A OMC começou a discutir pela primeira vez sobre o tema essa semana. O embaixador da China na organização, Li Chenggang, disse que os “choques tarifários podem chegar a produzir uma recessão global”, segundo a agencia de notícias Reuters.
Na semana passada, Trump anunciou que seu governo passará a implementar tarifas aos carros importados a partir de 2 de abril, começando com 25%, e com a possibilidade de aumentar. Essa medida talvez não afete especificamente a China. Embora as exportações de carros desse país para os EUA venham crescendo, em 2024 representaram o destino de apenas 2% do total.
Porém, mais tarifas contra o gigante asiático podem vir por aí. O Representante Comercial dos Estados Unidos, está fazendo investigações relacionadas à China sob a chamada Seção 301 da Lei de Comércio do país.
Andy Mok, pesquisador do Centro para China e Globalização, acredita que a China prefere uma relação mais cooperativa e onde as duas partes ganhem, mas ao mesmo tempo ela compreende bem a realidade geopolítica atual. Ele destaca que a política de tarifaços já havia sido iniciada por Trump em seu primeiro governo.
“Embora a China talvez não esperasse a severidade do que foram esses movimentos na primeira Administração Trump, ela certamente não está despreparada para esses movimentos hoje”, diz Mok.
“Isso porque houve expansão para diferentes mercados, como a América Latina, que tem sido uma parceira muito importante para a China, com o Porto de Chancay no Peru por exemplo, muitos outros acordos e aprofundamento de parcerias também, como com a ASEAN, a Europa e África”, explica.
Mais tarifas à vista
O Escritório do Representante Comercial dos EUA, uma agência do governo desse país, está levando a cabo quatro investigações que envolvem a China sob a chamada Seção 301 da Lei de Comércio do país, sobre setores marítimo, logístico e de construção naval; fentanilo, ‘transferência de tecnologia” e a mais recente envolve a indústria dos semicondutores e foi iniciada no final do governo Biden, sob a direção da ex-chefe desse escritório, Katherine Tai.
Tai defendeu em reiteradas ocasiões a implementação de tarifas sobre produtos chineses, e acredita que elas podem ser usadas para criar resultados econômicos melhores e mais equitativos se forem implementadas de forma “construtiva”.
A Seção 301 permite aos Estados Unidos restringir importações quando seu governo considerar que um ato, política ou prática de um país estrangeiro é irracional ou discriminatório e onera ou restringe o comércio dos Estados Unidos.
Questionado pela TVT/BdF, o porta-voz do Ministério das relações exteriores da China, Guo Jiakun, reiterou que a China “sempre acredita que o protecionismo não levará a lugar nenhum”, e que não há vencedor em uma guerra comercial ou tarifária.
Também disse que os EUA devem saber que “o que a comunidade internacional precisa não é impor tarifas, mas abordar as preocupações uns dos outros por meio de consultas com base no respeito mútuo”.
Concluiu afirmando que seu país “vai continuar a tomar as medidas necessárias para salvaguardar firmemente nossos direitos e interesses legítimos”.
Para Mok, a posição de defesa chinesa de defesa de seus interesses é clara, mas ele considera que as retaliações chinesas são “muito bem calibradas”, e que “não são projetada para aumentar as tensões comerciais”.
Brasil entrou na roda
O governo Trump impôs tarifas extras de 10% a todos os produtos chineses no começo de fevereiro. Na semana passada, Trump decidiu restabelecer tarifas de 25% às importações de aço e alumínio, o que afetará o Brasil.
O presidente Lula disse recentemente à Rádio Clube do Pará que caso o aço brasileiro seja taxado “vamos reagir comercialmente ou vamos denunciar na Organização [Mundial] do Comércio ou vamos taxar os produtos que a gente importa deles”.
Também questionado pela reportagem sobre se Brasil e China estão dialogando sobre o problemas apresentados pelos tarifaços de Trump, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Guo Jiakun, disse que a China trabalhará com o Brasil “para obter mais resultados em nossa cooperação em todos os níveis, praticar o verdadeiro multilateralismo, garantir o papel central da ONU e defender os direitos e interesses legítimos dos países do Sul Global”
Guo complementou que a “China apoia a presidência do BRICS do Brasil e, em conjunto, avançará na maior cooperação do BRICS”.
Tarifas retaliatórias à política de Trump podem se tornar mais comuns, o que poderia fazer com que os diferentes mercados no mundo procurem alternativas aos produtos dos Estados Unidos, avalia Mok.
“Estas ações da Administração Trump podem muito bem acabar isolando economicamente os EUA de algumas das partes do mundo que crescem mais rápido, bem como dos seus vizinhos mais próximos, Canadá e México, conclui.
Diante da implementação das tarifas de 25% dos EUA ao Canadá, a campanha “Compre canadense” vem crescendo. Uma pesquisa recente feita na província canadense de Manitoba mostrou que 75% de 600 habitantes entrevistados manifestaram que planejam parar de comprar produtos fabricados nos EUA.