O anúncio da indicação de Gleisi Hoffmann à Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência da República indica, para cientistas políticos ouvidos pelo Brasil de Fato, o desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de dar uma cara mais política ao seu governo, com aceno para sua base eleitoral fiel.
“Esse cargo, da Secretaria de Relações Institucionais, é um cargo estratégico, porque diz respeito à composição de uma coalizão de governo. A coalizão é feita com outros partidos para além do PT. E são esses outros partidos que cobiçavam esse posto para capitanear essa articulação da coalizão”, afirma a cientista política Mayra Goulart. “Ao manter a Gleisi nessa posição, o presidente Lula passa uma indicação de que o PT vai continuar sendo o grande articulador da coalizão e vai continuar ditando seus rumos”, avalia.
Para ela, esse cenário abre brechas para uma contestação dos outros membros da frente. “Além de ter reafirmado Alexandre Padilha na cabeça de um dos principais ministérios, que é a Saúde, que era cobiçado pelo centrão, ele mantém essa centralidade da coalizão no Partido dos Trabalhadores.”
Para Lincoln Telhado, mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB), o cálculo já mostra o caminho traçado pelo presidente para o período eleitoral. “Eu entendo que esse movimento tem como objetivo fortalecer o núcleo duro petista, já pensando para um momento eleitoral”, diz.
“A gente tem reparado que o presidente Lula, nos seus posicionamentos e nas suas participações públicas, já tem mudado o discurso e levantado bandeiras das suas políticas sociais, das políticas educacionais. É claramente um esforço de já tentar acender esse momento eleitoral”, acredita Telhado. “Então, primeiro, o presidente se aproxima do núcleo duro e visa mobilizar mais uma vez a sua base petista, trazendo uma pessoa que tem uma grande interlocução. A Gleisi foi presidente do PT nos últimos anos e tem uma interlocução muito boa com os movimentos sociais e com a base petista.”
O cientista político Cláudio André de Souza vai por linha semelhante. “Nesse momento de crise de popularidade do presidente Lula, a chegada de Gleisi dá um caráter mais político ao Palácio do Planalto”, diz.
Souza, que é professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), aponta também que existe uma relação da chegada de Gleisi com a demissão de Nísia Trindade da pasta da Saúde. “Isso resolve, na minha avaliação, uma leitura que está que está presente no Planalto e que corre nos bastidores, de que o Ministério da Saúde é estratégico para a imagem do governo”, afirma. “Por isso que ele opta pela saída de uma figura mais técnica, como a ex-ministra Nísia Trindade, e escolhe exatamente Alexandre Padilha, para que tenha um nome mais de peso da política, talvez para que haja mais entregas que possam impactar a percepção das pessoas sobre o desempenho do presidente Lula.”
Mayra Goulart reforça a importância da indicação de uma mulher para esse cargo. “Com a saída da Nísia, o governo perdeu a representação feminina e agora recompôs. Diferentemente do que aconteceu com a ministra Ana Moser, que não foi substituída por uma mulher”, recorda.
Lincoln Telhado avalia ainda que a escolha de Gleisi indica que, na avaliação do próprio governo, as relações institucionais estão equacionadas e que o momento é de diálogo com a base e com a população. “Está cada vez mais claro que a interlocução institucional não é um problema tão premente no governo. Tem mais problemas olhando para a comunicação pública ou comunicação junto ao eleitorado do que uma comunicação institucional. Se olharmos em termos de resultado, o governo conseguiu aprovar medidas. Óbvio que não aprovou o ideal que o governo esperava, mas aprovou a reforma tributária, fez um ajuste fiscal, está propondo políticas educacionais, como o programa Pé-de-Meia, permitindo que o governo levante bandeiras de efeito, que estão propondo políticas para o país.”