Na noite deste domingo (2), a Escola de Samba Unidos da Viradouro entrará no Sambódromo Marquês de Sapucaí exaltando parte da história de Pernambuco. Usando muito vermelho, carregando sombrinhas de Frevo e outros elementos da cultura pernambucana, a tricampeã do Carnaval carioca fará um desfile dedicado a Malunginho, homem afro-indígena que liderou o Quilombo do Catucá, um dos maiores já relatados. O desfile está previsto para a meia-noite e meia (0h30), do domingo para a segunda-feira.
Malunguinho foi um afro-indígena que liderou o Quilombo do Catucá no início dos anos 1800. Seu comando o tornou referência na luta por liberdade do povo negro e indígena brasileiros, com seu espírito sendo celebrado até hoje em cerimônias da Umbanda, Jurema Sagrada, Toré e Catimbó na região Nordeste. Apontado como o “dono das chaves que abrem as senzalas”, Malunguinho é associado à imagem do orixá Exú. O enredo da Viradouro o apresenta como “o pavor contra a tirania”.
Com o título Malunguinho, o mensageiro de três mundos, a escola de samba cantará aos “Reis Malunguinho, encarnado; pernambucano mensageiro bravio; o rei da mata que mata quem mata o Brasil”. Na etapa inicial de estudo para elaborar o conceito do desfile, lideranças da Viradouro visitaram o Recife, em março de 2024, para se reunir com lideranças negras e pesquisadores do tema.
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Um nome central foi o historiador e professor Marcus Carvalho, vinculado ao departamento de História da UFPE. Ele é a pessoa que encontrou os documentos que registram a existência dos líderes do Quilombo do Catucá, entre os quais está Malunguinho. “Notei que, quando chegou ali em 1800, começou a aparecer na documentação o nome de um líder, Malunguinho – e fui atrás”, disse ele em entrevista a Eugênia Bezerra, do Portal UFPE.
Carvalho desenvolveu muitos estudos sobre Malunguinho e o Catucá. Sobre o nome do líder, o pesquisador afirma que “a palavra malungo apareceu em texto de língua portuguesa pela primeira vez através de um inglês, Henry Koster. Depois, vi que essa palavra também era utilizada por pessoas levadas do Congo para a Jamaica e Haiti. Havia vários estudos sobre isso”, lembra Marcus Carvalho. Ele estará num grupo de pesquisadores, juremeiros e lideranças de movimentos negros de Pernambuco que estarão no desfile da Viradouro.
O Quilombo do Catucá existia dentro de uma mata de mesmo nome, que cobria uma área que vai do bairro de Dois Irmãos, na zona norte do Recife, até o município de Goiana, na Zona da Mata norte do estado, próxima à fronteira com a Paraíba. O principal povoado do quilombo ficava numa área que hoje estão os bairros de Paratibe (Paulista) e Curado 3 (Recife).
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