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Os TechBros e o Tecnonazismo: ideologias além do lucro

TechBros é um conceito que se refere a uma cultura masculinista, branca, heterossexual e elitista no mundo da tecnologia. Mesmo que você nunca tenha ouvido esse termo, já deve ter se deparado com esse conceito ou ao menos visto a imagem dos homens que hoje encabeçam esse mundo, como Elon Musk, Mark Zuckerberg, Bill Gates ou Jeff Bezos.

E sim, há exemplos destoantes, como Satya Nadella, CEO da Microsoft porém são exceções e nunca figuram em listas de pessoas mais ricas e poderosas do mundo.

Os TechBros, nos últimos meses, se aproximaram bastante da extrema-direita, com Elon Musk se alinhando a Donald Trump e trazendo todo o resto do clube do Bolinha para sentar à mesa. Até Bill Gates, que passou as últimas décadas vendendo uma imagem de filantropo progressista, se sentou junto com o novo ditador do império estadunidense.

Por trás desse reposicionamento das principais figuras da tecnologia ocidental, há, é óbvio, interesses econômicos que os fazem recalcular sua rota. Em especial, as motivações financeiras os levam a enfrentar legislações sobre tecnologia — especialmente sobre redes sociais e Inteligências Artificiais — de países como o Brasil, a Austrália e do bloco da União Europeia.

Porém, o interesse econômico não é tudo, e há diversas questões ideológicas que envolvem essa aproximação. Tais questões poderiam ser encampadas com conceitos que atualizam e se aproximam do nazismo clássico, como um “Tecnonazismo” ou um “Bilionazismo”, se levarmos em consideração que, atualmente, o controle de tecnologias avançadas é um dos pilares da desigualdade na distribuição de renda mundial. Não é possível identificar um grande ideólogo desse campo, porém algumas teorias o unificam.

A historiadora Tatiana Poggi vem fazendo amplas pesquisas e debates sobre esse tema, e é interessante que o compreendamos. E ninguém melhor para nos ajudar a entender do que o capitão do time dos Tecnonazis, Elon Musk.

Existem questões além do simples ganho financeiro que fizeram com que Musk se aproximasse de Donald Trump. Alguns pontos importantes abaixo.

1: Estado apenas quando necessário para o Lucro

Já sabemos que Elon Musk mantém uma relação espúria com o Estado e a Democracia. Em 2020, ele enfrentou o poder estatal durante a pandemia de Covid-19, mantendo as fábricas da Tesla abertas em contrariedade às deliberações de saúde pública. Enquanto isso, nos últimos meses, vemos o bilionário pedir socorro ao Estado para impedir que a própria Tesla perca o controle do mercado de carros elétricos para a empresa chinesa BYD.

2: A teoria da Grande Substituição e a Supremacia Genética

Elon Musk é defensor de uma das mais macabras teorias da conspiração dos nossos tempos. A Teoria da Grande Substituição discorre sobre um suposto plano mundial de substituição da população branca europeia por outras etnias. Elon nunca falou abertamente sobre o tema, porém, costumeiramente, lança comentários alusivos a ele.

Essa teoria da conspiração também tem como base a defesa da supremacia genética dessa população branca europeia e sustenta que uma das formas de combater a Grande Substituição é por meio da procriação em massa de pessoas brancas.

Elon Musk, atualmente, tem 12 filhos e defende abertamente a superioridade genética de sua prole e, logicamente, a sua.

3: As teorias HighTech: Realidade Virtual, Colonização de Marte, Transhumanismo e O Pasto das IAs

Uma série de teorias envolvendo tecnologias que Musk defende também vai de encontro com teorias de supremacia.

Ele é um ferrenho defensor do Transumanismo, algo que une os TechBros, um conceito que sustenta que o uso de tecnologias pode nos permitir transcender nossa humanidade, unindo-nos às máquinas e levando ao fim do conceito de morte. Tudo isso, logicamente, obedecendo às lógicas de mercado e de superioridade genética.

Outra dessas teorias está relacionada ao avanço da Inteligência Artificial, com Musk defendendo que, um dia, elas estarão tão avançadas a ponto de tratar a humanidade como gado em um pasto ou como um bichinho de estimação. E, logicamente, quem controlar essas IAs estará no controle do mundo. Isso o leva a acreditar que a guerra das IAs contra a China também é uma guerra pela sobrevivência da população branca.

Outras duas teorias já bastante discutidas dizem respeito à sua crença de que tudo o que vivemos é, na verdade, uma realidade virtual e à ideia de que é necessário colonizar Marte para uma eventual fuga do planeta Terra — novamente, obedecendo às lógicas de mercado e de superioridade genética.

Muito além do dinheiro

Diversas das teorias apontadas nesta coluna se aproximam bastante das bases teóricas do nazismo, e não é mera coincidência que Elon Musk e outros membros da extrema-direita estejam revivendo imagens dessa ideologia nefasta, como o Sieg Heil, o sinal de mão feito por Musk durante a posse de Donald Trump.

Às vezes parece até irreal ou mentiroso crer que bilionários da tecnologia acreditam em tais teorias, mas talvez seja apenas um efeito da ideologia neoliberal na qual crescemos e que tenta nos fazer acreditar que o sucesso financeiro e a sabedoria ou inteligência caminham juntas. Uma mentira.

A triste realidade é que a aproximação desse e de outros TechBros da extrema-direita vai muito além do mero ganho financeiro, tendo também bases em teorias da conspiração e ideias nazistas.

Também há motivações individuais que podemos conhecer tanto por fatos e entrevistas quanto por boatos.

Zuckerberg, por exemplo, viria adotando ideias masculinistas e de supremacia branca desde o início do seu processo de divórcio com Priscilla Chan, descendente de chineses e defensora de algumas ideias feministas. O CEO do Facebook, inclusive, vem adotando discursos de que a indústria de tecnologia precisa de mais “energia masculina” e de menos políticas de diversidade.

Já Musk tem um embate notório com sua filha Vivian Jenna Wilson, uma mulher trans que abdicou do sobrenome paterno. Desde a transição de Vivian, Elon vem intensificando seus ataques à comunidade LGBTQIA+ e se aproximando de ideologias homofóbicas.

Existe, sim, todo um interesse econômico, mas também há ideologias terríveis que explicam a aproximação dos TechBros com correntes da extrema-direita nazifascista mundial.


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*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

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