Ouça a Rádio BdF

Fim de festa

Olá,
Depois de limpar os confetes do carnaval e do Oscar, é hora de encarar 2025.

.Atrasado no bloquinho. O governo só tem dez meses para resolver ainda este ano os problemas que se acumularam até aqui. Na economia, houve demora nas ações para conter a inflação dos alimentos. E as incertezas só aumentaram com as ameaças de Trump de taxar produtos agrícolas, madeira, etanol, aço e alumínio. Neste sentido, as medidas tomadas na quinta-feira (6), que incluem a isenção de tributos de importação sobre alguns produtos, redução do ICMS, incentivos no Plano Safra, além do fortalecimento dos estoques reguladores, são fundamentais para conter a escalada dos preços. A dúvida é qual será a posição do agronegócio em relação a essas medidas e a força do governo para sustentá-las. No plano político, Lula escalou Gleisi Hoffmann para a estratégica posição de ministra das Relações Institucionais, cuja missão é retomar a popularidade e garantir o projeto de reeleição. A dúvida é se Gleise, que leva na testa a estrela do PT, terá a malemolência exigida para negociar cargos, emendas e palanques com o centrão, ora cedendo, ora esticando a corda, sem jamais rompê-la. Outra dúvida é se ela saberá conviver em paz com Haddad. Até porque os projetos de Haddad dependerão das negociações de Gleisi para serem aprovados no Congresso, especialmente a conclusão da reforma tributária e a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda. Esta última, ao lado da proposta de extinção da escala 6×1 são as apostas da bancada do PT este ano para recuperar a popularidade. Mas, por ora, o Congresso segue quase parado, e nem a Lei Orçamentária de 2025 foi aprovada. Isso porque o governo não resolveu o problema de como contemplar a base aliada. O centrão espera “pra ontem” que novas peças sejam mexidas dentro do governo, mas Lula parece não ter pressa. O único alívio do centrão foi o acordo alcançado com o STF que destravou a maioria das emendas. Porém, uma Câmara sob nova direção bagunçou os acordos feitos por Arthur Lira na distribuição das presidências de comissões, atrasando o início dos trabalhos. O principal impasse é que o PL quer abocanhar a CCJ e a Comissão de Relações Exteriores, o que entravaria a tramitação dos projetos do governo no Congresso e serviria de vitrine para o bolsonarismo.
 
 
.Para que não se esqueça. Mesmo que a cobertura pré-Oscar e a torcida tenham enfatizado mais o talento de Fernanda Torres do que os méritos do enredo, não há como negar os efeitos políticos do primeiro Oscar conquistado pelo Brasil. A história real de um desaparecido político obviamente exclui a turma da direita das comemorações, inclusive das congratulações protocolares, como o silencioso caso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Entre os evangélicos, o filme furou a bolha e lembrou os protestantes que eles também enfrentaram a ditadura. O filme impulsionou ainda homenagens, como a do prefeito do Rio, Eduardo Paes, que quer transformar a antiga casa dos Paiva em um centro cultural e a proposta na Assembleia Paulista de renomear a rodovia Castello Branco como Eunice Paiva. Já Vera Paiva, assim como Walter Salles em seu discurso, quer que o filme provoque reflexões atuais e questione movimentos neonazistas e as posições de Donald Trump, inclusive sobre a faixa de Gaza. E enquanto Luis Nassif espera que a conquista cinematográfica retome o orgulho nacional em direção a um projeto político transformador, as centrais sindicais lembram que, para isso, é preciso fortalecer a Comissão de Mortos e Desaparecidos, sem a qual a história por detrás do filme não teria sido conhecida. Porém, o maior impacto de “Ainda estou aqui” talvez seja sentido no STF. A comoção pode impulsionar a Corte a rever o alcance da Lei da Anistia. Analisando os recursos do MPF sobre as ações penais envolvendo os desaparecimentos de Rubens Paiva e Mario Alves e o assassinato de Helber José Gomes Goulart, cujo corpo ficou desaparecido por 19 anos, o STF decidiu por unanimidade analisar a aplicação da Lei da Anistia para estes casos, ainda sem data para o julgamento. A decisão pode influenciar outros 15 casos, segundo levantamento da Agência Pública, além de provocar cerca de 200 novas ações.

.Ponto Final: nossas recomendações.
 
.‘Fiquei calado por muito tempo’. O militar Valdemar Martins de Oliveira confessa ao Intercept os crimes dos quais participou ou testemunhou na ditadura, incluindo o ocultamento do corpo de Rubens Paiva.
 
.Inimigos entrelaçados. N’A terra é redonda, Claudio Katz analisa a dialética das relações entre Estados Unidos, Rússia e China na era Trump.
 
.México: a receita Obrador-Sheinbaum. Como o governo mexicano driblou o bloqueio da mídia para dialogar com a população. No Outras Palavras.
 
.Futebol e bets: time entra na Justiça contra casas de apostas. Na contramão do futebol atual, o América de Sergipe decidiu enfrentar as casas de apostas. Na Agência Pública.
 
.“O Carnaval aponta o que o Brasil deveria ser, uma solução coletiva”. O historiador Luiz Antônio Simas fala das tensões e resistência em disciplinar o carnaval. Na Gama.
 
.Carnaval: atraso de verbas precariza trabalho em barracões da ‘série b’ do Rio. No Repórter Brasil, as condições precárias das Escolas do grupo de acesso do carnaval carioca.
 
.‘Orfeu da Conceição’. O Conversa Bem Viver, do Brasil de Fato, entrevista o ator, carnavalesco e produtor Haroldo Costa, remanescente da montagem da peça que reuniu Oscar Niemeyer e Vinicius de Moraes.
 
.O impactante documentário sobre ocupações na Cisjordânia que ganhou o Oscar. A BBC analisa as facetas e a repercussão de “No other land”.




Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

Veja mais