e nos priva da liberdade sexual, econômica e social. Todos os dias vemos mulheres sendo sexualizadas, assediadas e comercializadas. E presenciamos situações inacreditáveis, como quando determinado político disse a sua colega de trabalho que não a estupraria porque ela não “merecia”.
Diante desse cenário, a postura dos governos deveria ser enérgica em nos empoderar e colocar em pauta a igualdade de gênero. Mas o que temos assistido é o corte de mais da metade das verbas voltadas para o atendimento às mulheres em situação de violência. Também em março, mês internacional da mulher, o governo federal retirou verbas das políticas de incentivo à autonomia das mulheres com uma redução de 54% no orçamento. Sem qualquer constrangimento ou maiores explicações, uma parte desses recursos foi “redirecionada” para ações de publicidade.
Sem renda, assistência social e psicológica, as mulheres ficam ainda mais vulneráveis e, muitas vezes, a consequência é a morte. Foram 381 feminicídios no Rio de Janeiro ano passado. Com destaque pertinente aos casos que atingem a nós, mulheres negras. Duas em cada três perderam suas vidas, nessa realidade que também é duramente marcada pelo racismo.
Por tudo isso, é preciso que se diga que não se trata apenas de retrocesso. O desmonte das políticas públicas voltadas para nós é um ato de cumplicidade. Toda vez que sofremos qualquer tipo de violência esbarramos na participação de um Estado cada vez mais omisso, que nos desprivilegia em sua estrutura econômica e nos abandona à sorte da agressão e do machismo.
Precisamos lutar para que as políticas públicas voltadas para as mulheres voltem a vigorar com toda força e que nossos centros de atendimento, delegacias e projetos de educação e renda estejam em pleno funcionamento. Além disso, é necessário que a igualdade de gênero seja pauta em nossas escolas e que a representatividade feminina seja debatida e conquistada em todas as esferas sociais. Precisamos mais do que nunca que os movimentos feministas estejam valorizados e consolidados na vida e na história de cada uma de nós. Não há outro caminho! Do contrário, assistiremos à violação de nossas vidas crescer na triste e vergonhosa mostra das estatísticas.
** Verônica Lima é vereadora de Niterói (RJ) pelo Partido dos Trabalhadores (PT).