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Soluções para a fome? Pergunte ao povo!

É da solidariedade do povo que emergem ações como doações de alimentos

Quando o terceiro governo do presidente Lula assumiu o país, em 2023, a população brasileira havia voltado a figurar no mapa da fome, após quatro anos de políticas de morte do governo Bolsonaro. Diante de centenas de milhares de mortes por Covid, da queda na renda das famílias e do escárnio do bolsonarismo, foi o próprio povo que buscou a solução contra a fome e a pobreza. Movimentos sociais, como o próprio MST, muitos coletivos e mulheres e homens em seus territórios começaram a levantar doações de alimentos e a organizar cozinhas em que a solidariedade foi a tônica para a sobrevivência.

Deste processo, nasce no governo Lula 3 a Política das Cozinhas Solidárias, para apoiar essas iniciativas que enfrentam a insegurança alimentar no Brasil, em contraste com a postura genocida do governo anterior e com a sanha de lucro do mercado dos alimentos.

Historicamente, é da solidariedade entre os povos, em especial em meio aos mais pauperizados, que emergem ações como doações de alimentos e de trabalho voluntário. Recentemente, vimos mobilizações do MST em prol das populações afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul e campanhas de arrecadação para o povo palestino durante os conflitos em Gaza. Mas o que nós, dos movimentos sociais, recebemos?

Nas últimas semanas, o jornal O Globo iniciou uma tentativa de transformar o Programa Cozinha Solidária em “boi de piranha” para criminalizar o governo e os movimentos sociais. O tom é claro: “este governo é corrupto e são as organizações
populares (diga-se, a esquerda) que mamam em suas tetas”.

É chocante e irresponsável que as reportagens supostamente imparciais não levem em conta aspectos práticos que criam barreiras para a ação das cozinhas solidárias, que são a única esperança para tantas pessoas, mas “invisíveis” para O Globo.

Se o “jornalismo investigativo” quisesse investigar mesmo, perceberia que o programa ainda carece de recursos e reformulações para avançar como eixo central que chega a cada viela dos nossos desertos alimentares. Descobriria que as sobrecarregadas organizações populares que se propuseram a participar do programa enfrentam uma enorme burocracia (incluindo uma prestação de contas quase impossível, com exigência de CPFs e fotos dos beneficiados, que são em sua maioria populações em situação de rua), e que quem está cozinhando voluntariamente para matar a fome, não o faz apenas com recursos públicos: são míseros R$ 2,40 por cada refeição (com pagamento de impostos sobre este valor!). O custo, portanto, é completado pelo esforço dessas organizações com seu voluntariado e na busca de doações.

Enquanto o setor privado segue consumindo o orçamento do Estado, as iniciativas solidárias se tornaram alvo dos parlamentares da extrema direita, para a formação de CPIs. Do bolsonarismo, responsável pela volta do Brasil ao mapa da fome, não poderia se esperar nada diferente.

As organizações populares merecem e devem ser reconhecidas. São elas que têm construído as soluções e propostas para os problemas do Brasil. É no cotidiano de luta que os coletivos juntam seus esforços para combater a fome e as mazelas que sofrem o povo desse país.

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