O Ministério de Relações Exteriores da África do Sul acusou Israel de utilizar “a fome como arma de guerra” em Gaza, em comunicado emitido nesta quarta-feira (5) sobre o bloqueio à ajuda humanitária imposto pelo exército israelense desde domingo (2).
“Impedir a entrada de alimentos em Gaza é a continuação do uso da fome como arma de guerra por Israel”, afirmou a chancelaria sul-africana, que apresentou uma queixa de genocídio contra o Estado de Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ).
Um frágil cessar-fogo desde janeiro permitiu que a ajuda humanitária chegasse a Gaza antes de Israel anunciar no domingo que bloquearia as entregas até que o Hamas concordasse com as condições para uma extensão da trégua.
“O povo de Gaza está passando por um sofrimento incomensurável e precisa urgentemente de comida, abrigo e suprimentos médicos”, disse o Ministério das Relações Exteriores. “A África do Sul apela à comunidade internacional para que Israel seja responsabilizado”, acrescentou.
Israel afirmou que quer estender a primeira fase do cessar-fogo até meados de abril. Já o Hamas insiste em uma transição para a segunda fase do acordo, que deve levar ao fim permanente da guerra.
A África do Sul apresentou uma ação na CIJ em dezembro, argumentando que a guerra em Gaza viola a Convenção das Nações Unidas para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio de 1948, acusação que Israel nega.
Vários países já demonstraram apoio ao processo iniciado pelo país sul-africano, incluindo Espanha, Bolívia, Colômbia, México, Turquia e Brasil.
‘Missão contra o Hamas ainda não acabou’
O novo comandante do Estado-maior de Israel, o tenente-general Eyal Zamir, afirmou que a missão do Exército israelense contra o Hamas em Gaza “ainda não terminou”, ao assumir o cargo nesta quarta, momento em que a segunda fase do acordo de cessar-fogo permanece em dúvida.
“Hoje, aceito o comando do exército com modéstia e humildade”, declarou Zamir. “É um momento histórico. O Hamas sofreu um golpe duro, mas ainda não foi vencido, então a missão ainda não terminou”, declarou. “A missão que recebi é clara: levar a IDF [exército israelense] à vitória”, acrescentou.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse ao novo comandante do Exército que o país está “determinado” a alcançar a vitória na guerra de várias frentes. “Você tem uma tremenda responsabilidade sobre seus ombros. Os resultados da guerra terão impacto em várias gerações, e estamos determinados a alcançar […] a vitória”, disse Netanyahu na cerimônia de posse em Tel Aviv.
Zamir substitui no cargo o tenente-general Herzi Halevi, que anunciou sua renúncia há algumas semanas, após reconhecer o fiasco das Forças Armadas durante o ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023.
O exército reconheceu, em uma investigação publicada na semana passada, seu “fracasso completo” naquele dia e admitiu ter sofrido de “excesso de confiança” a respeito dos planos e capacidades militares do movimento palestino.
A resposta israelense em Gaza ao ataque do Hamas matou mais de 48 mil palestinos, além de destruir quase 90% das estruturas do enclave, de acordo com o Ministério da Saúde do território.
Zamir assume o cargo em um momento delicado, quando Israel e o Hamas, apesar dos esforços de mediação do Catar, Egito e Estados Unidos, continuam sem um acordo sobre a forma de concretizar a segunda fase da trégua, em vigor desde 19 de janeiro. Israel anunciou, em meio às divergências, um bloqueio à entrada de ajuda humanitária em Gaza.
O acordo de trégua prevê três fases. Durante a primeira, o Hamas entregou a Israel 33 reféns, oito deles mortos, em troca da libertação de quase 1.800 prisioneiros palestinos.
Anti-Irã
O tenente-general também assumirá as operações na Cisjordânia ocupada, onde o exército israelense mobilizou recentemente tanques pela primeira vez em duas décadas.
Em 2022, Zamir escreveu um artigo para o centro de estudos Washington Institute for Near East Policy no qual defendia uma abordagem mais dura contra o Irã, para impedir que o país desenvolva armas nucleares. No texto, ele chegou a pedir “uma ação ofensiva” para garantir o sucesso.
Sua posição está alinhada com a de Netanyahu, que recentemente declarou que Israel quer “concluir o trabalho contra o eixo de terror do Irã”.
*Com Middle East Monitor e AFP