A Frente Polisário comemorou o 49º aniversário da República Árabe Saaraui Democrática (RASD) na noite de quinta-feira (27/2), em Brasília (DF). Representante do movimento político no Brasil, o diplomata Ahamed Mulay Ali destacou que a Frente Polisário preencheu o “vazio jurídico” deixado pela Espanha ao sair do território saaraui em 1976.
“O último soldado espanhol deixou o território saaraui, e foi a Frente Polisário quem preencheu o vazio jurídico que a Espanha deixou, com a proclamação da RASD”, destacou.
Marcado pela colonização, o território do Saara Ocidental foi dominado pela Espanha a partir de 1884. A resistência saaraui se estabelece em seguida como resposta ao processo colonizatório. Em 1950, o país europeu deixa de considerar o território africano como uma colônia, transformando-a na 53ª província espanhola.
Após a morte do ditador espanhol Francisco Franco, em 1975, o país europeu assinou um acordo de independência, dividindo a administração do Saara Ocidental entre Mauritânia e Marrocos. Em outubro daquele ano, a Corte Internacional de Justiça (CJJ) sentenciou a ausência de lastro legal para a decisão espanhola.
A Espanha se retirou do território em 1976, iniciando um conflito da resistência saaraui contra Marrocos e Mauritânia. Nesse momento, a Frente Polisário funda a RASD na cidade de Bir Lehlou e desde então defende sua autodeterminação.
O evento de comemoração do 49º aniversário foi realizado na sede da Central Única dos Trabalhadores do Distrito Federal (CUT-DF), e contou com a presença dos representantes diplomáticos Abdelaziz Benali Cherif, embaixador da Argélia, Elisa Jarrin, primeira secretária da embaixada do Equador, e a conselheira política da embaixada de Cuba, Idalmis Brooks.
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Também estiveram presentes a deputada federal Erika Kokay (PT-DF), a coordenadora, no DF, do Centro Brasileiro de Solidariedade Aos Povos e Luta Pela Paz (Cebrapaz) Luiza Calvette, o jornalista Beto Almeida, representando a União das Nações Sul-Americana (Unasul), e o vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal) Sayid Marcos Tenório.
Na ocasião, o presidente da CUT-DF Rodrigo Rodrigues recebeu uma menção honrosa de reconhecimento pela contribuição nas atividades de solidariedade com o povo saaraui.
Segundo Mulay, o povo saaraui vive uma das fases mais cruciais da sua história. Ele comparou a história e a luta de seu povo com a do povo palestino. “Nossos dois povos enfrentam dois colonialistas gêmeos, Marrocos e Israel, que usam os mesmos métodos contra nós”.
O diplomata afirmou que, por esse motivo, para ele, o posicionamento do presidente brasileiro Luis Inácio Lula da Silva (PT) em relação ao povo palestino é também uma defesa do povo saaraui. “Acreditamos que é dever e obrigação do governo brasileiro dar um passo a mais e conceder este reconhecimento diplomático”, declarou em discurso às e aos convidados.
“É fundamental que o governo brasileiro, que se coloca como um governo em defesa da democracia, em defesa da autonomia e da determinação dos povos, contra as guerras, se posicione a favor desse reconhecimento do estado do Saara Ocidental”, defendeu Luiza Calvette, da Cebrapaz.
Para o palestino brasileiro Marcos Tenório, da Ibraspal, o ato desta quinta “carrega várias simbologias”: a possibilidade de que “povos oprimidos” têm de se libertar, a possibilidade de estabelecer e organizar um Estado pacífico “mesmo sob agruras do deserto” e a possibilidade da resistência ser vitoriosa contra o “opressor”.
O Brasil é um dos três países da América do Sul que não reconhecem a soberania da RASD, ao lado da Argentina e do Chile. Por esse motivo, o Itamaraty não mantém relações diplomáticas com o Saara Ocidental, mas reconhece a Frente Polisário como o único e legítimo representante do povo saaraui.
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Cuba, por outro lado, aliado desse povo, envia médicos e professores e mantém projetos de educação no território africano, como a escola Simon Bolívar, em Smara, que é mantida desde 2011 em conjunto com a Venezuela.
“É normal você encontrar médicos e professores cubanos nos acampamentos saarauis, morando nas mesmas condições que o povo local”, conta a conselheira política cubana Idalmis Brooks.
Segundo ela, há um ponto em comum entre o povo do Saara Ocidental e o da ilha latino-americana: é a luta “contra o imperialismo e contra todas as formas de dominação”.
“Desde o início, o povo cubano está junto com o povo saaraui”, afirmou, lembrando que o governo socialista apoia e respalda a autodeterminação do povo saaraui e a proclamação do Estado.
Cuba integra, ao lado de 28 países, o Comitê de Descolonização da ONU, que faz recomendações sobre o tema e revisa anualmente a lista de Territórios não autônomos listados – da qual o Saara Ocidental faz parte. Para Brooks, trata-se de uma questão de reparação histórica.
O Saara Ocidental é um território desértico de 266 mil km² ao norte da África, dos quais dois terços, incluindo a parte banhada pela Costa Atlântica, são controlados pelo Marrocos. Um muro de 2.700 km de extensão, chamado de Muro da Vergonha, delimita a porção governada pela Frente Polisário, representando o povo saaraui.
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