O ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, falou pela primeira vez cinco meses após ser acusado de importunação sexual por um número indeterminado de mulheres, incluindo a ministra de Igualdade Racial, Anielle Franco, e demitido do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Almeida prestará um depoimento à Polícia Federal (PF) na manhã desta segunda-feira (24). Na semana passada, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça, prorrogou por mais 60 dias o inquérito contra o ex-ministro. As denúncias foram tornadas públicas pelo portal de notícias Metrópoles no dia 5 de setembro de 2024 e confirmadas pela organização Me Too, que atua na proteção de mulheres vítimas de violência.
Ao UOL, Silvio Almeida voltou a negar todas as acusações. O advogado falou sobre a reunião em que ele teria apalpado Anielle Franco por debaixo da mesa, no dia 16 de maio de 2023, na sede do Ministério da Igualdade Racial.
“Foi uma reunião tensa para falar sobre casos de racismo nos aeroportos. Surgiu uma divergência entre o que eu propunha e o que a ministra propunha. Visões diferentes de como tratar a questão. Entretanto, ela foi extremamente deselegante”, disse o ex-ministro.
“Comecei a dar opiniões e, em determinado momento, ela pega meu braço e fala mais ou menos assim: ‘Em todo lugar você quer dar aula. Aqui não é lugar de dar aula’. Eu me calei. Tinha outro compromisso e saí da reunião. Minha secretária executiva acompanhou o restante”, completou.
Silvio Almeida também afirmou que “era difícil” trabalhar com Anielle e a pasta da Igualdade Racial, a ponto de determinar que só trataria de questões relacionadas à política de igualdade racial dentro dos limites da competência do Ministério dos Direitos Humanos.
“Isso ainda que eu estivesse sendo chamado a todo momento para participar de eventos e de formulação de políticas que envolvessem igualdade racial. Mas comecei a recusar, para que não houvesse desconforto”, disse.
O ex-ministro também disse que ele e Anielle Franco foram “enredados” na “imundice” da política. “Tem gente especialista, dentro e fora do governo, em criar intriga e vazar para a imprensa. Tanto eu quanto Anielle Franco fomos enredados nessa imundice”, declarou.
Em outro momento, Almeida afirmou que acredita que a ministra “caiu numa armadilha” diante da “falta de compreensão de como funciona a política”. “Não prestei atenção em coisas em que deveria ter prestado mais atenção. Ela, da mesma forma. Ela se perdeu num personagem. Para tentar me desgastar, ela participou desse espalhamento de fofocas e intrigas sobre mim”, disse. “É ingenuidade pensar que cheguei nos lugares aonde cheguei sem angariar adversários, sem que outras pessoas não quisessem estar na minha posição”.
Ele também afirmou que, quando tomou conhecimento do que chamou de “boatos”, não levou o assunto para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por considerar que não passava de uma “fofoca”. “Eu tinha que ter prestado mais atenção nisso, [faltou] mais habilidade para lidar com isso e colocar em pratos limpos”, disse.