A censura do governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel sobre a performance “A voz do ralo é a voz de deus”, do grupo "És uma Louca", gerou polêmica nos últimos dias. Organizações de direitos humanos e por memória verdade e justiça caracterizaram a ação como uma tentativa de apagar a história. A performance aconteceria no domingo (13), durante o último dia da exposição "Literatura Exposta" na Casa França-Brasil, na cidade do Rio de Janeiro.
Para Ana Maria Miranda, da grupo de Memória, Verdade e Justiça, que esteve no Programa Brasil de Fato RJ na última segunda-feira (14), a narrativa dos governos atuais, tanto em âmbito nacional quanto estadual, é silenciar e apagar a história. “Você não pode desaparecer com a história”, declarou a ex-presa política, que foi encarcerada na Torre das Donzelas, uma construção localizada dentro do presídio Tiradentes, em São Paulo, onde mulheres cumpriam penas durante a ditadura militar.
“Queremos saber se não pode mais falar sobre tortura, se isso vai ser visto daqui para a frente como subversivo. Por isso a gente imagina que a luta pela memória se torna ainda mais importante do que sempre foi”, acrescentou.
Ela avalia que a narrativa construída tanto pelo governo estadual quanto pelo federal, nesse momento político, dá aval para que episódios de censura voltem a acontecer com mais intensidade. “Esses governos estão mostrando que vão continuar, e que será pior, que vão dar aval à tortura. Isso é muito triste porque já se mata muito no nosso país, já se tortura muito”, explicou.
NUDEZ
O governador do Rio Wilson Witzel justificou o impedimento da performance porque ela não estaria no contrato firmado com o governo do estado e que a apresentação teria cenas de nudez. Ana Maria Miranda questiona. “Não é possível o governo de um dia para o outro fazer uma confusão e ainda esconder a motivação. Isso precisa ser esclarecido, essa questão foi nudez. Então a nudez daqui pra frente vai ser proibida nos teatros, por exemplo?”, pergunta.
Na tarde da última segunda-feira (14), os artistas do grupo "És uma Louca" convocaram uma manifestação em frente À Casa França-Brasil. No ato, apresentaram a performance censurada no centro cultural. O evento reuniu centenas de pessoas e teve como foco principal uma atriz deitada ao lado de um bueiro repleto de baratas de borracha – em referência aos relatos de presas políticas que contam sobre o uso de insetos nas sessões de tortura durante o regime militar no Brasil.
Performance censurada foi realizada na última segunda-feira (14) em frente à Casa França-Brasil / Letícia Sabbatini/ Mídia Ninja