O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu um ultimato, nesta quarta-feira (5), para que os líderes do Hamas saiam de Gaza e exigiu que o grupo islamista palestino liberte os prisioneiros israelenses.
“Estou enviando a Israel tudo o que se necessita para terminar o trabalho, nem um único membro do Hamas estará a salvo se não fizerem o que eu digo”, escreveu o republicano em sua rede Truth Social, se referindo ao apoio militar dos EUA ao genocídio promovido por Israel em Gaza, que já deixou mais de 45 mil mortos em território palestino, segundo o Hamas. “Este é seu último aviso! Para os dirigentes, agora é a hora de sair de Gaza, enquanto ainda têm oportunidade.”
“Libertem todos os reféns agora, não depois, e devolvam imediatamente todos os corpos das pessoas que vocês assassinaram, ou ACABOU para vocês”, afirmou o mandário, referindo-se também aos restos mortais dos prisioneiros em posse do Hamas. “Somente pessoas doentes e perversas mantêm corpos, e vocês são doentes e perversos!”
Logo depois, Trump estendeu as ameaças ao Hamas à toda a população palestina de Gaza, afirmando que estão “mortos” se retiverem os prisioneiros israelenses.
“Para a população de Gaza: um lindo futuro os espera, mas não se retiverem os reféns. Se o fizerem, estão MORTOS!”, escreveu o republicano em seu perfil.
Contato direto com o Hamas
O governo estadunidense manteve contatos diretos com o Hamas, em acordo com Israel, que advertiu nesta quarta-feira (5) que seus esforços militares para derrotar o movimento islamista palestino em Gaza não terminaram.
Essa postura rompe com a antiga política dos EUA de não manterem um diálogo direto com grupos que considera terroristas, como é o caso do Hamas.
Perguntada por essas conversas, reveladas pelo site Axios, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, respondeu que o enviado especial dos Estados Unidos, Adam Boehler, tem “autoridade para falar com qualquer um”.
“Israel foi consultado sobre esse assunto”, acrescentou, sem dar detalhes sobre o conteúdo das reuniões e disse que “há vidas de americanos em jogo”.
“Durante as consultas com os Estados Unidos, Israel expressou sua opinião sobre as conversas diretas com o Hamas”, disse o gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
Responsáveis do Hamas também confirmaram esses encontros.
“Houve vários contatos entre o Hamas e vários canais de comunicação americanos, o último com um enviado dos Estados Unidos, e o assunto dos prisioneiros israelenses que têm cidadania americana, tanto os vivos quanto os falecidos, foi discutido”, declarou um responsável do Hamas que pediu anonimato.
Segundo o Axios, Boehler se reuniu com autoridades do Hamas nas últimas semanas em Doha para tratar da libertação dos cinco prisioneiros americanos que o grupo islamista ainda mantém na Faixa de Gaza, quatro dos quais estão mortos, segundo balanço da AFP.
Nessas conversas também se discutiu a libertação de todos os prisioneiros que permanecem em Gaza, bem como a possibilidade de um cessar-fogo permanente, acrescentou o Axios, com base em duas fontes anônimas próximas das conversas.
Apesar dos contatos, o chefe do Estado-Maior israelense, Eyal Zamir, afirmou nesta quarta-feira que o objetivo de acabar com o Hamas na Faixa de Gaza “ainda não foi concluído”, declarações que colocam em dúvida a trégua no território palestino.
“O Hamas sofreu um golpe duro, mas ainda não foi vencido”, declarou Zamir. Enquanto Netanyahu limitou-se a dizer que está “decidido a ganhar”.
Israel lançou uma ofensiva militar na Faixa de Gaza após um ataque em 7 de outubro de 2023 no sul do país perpetrado por membros do Hamas, no qual morreram 1.218 pessoas.
A ofensiva israelense provocou pelo menos 48.440 mortes em Gaza, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas considerados confiáveis pela ONU. Também gerou um desastre humanitário entre os 2,4 milhões de habitantes do território palestino.
Fome, uma arma de guerra
Em 19 de janeiro entrou em vigor um acordo de trégua alcançado com mediação de Catar, Egito e Estados Unidos.
Esse pacto está na berlinda, já que Israel e Hamas discordam sobre como mantê-lo, uma vez expirada sua primeira fase.
Nessa primeira etapa, o Hamas entregou 33 prisioneiros e Israel libertou cerca de 1.800 palestinos.
Israel também permitiu a entrada de mais ajuda humanitária em Gaza, antes de bloqueá-la no domingo em meio às desavenças com o Hamas sobre o prosseguimento da trégua.
Israel quer que a primeira fase se prolongue até meados de abril e exige a “desmilitarização total” do território palestino, a saída do Hamas de Gaza e a entrega de todos os prisioneiros antes de passar para uma nova fase.
Já o Hamas quer seguir para a segunda etapa, que contempla um cessar-fogo permanente, e insiste em permanecer na Faixa de Gaza, que governa desde 2007.
Uma terceira fase deveria se dedicar à reconstrução de Gaza.
Com sua decisão de bloquear a entrada de ajuda humanitária em Gaza, Israel está “utilizando a fome como arma de guerra”, protestou a África do Sul, que apresentou uma denúncia de genocídio contra Israel perante a Corte Internacional de Justiça.
Berlim, Paris e Londres pediram conjuntamente a Israel que deixe a ajuda entrar, e ao Hamas que liberte os prisioneiros. “O fornecimento de ajuda humanitária não deve […] ser explorado com fins políticos”.
*Com informações da AFP