As pessoas negras viveram quase 400 anos escravizadas. Nosso povo foi capturado como bicho no continente africano, acorrentado, muitos morreram nos navios negreiros. Aqui foi vendido como mercadoria, morto e explorado. As mulheres negras, além de servirem à casa grande, eram estupradas pelos "senhores" brancos.
Só em 1888 ocorreu a abolição da escravatura. Mas a abolição veio e não nos libertou. A população negra é a maioria abaixo da linha da miséria, segue morrendo na mão da polícia, sendo encarcerada em massa, sem trabalho, arte, cultura ou direitos; ao mesmo tempo em que é a minoria nas universidades. Um reflexo do passado de dor e exploração de um povo que passou muito tempo sem ter oportunidade.
Nessa falsa abolição, nada nos deram, em nada nos incluíram, tiraram nossas vidas, nossas almas e nos deixaram sem nossa história e nossa identidade. O Brasil tem uma dívida histórica com o povo preto e já passou da hora de acertar as contas.
Eu, Dani Black, sou estudante de ciências sociais na Universidade Estadual de Londrina. Entrei em 2015 pelo sistema de cotas. A implantação das cotas não foi uma iniciativa da UEL, mas sim do movimento negro, a partir da luta encabeçada pela Dona Vilma Yá Mukumby que questionava porque não tinha negros em uma universidade pública e defendia que pretas e pretos deveriam ocupar aquele espaço e produzir conhecimento.
Após grande movimentação, as cotas foram aprovadas em 2004 e entraram em vigor em 2005, sendo 40% das vagas destinadas a alunos cotistas. Em 2016, o processo foi reavaliado e a grande vitória foi a manutenção pelos próximos 20 anos.
As cotas vêm no intuito de diminuir a desigualdade. Através da ação afirmativa vamos ter outros sonhos, outra visão, vamos nos libertar do trabalho subjugado que sempre foi imposto a nós. Vamos resgatar nossa história e ser protagonistas dela.
*trecho da música de Bia Ferreira
Daniele Barbosa é estudante membra do conselho universitário da UEL em 2016