Soraya Menezes puxou em 1999 a primeira Parada do Orgulho LGBTQIA+ de BH
Em Belo Horizonte, a força da coletividade, entre as mulheres, fez com que importantes setores, como o meio ambiente, a cultura e os direitos humanos ganhassem outros contornos. Em cada uma dessas áreas da capital mineira, elas fizeram nascer novas ideias, conquistaram espaços, garantiram liberdades, promoveram o desenvolvimento da capital.
Soraya Menezes, por exemplo, em 1999, puxou a primeira Parada do Orgulho LGBTQIA+ da cidade, época em que o preconceito era ainda mais forte e que poucas pessoas da comunidade acreditavam na possibilidade de liberdade.
Apenas 12 pessoas participaram dessa primeira caminhada, em meio a vaias e xingamentos. Mas graças à coragem e a ousadia de Soraya, hoje, essa mesma parada mobiliza mais de 300 mil pessoas na cidade.
“Claro que foi muito difícil, eu enfrentei muito preconceito, inclusive a falta de credibilidade para o evento acontecer. Da própria comunidade dizendo ‘olha, parada só acontece no Rio, em São Paulo’”, conta ela.
Meio ambiente
Em tempos de emergência climática, defender o próprio quintal torna-se uma tarefa muito importante. Pelomenos é isso que se traduz na luta de mulheres organizadas em torno da defesa de uma das únicas áreas verdes remanescentes da Região Norte de Belo Horizonte, com relevante valor hídrico e ecológico, apresentando 20 nascentes, além de fauna e flora ameaçadas de extinção. O território tem ainda uma Mata Atlântica com extensão de aproximadamente 200 mil metros quadrados.
Graças à luta das integrantes do Movimento Salve a Mata do Planalto, a Prefeitura de Belo Horizonte publicou um decreto em que declara a Mata do Planalto como de utilidade pública para fins de desapropriação, o que protege o ambiente. Magali Ferraz Trindade, integrante do grupo, é um dos expoentes dessa conquista.
“Precisamos juntar essas forças, sempre bravamente. Não falamos que os homens não estejam presentes, mas nós somos igual às onças bravas defendendo o seu terreiro. Vemos muitas mulheres no movimento. Eu acho interessante isso. As mulheres são muito fortes para estar unidas umas às outras”, acrescenta.
Cultura
O universo da cultura, na cidade, também ganhou muito com a união de mulheres. Elisa Santana, uma das fundadoras do grupo Zap 18, a Zona de Arte de Periferia, tem uma trajetória de mais de 40 anos como atriz e professora de teatro na capital.
Segundo ela, para as mulheres, esse espaço sempre foi um lugar de transposição das questões morais e da liberdade. Em seus trabalhos, Elisa sempre buscou questionar o estado das coisas, fez do palco também um ambiente político, e ajudou outras pessoas a construírem novas narrativas para suas vidas, uma vez que a sua companhia de teatro focava em regiões periféricas.
“Eu nunca fui uma pessoa muito satisfeita, sempre quis questionar as coisas, entender melhor as coisas”, revela.
Nada teria sido construído sem relações interpessoais e questionamento do estado das coisas, segundo ela.
“Aí entra tudo, entra poder, dinheiro, a mulher, de como que as mulheres estão nesse lugar, a maioria tá sempre sozinha, construindo coisas sozinha, criando filhos sozinha”, destaca.