Músicos e ambulantes do Distrito Federal organizam uma manifestação para esta quarta-feira (19), às 12h, em frente ao Palácio do Buriti, contra medidas do Governo do Distrito Federal (GDF) que, segundo os manifestantes, colocam em risco o carnaval de rua. O grupo denuncia a tentativa do governador do DF de restringir a atuação de blocos carnavalescos e vendedores ambulantes, impactando diretamente a realização da festa popular.
Os organizadores do ato afirmam que o GDF tem imposto barreiras que dificultam a presença de fanfarras e tambores nas ruas, além de intensificar a fiscalização contra ambulantes, retirando deles o direito ao trabalho durante o período carnavalesco. Para os manifestantes, essas ações configuram um ataque à cultura popular e podem inviabilizar o Carnaval de Rua na capital federal.
A assistente social e mestre em Políticas Públicas, Keka Bagno, explica que o carnaval não é só cultura, mas também produz renda, emprego e turismo. “Hoje, o Governo do Distrito Federal se coloca como o maior inimigo da cultura, da classe trabalhadora artística, dos ambulantes, quando ele coloca órgãos de repressão para atacarem as pessoas que estão produzindo a cadeia produtiva que é a cultura”, diz.
"Aqui no DF, por meio da lei do silêncio e de proposições no sentido de esvaziar a cidade, o fomento que deveria ser destinado para que a gente tenha os carnavais de rua, assim como outras datas comemorativas da cultura, fique cada vez mais fica esvaziado", afirma Keka.
Para a professora e musicista do carnaval de rua, Carol Tessmann, os blocos de carnaval são frequentemente surpreendidos pela presença da Polícia Militar ou do DF-Legal. "Isso porque, na maior parte dos casos, ao invés de garantir a segurança pública e o direito e ir e vir da população (inclusive mediando o uso seguro da rua para aqueles que gostam ou que não gostam da festa), optam por uma abordagem que instaura clima de intimidação, interroga músicos sobre 'donos do bloco', coisa que não temos, pois construímos o carnaval de rua coletivamente", diz.
Entre as reivindicações da manifestação estão o direito de ocupar as ruas de maneira organizada e segura para festejar e trabalhar no carnaval da capital do país, além da revisão da política de autorizações; da apreensão de mercadorias somente mediante notificação; da garantia de segurança e limpeza nas vias para blocos de fanfarra; da autorização específica para caixeiros trabalharem no carnaval de rua; e do enquadramento de bloquinhos de rua e caixeiros parceiros atuando juntos no carnaval como "atividade de interesse social".
Segundo Keka, outra reivindicação e expectativa é uma abertura de diálogo com o Executivo, além de pedir o fim da repressão nos blocos de carnaval do DF. “O GDF trata o Carnaval de rua é com violência, a gente tem acompanhado o que aconteceu contra os blocos. Não são só os que ganham os editais, mas os bloquinhos – que estão chamando de informais – também têm o direito de estar na rua. Nós enquanto população temos o direito de curtir o carnaval que é um patrimônio da humanidade.”
Carnaval de rua é direito
A mobilização ocorre em meio a um histórico de embates entre blocos de rua e o governo local, que em anos anteriores já impôs restrições ao evento. Os manifestantes reforçam que o Carnaval de Rua é um direito da população e prometem seguir na luta para garantir que a tradição permaneça viva.
No final de janeiro, o governo do DF divulgou que 62 blocos vão compor o DF Folia 2025. No caso dos blocos novos, com público de até mil foliões, 10 blocos foram selecionados. Já na categoria pequeno, com público também de até mil foliões, 15 proponentes foram escolhidos. Na categoria de médio bloco, para até 5 mil foliões, 10 agremiações foram selecionadas. Na categoria de grande público, para até 15 mil foliões, 15 grupos foram escolhidos. Já na categoria de superblocos, para atender de 15 mil a 30 mil foliões, 5 foram selecionados. Para megablocos, com capacidade acima de 30 mil foliões, 7 blocos foram escolhidos.
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Para Carol Tessmann a maneira que foi posta e divulgada, significa que o GDF cria amarras de parâmetro e controle sobre uma das maiores manifestações culturais populares de rua do mundo. "O fato é que noutros países, suas festas populares e tradições culturais são entendidas como um tesouro a ser cuidado, investido, celebrado e perpetrado. A institucionalização tem, sim, sua importância, mas não pode jamais significar o pré-requisito para se fazer carnaval no DF e no Brasil", aponta.
Keka destaca a importância a institucionalização por meio do Executivo, mas aponta que ela não pode ser seletiva, mas, sim, ocorrer por um processo horizontal e transparente. “O que o movimento cultural hoje luta é para que você tenha condições de ampliar. Atualmente, podemos dizer que temos mais de 200 bloquinhos de carnaval do Distrito Federal e você acaba tendo muita restrição. Você acaba tendo uma verba muito direcionada e que isso se torna um problema”, explica.
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“Vale muito mais a pena você ter hoje condições de colocar todos os bloquinhos na rua de forma orgânica e horizontal, propiciando que eles tenham dinheiro e estrutura do que você segmentar e seletivizar os mesmos grupos que sempre ganham. É possível você institucionalizar os 200 blocos. Eles terem os ambulantes envolvidos, terem ali a área segura, terem os órgãos do Distrito Federal tanto ali para poder cuidar das pessoas, para que todo mundo esteja curtindo a folia de forma segura. Isso para nós é muito fundamental e infelizmente não é assim que acontece no DF”, explica Keka Bagno.
A organização do ato convida artistas, vendedores e apoiadores a ocuparem o espaço público com música e manifestação pacífica. Os organizadores incentivam os participantes a levarem instrumentos musicais, materiais de trabalho e faixas em defesa da continuidade do Carnaval. "A música vai soar mais alto que a repressão, e a rua vai ser ocupada por quem faz o Carnaval acontecer de verdade", afirmam em convocação divulgada nas redes sociais.
Serviço:
O que: Manifestação em defesa do carnaval de rua no DF
Quando: quarta-feira (19), às 12h
Onde: Palácio do Buriti
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