O Brasil está gerando menos empregos do que há um ano e sua taxa de desemprego passou a subir. Em resumo, o mercado de trabalho do país desacelerou. E isso tem a ver com a alta da taxa básica de juros da economia nacional, a Selic.
Nesta quinta-feira (27), o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) divulgou a taxa de desemprego no país no trimestre encerrado em janeiro: 6,5%. Ela é maior do que a taxa registrada no trimestre encerrado em dezembro (6,2%) e do que a verificada até novembro (6,1%).
A taxa de novembro, aliás, tinha sido a mais baixa já registrada na história do IBGE, que apura o dado desde 2012. Foi alcançada após uma série de oito quedas consecutivas do índice. Antes do aumento atual, o desemprego no Brasil havia subido pela última vez entre os trimestres encerrados em fevereiro e março de 2024.
Já na quarta-feira (26), o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que reforçam a piora do cenário. A economia gerou 137 mil empregos em janeiro. No mesmo mês do ano passado, porém, tinham sido 173 mil – queda de mais de 20%.
Ao apresentar esses dados, o ministro Luiz Marinho (PT), culpou os juros. “Acredito que [a redução do ritmo da geração de emprego] é um efeito do aumento de juros”, disse ele. “A alta inibe o investimento e estrangula o orçamento público.”
Fator Selic
A taxa Selic é uma referência para a economia. É também o principal instrumento do Banco Central (BC) para controlar a inflação. Quando ela sobe, empréstimos e financiamentos tendem a ficar mais caros. Isso desincentiva compras e investimentos, o que contém a inflação. Em compensação, o crescimento econômico tende a ser prejudicado.
A Selic está em alta no Brasil desde setembro do ano passado. Naquela época, ela estava em 10,5% ao ano. Essa alta se intensificou em dezembro. Hoje, a Selic está em 13,25%. Segundo o BC, ela deve subir novamente em março.
O economista Weslley Cantelmo, presidente do Instituto Economias e Planejamento, diz que é evidente o impacto dessa alta no mercado de trabalho no Brasil. Segundo ele, com a Selic em alta, empresários deixam de investir já apostando numa desaceleração da economia. Assim, projetos não saem do papel e os empregos que eles gerariam não surgem.
José Luis Oreiro, economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), reforça esse efeito. Ele ressaltou que, no último trimestre, o total de pessoas ocupadas no Brasil recuou 0,6% – são 641 mil pessoas a menos trabalhando.
Para ele, esse efeito deve se tornar mais contundente no futuro. “O aumento mais forte de juros começou em dezembro. Isso só terá impacto em meados de 2025”, explicou. “Mas o indicador deste trimestre já mostra que o mercado de trabalho tende a piorar pelos efeitos da política monetária mais contracionista.”
“O emprego é menos elástico, ou seja, ele demora mais para reagir à queda da atividade econômica”, confirmou a economista Juliane Furno, e professora de economia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). “Assim, diferentemente dos demais setores, que já apresentam taxa negativa, a geração de emprego apenas desacelerou. Mas já é um indicador importante, interrompendo uma trajetória positiva.”
Outros fatores
Pedro Faria, economista e doutor em história, acrescenta outro fator à equação da piora do mercado de trabalho. Segundo ele, principalmente em 2023, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gastou mais para sanar problemas deixados pelo seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL). O “impulso fiscal”, disse ele, foi reduzido com o passar do tempo. A atividade econômica desacelerou.
“Não acho que a Selic é a única culpada”, disse. “O governo passou a gastar menos com precatórios, por exemplo. Com a diminuição do impulso fiscal, há uma desaceleração.”
Miguel de Oliveira, economista e diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), disse que a desconfiança de agentes de mercado com os rumos do Executivo também atrapalha a economia.
“Há um descontentamento com as ações do governo. Há gente que vê o governo um pouco perdido”, disse ele. “Isso tem reflexos para o ambiente econômico. Fica mais difícil arrumar emprego e a renda do trabalhador tende a cair.”
Saldo é bom
Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), reconheceu os sinais de desaceleração, mas lembrou que o cenário ainda é positivo, com desemprego baixo e continuidade da geração de postos de trabalho.
“É natural que se vai reduzir a geração de novos empregos porque o país se aproxima de uma situação de pleno emprego. No limite, chega uma hora que você não vai ter mais como criar emprego”, explicou ele.
Weiss lembrou ainda que, no início do ano, sazonalmente, há uma série de demissões de trabalhadores temporários admitidos para o final do ano anterior. Para ele, portanto, mais importante que a elevação recente da taxa de desemprego, é a queda anual do índice.
No trimestre encerrado em janeiro de 2024, o desemprego era de 7,6%, ou seja, 1,1 ponto percentual acima do atual. A atual taxa de desemprego, apesar de mais alta do que a do final do ano passado, é a menor da história para um mês de janeiro.