A poucos dias de completar 55 anos, morreu, na noite do último domingo (23), a liderança histórica do movimento negro e do Partido dos Trabalhadores (PT) de Belo Horizonte Eva Alves Pereira. Conhecida como Evinha, ela estava internada devido a uma hiperglicemia e não resistiu às complicações no quadro de saúde. O velório será nesta terça-feira (25), a partir das 12h30, no Cemitério Parque da Colina, na capital mineira.
Evinha atuou no coletivo de combate ao racismo do PT e na Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen). Presente nas lutas e mobilizações dos movimentos populares e sindicais, ela também foi membro da secretaria estadual da Frente Brasil Popular de Minas Gerais.
Mulher negra, mãe de Amanda e avó de Caio, ela era conhecida por ser incansável na defesa dos direitos populares e pela solidariedade que sempre cultivou junto ao próximo.
“Sua presença era luz, sua voz era força, sua caminhada era resistência. Guerreira. Brava. Antifascista, antirracista e feminista. Uma mulher de fé, que acreditava na transformação do mundo e caminhava com coragem para construí-lo”, descreveu Makota Celinha, jornalista, coordenadora nacional do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (Cenarab) e companheira de lutas de Evinha.
Combativa e sensível
Eva também era conhecida por sua presença atuante nas campanhas partidárias e panfletagens de diálogo com a população, frequentes na Praça Sete, no centro da capital mineira, mas também nos bairros e periferias da cidade.
O secretário de movimentos populares do PT de Belo Horizonte, Geraldo Arco Verde, destaca que Evinha foi “uma das militantes de esquerda mais significativas” que ele conheceu ao longo de toda a sua trajetória.
“Foi uma das companheiras mais sensíveis. Nos ajudava em todas as lutas que aconteciam, em todos os processos que construímos junto aos movimentos sociais de Belo Horizonte, de Minas e do Brasil. Teve sempre um papel de destaque. Era completamente comprometida com a luta e com uma sensibilidade inimaginável, inigualável”, descreveu ao Brasil de Fato MG.
“Uma pessoa combativa, caridosa, que a qualquer momento que fosse convocada, que fosse solicitada para qualquer tipo de tarefa, para qualquer tipo de compromisso, seja intelectual, seja aqueles que precisávamos ir para as ruas, ela estava junto conosco. Foi um símbolo, para nós, da construção da sociedade nova em que acreditamos”, continua.
Homenagens
Feminista, Eva também ajudou a construir a Marcha Mundial das Mulheres. Para ela, as lutas pela igualdade racial e de gênero eram estratégicas para a construção de outro projeto de sociedade, mais justo e solidário.
Ofélia Hilário, atual secretária de combate ao racismo do PT de Minas Gerais, destaca que a atuação de Evinha era singular e combinava a resistência com a doçura.
“Sempre muito meiga e muito solidária, disposta a ajudar as pessoas naquilo que elas mais necessitavam. Não tinha dia e nem horário, sempre que era preciso ela estava lá, em defesa de uma sociedade justa, humana, igualitária, sem racismo, sem machismo, sem qualquer tipo de discriminação”, relembrou ao Brasil de Fato MG.
Ao se despedir, a atual ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, agradeceu pela oportunidade de ter conhecido, convivido e lutado ao lado de Evinha, que ela descreve como uma “mulher de muitas lutas”.
“Incansável na construção de um mundo do bem viver e bem comum. Sempre presente, também fez parte da construção do Estatuto da Igualdade Racial de Minas Gerais. Que Orum a receba em sua grandiosidade”, disse Macaé, nas redes sociais.
O deputado federal Rogério Correia (PT), de quem Evinha foi assessora parlamentar, também lamentou a partida e destacou que o legado dela permanece vivo.
“Você foi e sempre será um farol para nós, uma referência de coragem e determinação. Sua força, sua voz e sua luta jamais serão esquecidas. Seu legado segue vivo em cada um de nós. Seguiremos em frente, honrando sua memória”, afirmou.
Dandara Tonantzin (PT), também deputada federal por Minas Gerais, se solidarizou com a família e os amigos de Evinha.
“Companheira gigante, dessas da linha de frente, do compromisso com a luta e da força ancestral. Cada passo que avançamos nessa caminhada, cada vitória e conquista tem seu nome. Desejo que descanse em paz e encontre a luz. De cá seguiremos esse legado de mulher preta que não foge da luta jamais. Por você, por nós, por quem virá, nada foi em vão. Que a família, amigos e companheiros encontrem nas melhores lembranças o consolo para seguir”, publicou a parlamentar, nas redes sociais.