A premiação do Oscar 2025 acontece no próximo domingo (2), em Los Angeles, nos Estados Unidos, e neste ano gera muita expectativa e ansiedade nos brasileiros devido ao sucesso do filme Ainda estou aqui, dirigido por Walter Salles.
O longa já levou alguns prêmios internacionais, assim como a atriz Fernanda Torres, vencedora do Globo de Ouro, e aparece em três categorias do mais importante prêmio do cinema no mundo.
O filme que conta a história da família do deputado cassado Rubens Paiva durante a ditadura militar (1964-1985) pode levar a estatueta de Melhor Filme e Melhor Filme Internacional. Torres, que interpretou Eunice Paiva, esposa de Rubens, concorre como Melhor Atriz pela aclamada atuação.
A disputa é acirrada, principalmente na categoria de Melhor Filme. Ainda assim, segundo Elzemann Neves, roteirista, dramaturgo e diretor de cinema, o longa brasileiro deve levar a melhor em pelo menos uma das categorias. Ele, que também é coordenador dos cursos de roteiro e do Filmworks, da Academia Internacional de Cinema (AIC), ressalta que o favoritismo de Ainda estou aqui é apontado por muitos.
“Tem uma coisa que geral está comentando. Pelo menos teve uma publicação da Variety, que é uma revista norte-americana bastante respeitada, e eles acreditam muito que Ainda estou aqui deve levar a premiação de Melhor Filme Internacional. Claro que a gente tem sempre aquele monstro, aquele fantasma de Emilia Pérez [filme dirigido pelo francês Jacques Audiard] atrás da gente, que também ganhou um monte de prêmios e tem seduzido no sentido cinematográfico da palavra, obviamente, alguns votantes, mas, parece que as apostas para o filme internacional são todas com a gente”, diz animado.
Em outras premiações internacionais, Ainda estou aqui já conseguiu desbancar Emilia Pérez. Como no Gold Derby, de um site estadunidense, que já serve de termômetro para a temporada de premiações. Para Elzemann, o filme brasileiro tem uma qualidade “extraordinária”.
“A gente ultrapassou mais 5 milhões de espectadores aqui no Brasil, muitos cineastas e pessoas do cinema, diretores, atores, fazendo questão de parabenizar a Fernanda Torres, Walter Salles. O critério número um é a qualidade do filme em si. A temática, a forma como ele aborda tudo com muito afeto, uma afetividade muito grande na apresentação dessa família. A gente se conecta com eles muito facilmente. E isso eu acho que é um dos grandes ganhos do filme, como a gente consegue chegar junto, chegar próximo dessa família, desse universo, e quando o marido é retirado dessa família, levado pela ditadura, a gente sente essa perda.”
“É um ganho muito especial do filme a forma como ele faz com que a gente se conecte com essas pessoas e entenda – especialmente para quem não entende exatamente o que foi a ditadura – o horror que é a perda de um ente querido e do quanto uma família é atravessada pelos horrores desse tipo de regime”, reflete o diretor de cinema.
O coordenador de cursos na AIC acrescenta que, embora Emilia Pérez esteja no páreo com o filme brasileiro, acabou perdendo muita força.
“É um filme que perdeu muita força pela quantidade de problemas, de polêmicas que gerou. A gente tem desde algumas falas muito complicadas ditas pela atriz do filme e também pelo diretor do filme, Jacques Audiard, que chegou a fazer falas sobre o espanhol e que é uma língua de pobres e migrantes. Ou seja, um completo equívoco na abordagem de tudo isso. Então, acho que o Emilia Pérez é um fantasma pela história que ele tem de premiação, mas ele perdeu muita força também decorrente da quantidade de problemas e problemas do filme em si. [Como também] na abordagem de uns temas fundamentais no filme, como o retrato que ele faz do México, de mexicanos, sem que haja atores mexicanos. Tem muitas questões”, explica.
A totalmente premiada Fernanda Torres
Elzemann também comenta a expectativa em torno de mais uma possível estatueta para Fernanda Torres. Mas essa disputa pode ser mais difícil devido à concorrência de outras ótimas atrizes, como Demi Moore, que venceu também o Globo de Ouro, mas na categoria Melhor Atriz de Comédia ou Musical, pela personagem interpretada em A substância.
“Eu acho que a Fernanda Torres conseguiu ir muito além dessa interpretação da Eunice. Ela conseguiu sair das telas e seduzir o mundo inteiro. É muito gostoso de ver como a Fernanda Torres abraçou o mundo e o mundo abraçou-a de uma forma incrível, pelo talento, pelo carisma, pela espontaneidade.”
“A Demi Moore tem uma história muito interessante. No histórico dela, mesmo em Hollywood, ela é uma atriz muito querida, que faz filmes desde muito jovem na indústria e nunca teve esse reconhecimento. E, de repente, ela ressurge com essa obra, esse lugar – é quase a jornada do herói, em que você precisa ir ao fundo do poço para ressurgir com essa força que é esse filme A substância, com essa força criativa ainda por cima.
“Então eu acho que é difícil concorrer com esse histórico, porque a gente sabe que uma premiação como Oscar vai muito além da boa atuação, vai muito além da qualidade, envolve muitas coisas, como, por exemplo, a própria campanha que você faz, a quantidade de conteúdo gerado. É uma premiação da indústria norte-americana. Nesse sentido, eu acho a Demi Moore está alguns passos à frente da Fernanda Torres. Tem uma coisa muito legal porque a Variety diz que quem deveria ganhar, por exemplo, Melhor Atriz é a Fernanda Torres, embora quem deve ganhar é a Demi Moore”, prossegue.
A entrevista completa está disponível na edição desta sexta-feira (28) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.